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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

" (...) a rua tem alma!" "A rua continua matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicons futuros" "Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar" "(...) ruas melancólicas, da tristeza dos poetas; ruas de prazer suspeito próximas do centro urbano e como que dele muito afastadas; ruas de paixão romântica, que pedem virgens loiras e luar" "Qual de vós já passou a noite em claro ouvindo o segredo de cada rua ? Qual de vós já sentiu o mistério, o sono, o vício, as ideias de cada bairro ?" "(...) são ruas da

Verdes anos*

Vai, folha de minha vida, vai que o verão não te conhece, melancólica estação passada. Voem, folhas de anos verdes, que o tempo me quer mais tempo e não me descreveis mais. Mas as dou para o vento, quem sabe achadas pelos meninos nas praias desertas sejam motivo de curiosidade, pois para os adultos, desdém. De que adiantam letras escritas num mundo de objetos elétricos que amainam tudo no ramo das sensações, se ao coração ninguém quer chegar-se. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Uberlândia/MG

Vagabundo*

Eu durmo e vivo no sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso, Nas noites de verão namoro estrela; Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amor não tem pobreza. Não invejo ninguém, nem ouço a raiva Nas cavernas do peito, sufocante, Quando à noite na treva em mim se entornam Os reflexos do baile fascinante. Namoro e sou feliz nos meus amores; Sou garboso e rapaz... Uma criada Abrasada de amor por um soneto Já um beijo me deu subindo a escada... Oito dias lá vão que ando cismado Na donzela que ali defronte mora. Ela ao ver-me sorri tão docemente! Desconfio que a moça me namora!... Tenho por meu palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o vento que respiro, Minha mãe

Limites do poeta*

Que faria um poeta Sem certas palavras Sem as palavras certas No tempo certo Que poderia fazer um poeta Proibindo-se certas palavras? Mamãe e papai Me recomendavam: Amar e ser sincero Sempre! "Mas porquê, mamãe e papai, Devo amar e ser sincero Sempre?" Alguém pode fazer ideia Da falta que faz A palavra certa na hora incerta A palavra incerta na hora certa Nunca diga nada para sempre! Alguém sabe o tempo que dura um sempre! Onde é a pousada de um nunca! O que mora dentro de um nada! O que permanece, afinal De tudo isto que muda! *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Um poema não tem moral; a obra de arte não tem moral. Não ensina qualquer lição específica, nem dá qualquer conselho específico. Em um poema há muitas implicações que enriquecem nossa experiência da vida: mas essa experiência tem vários lados e não se espera que precisemos escolher um deles. A natureza da arte é ilustrada por Dylan Thomas, ao confrontar dois aspectos da natureza, ou por Robert Frost, com um sentido de humor macabro, simulando ensinar uma lição que não quer que aprendamos. Trata-se de explorar as alternativas da ação humana sem chegar a uma decisão sobre elas. Nessa indecisão, feliz e repleta de tensões, e somente nisso, a obra de arte difere profundamente da obra científica" "O mesmo poema é lido por várias pessoas, e cada uma delas faz dele o 'seu' poema. Assim funciona a imaginação: cada um precisa reimaginar por si mesmo. Dylan Thomas foi o primeiro a imaginar esse poema, ao criá-lo. No entanto, quem quiser compreendê-lo terá que recri

Ilusão*

“Ouvir meras fábulas talvez não seja o programa favorito de vocês – talvez queiram ouvir A VERDADE. Bom, se é isso que vocês querem, então é melhor procurarem outro lugar – mas juro pela minha vida que não posso dizer exatamente que lugar é esse.”  Paul K. Feyerabend O momento em que começamos a pensar mais e mais sobre o mundo, sobre os mistérios que envolvem um mundo coerente e a incoerência que temos em vivenciá-lo. Todos vivem no mesmo barco, a nau do mundo é a mesma no plano teórico no que concerne ao corpo, na relação do corpo com o mundo. Como proferiu Feyerabend em uma de suas últimas conferências, “Ademais, os cientistas, os senhores da guerra, os esfomeados e os abastados são todos seres humanos”. Existe uma ponte imaginária nesta minha perspectiva, pois, se estou a pensar em português (ironia da reflexão), é a busca cotidiana de conhecer a natureza do mundo. Não há pretensão nisso, a pior arrogância e delimitar o pensamento em uma representação do pensamento ape

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