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Valéry angustiado*

Leio em "Monsieur Teste", livro do genial Paul Valéry relançado, em edição ampliada, no ano de 1946, um ano após a morte do escritor: "Enfastiado de ter razão, de fazer o que tem sucesso, da eficiência dos procedimentos, tentar outra coisa". Na metade do século passado, Valéry ataca, assim, alguns dos valores mais divinizados em nosso século 21: o império da razão, a necessidade do sucesso a qualquer preço, o endeusamento da eficiência e do desempenho. A idolatria da vitória. Não vacila: diz. Não se poupa: expõe-se. Foi também um crítico de grande coragem intelectual. Em "Monsieur Teste", um dos livros mais importantes de Valéry (1871-1945), o filósofo se dedica a pensar o pensamento. Seu objeto não é o mundo, não está interessado em refletir a respeito das coisas a seu redor. Interessa-se, apenas, por sua própria maneira de pensar. Na edição ampliada que tenho nas mãos, estão incluídos fragmentos e anotações que Valéry pretendia acrescentar a seu

Migrante na linguagem*

“Eis como meu gosto pessoal, ligado à finitude dos prazeres materiais, adquire uma dimensão infinita, imaterial, espiritual.” José Gil (A imagem-nua e as pequenas percepções) Ainda existe o jamais ouvido, o nunca lido, aquele que nunca foi trilhado pelos olhos? Há! O que vive é o que já está prestes ao vivido. Depois é tudo passado. Pois, o que o corpo quer é só mesmo mostrar ao Outro o que a ele não lhe pertence. O desejo de pertencimento deixa de ser o melhor, o que vive do outro lado do rio é que se quer. A meu ver, só para ser manter no espaço do inaudito, o que quero primeiro é ter este pertencimento. Por dentro, até o fundo de todas as cores, o que o olho alcança não é limite para o sentir. A letra tem sua tradução. O purista que me perdoa, ele só quer ser inaudito para dificultar o olhar do que possa deslegitimá-lo.  Esse é só um mais tradutor seco, não é um transcriador. Precisamos de quem possa ler ao mundo toda a produção, que possa ir além de sua fronteira

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O estilo é o modo de formar, pessoal, irrepetível, característico; a marca reconhecível que a pessoa deixa de si na obra: e coincide com o modo como a obra é formada. A pessoa forma-se, portanto, na obra: compreender a obra é possuir a pessoa do criador feita objeto físico" "(...) organiza de um modo cuja característica é precisamente a possibilidade de se apresentar sempre completo sob mil pontos de vista" "(...) e cada abordagem é um modo de possuir a obra, de a ver inteira e, no entanto, sempre passível de ser percorrida por novos pontos de vista" "(...) a idade média não é uma ilha histórica, mas uma dimensão do espírito" "(...) mas ao afirmar que a simplicidade poética, tal como tinha sido entendida até então, parecia estar morta, esclarecia afinal com extremo vigor que a poesia se tinha simplesmente transformado, que estava a despontar uma nova ideia de arte; deixando entender que a arte se situa para além destas

Letras ao vento*

Vai, folha de minha vida, vai que o verão não te conhece, melancólica estação passada. Voem, folhas de anos verdes, que o tempo me quer mais tempo e não me descreveis mais. Mas as dou para o vento, quem sabe achadas pelos meninos nas praias desertas sejam motivo de curiosidade, pois para os adultos, desdém. De que adiantam letras escritas num mundo de objetos elétricos que amainam tudo no ramo das sensações, se ao coração ninguém quer chegar-se. *Vania Dantas Filósofo Clínica Uberlândia/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) esses grandes continuadores da literatura tradicional em todas as suas possíveis gamas não cabem mais dentro dela, são acossados pela obscura intuição de que alguma coisa excede as suas obras, de que quando vão fechar a mala de cada livro há mangas e fitas penduradas para fora e é impossível encerrar" "(...) se alguém se levanta como Holderlin nos alvores do romantismo ou como Mallarmé em sua decadência, esse alguém segue cegamente a intuição infalível que o encaminha à linguagem poética, não estética, linguagem em que é possível superar as limitações do verbo por via da imagem - essa ideia do verbo que os homens poetas conseguem apreender e formular"  "Os escritores ampliam as possibilidades do idioma, levam-no ao limite, buscando sempre uma expressão mais imediata, mais próxima do fato em si que sentem e querem manifestar, quer dizer, uma expressão não-estética, não-literária, não-idiomática. O escritor é o inimigo potencial - e hoje já at

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