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Medos*

Algumas coisas me fazem escrever. Outras trancam a minha escrita. Sempre tive medos. Medos de não ser aceito. De não ter aonde morar e dormir. De não ter o que comer e vestir. Tive medos de amar demais, De amar de menos. De não conseguir mais amar. E de não conseguir mais me deixar amar. Do silêncio dos outros. E do olhar, que percebia, era lançado sobre mim. Medo do "não" que não me diziam. E que me chocava, quando de surpresa caía sobre mim. Os nãos que eu me dizia já eram suficientemente excessivos Quando criança , brincava com os presentes que eu não ganhava. Então, entrava dentro de mim mesmo e brincava com as coisinhas que habitavam dentro de mim. E aprendi a brincar com os meus pensamentos. Hoje, ainda, tenho um certo medo do que as pessoas pensam que passa pelos meus pensamentos. Nada maior ou menor, nem melhor ou pior, do que o que passa nos pensamentos de tantos... Evito o máximo os conflitos e confrontos. Detesto brigas ou discussões. Do mesmo jeit

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Trata-se realmente de um trabalho, de um parto, de uma geração lenta do poeta pelo poema do qual é pai" "(...) o poeta é na verdade o assunto do livro, a sua substância e o seu senhor, o seu servidor e o seu tema. E o livro é na verdade o sujeito do poeta, ser falante e conhecedor que escreve no livro sobre o livro" "Citando Edmond Jabès: 'O louco é a vítima da rebelião das palavras'" "Quando se deixa dizer pela palavra poética, a Terra reserva-se sempre fora de toda a proximidade" "Citando Reb Stein: 'Quando criança, ao escrever pela primeira vez o meu nome, tive a consciência de começar um livro'" "Contrariamente ao Ser e ao Livro leibnizianos, a racionalidade do Logos pela qual a nossa escritura é responsável obedece ao princípio da descontinuidade" "A palavra proferida ou inscrita. A letra é sempre roubada. Sempre roubada. Sempre roubada porque sempre aberta. Nunca é própr

A dúvida e sua não existência*

Já faz tempo que penso na sua não existência, não como forma de uma totalidade e, sim no pensar psicológico da coisa. Interessante observar a não existência de algo que na forma de minha escrita, dou vida. Sim, dou vida para imediatamente a tirar. Não quero aqui dizer que essa teoria simplesmente retira de nosso dicionário a palavra “dúvida”. Desejo demonstrar que sua existência, na verdade é um estado de preguiça do homem. Sentir-se na incerteza entre duas saídas é um acomodar-se diante dos fatos. Vejamos o que a filosofia na história tem a nos presentear com conceitos, cito aqui (dicionário de filosofia, Nicola Abbagnano, Martins Fontes, 2003, pág. 296).”. Dúvida, esse termo costuma designar duas coisas diferentes, porém mais ou menos ligadas: 1º um estado subjetivo de incerteza, ou seja, uma crença ou opinião não suficientemente determinada, ou a hesitação em escolher entre a asserção da afirmação e a asserção da negação; 2º uma situação objetiva de indeterminação ou a

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a cultura nunca nos oferece significações absolutamente transparentes, a gênese do sentido nunca está terminada. Aquilo a que chamamos com razão nossa verdade, sempre o contemplamos apenas num contexto de signos que datam o nosso saber" "(...) a palavra intervém sempre sobre um fundo de palavra, nunca é senão uma dobra no imenso tecido da fala" "Muito mais do que um meio, a linguagem é algo como um ser, e é por isso que consegue tão bem tornar alguém presente para nós: a palavra de um amigo no telefone nos dá ele próprio, como se estivesse inteiro nessa maneira de interpelar e de despedir-se, de começar e terminar as frases, de caminhar pelas coisas não ditas. O sentido é o movimento total da palavra, e é por isso que nosso pensamento demora-se na linguagem"  "A linguagem é por si oblíqua e autônoma e, se lhe acontece significar diretamente um pensamento ou uma coisa, trata-se apenas de um poder secundário, derivado da sua vida

Eternidade(s) do Tempo*

            “O tempo é pensado por nós antes das partes do tempo, as relações temporais tornam possíveis os acontecimentos no tempo. É necessário, pois, correlativamente, que o sujeito não esteja situado nele para que ele possa estar presente em intenção tanto no passado como no futuro.” Merleau-Ponty Ou seja, o tempo não é mais um “dado da consciência” e que a consciência torna-se parte do tempo. O tempo ideal é o tempo que se deixa desamarrar do presente. Ele está amarrado no cais, diante do passar dos dias, o presente nunca é o mesmo porque supõe-se um futuro diante do passado que nunca deixará de ter suas marcas na parede da velha casa. Como trilhou Ponty, “Não estamos sempre tão longe de compreender o que podem ser o futuro, o passado, o presente e a passagem de um ao outro?”...Eis o emaranhado do tempo no retorno ao cais. A posição dos barcos na certa não está mais em consonância ao olhar do dia anterior, nem do segundo no passo a passo da rua que vai do cais os barc

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Reconhecer no estranho o que é próprio, familiarizar-se com ele, eis o movimento fundamental do espírito, cujo ser é apenas o retorno a si mesmo a partir do ser diferente. É por isso que toda formação teórica, mesmo o cultivo de idiomas e concepções de mundos estrangeiros, é a mera continuação de um processo de formação, que teve início bem mais cedo" "O que deve ser compreendido não é a literalidade das palavras e seu sentido objetivo, mas também a individualidade de quem fala e, consequentemente, do autor" "Menção à Schleiermacher: que cada individualidade é uma manifestação do viver toal e que, por isso: 'cada qual traz em si um mínimo de cada um dos demais, e isso estimula a adivinhação por comparação consigo mesmo'" "Em princípio, compreender é sempre um mover-se nesse círculo, e por isso é essencial o constante retorno do todo às partes e vice-versa. A isso se acrescenta que esse círculo está sempre se ampliando, já que

O mundo e a poesia*

Ser poeta pode sim significar transformar incontrolavelmente tudo que toca em poesia, seja na alegria ou na dor. Ser poeta implica em ser plural, inclusivo, solidário e ousado, sobretudo, porque todo dia em qualquer momento ou condição persiste o apelo para que todos quantos se possa sensibilizar aprendam cada vez mais a dizer amém sem o acento agudo que o acompanha. Afinal, talvez seja absolutamente por falta de poesia no mundo e em tantas vidas que venha se tornado cada vez mais grave e aguda a carência de amor que impele definitivamente que todos amem de fato. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Poeta. Filósofo Clínico Uberlândia/MG - Porto Alegre/RS

A Música*

A música pra mim tem seduções de oceano! Quantas vezes procuro navegar, Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano, Minha pálida estrela a demandar! O peito saliente, os pulmões distendidos Como o rijo velame d'um navio, Intento desvendar os reinos escondidos Sob o manto da noite escuro e frio; Sinto vibrar em mim todas as comoções D'um navio que sulca o vasto mar; Chuvas temporais, ciclones, convulsões Conseguem a minha alma acalentar. — Mas quando reina a paz, quando a bonança impera, Que desespero horrível me exaspera! *Charles Baudelaire

O coração e a ciranda*

Audácia de pensamentos És o turbilhão da tempestade em alto mar. Vento sem direção certa E troveja. E raios cortam os ares. E Marte, o deus da guerra, Vermelho em fogo de dragão. Decifra-me ou te apaixono: É o que me fazes. E montas ciranda de emoções Pulando em meu coração, Quebrando o piso com o risco de dizer adeus. Enxurrada descendo a serra, Teu ser é maior do que eu imaginava para o meu, que não é pouco. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Uberlândia/MG
"É preciso ainda observar que as definições do fantástico que se encontram na França em escritos recentes, se não são idênticas à nossa, tampouco a contradizem. Alguns exemplo dos textos canônicos: Castex escreve em 'Le Conte fantastique': 'O fantástico... se caracteriza... por uma intromissão brutal do mistério no quadro da vida real'. Louis Vax, em 'L'Art et la Littérature fantastiques': 'A narrativa fantástica... gosta de nos apresentar, habitando o mundo real em que nos achamos, homens como nós, colocados subitamente em presença no inexplicável'. Roger Caillois em 'Au Coeur du fantastique': 'Todo o fantástico é ruptura da ordem estabelecida, irrupção do inadmissível no seio da inalterável legalidade cotidiana'"  "O fantástico leva pois uma vida cheia de perigos, e pode se desvanecer a qualquer instante. Ele antes parece se localizar no limite de dois gêneros, o maravilhoso e o estranho, do que ser um gênero a

Contradição*

Me contradigo Sou um louco Para poucos Sou somente um oco Do meu vazio. Me contradizem Sou o contrário Do que pensam Um fio oposto Do que dizem. Sou a lógica Da minha contradição O contraditório Do meu contrário Sou um otário. Sou um descrente Em minha frente Um anarquista Das minhas conquistas Sou somente pistas. Sou agosto Mês do cachorro louco Sou o vento norte Que desnorteia a mente Ateu, mas crente Confuso , confesso. Sou a soma do que fui Um sonho do que serei Serei o que não sou...!!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Aquilo que choca o filósofo virtuoso, deleita o poeta camaleônico. Não causa dano, por sua complacência, no lado sombrio da coisas, nem por seu gosto, no lado luminoso, já que ambos terminam em especulação" "Um poeta é o menos poético de tudo o que existe, porque lhe falta identidade; continuamente está indo para - e preenchendo - algum outro corpo" "(...) é o homem esse animal que quer permanecer, o artista busca permanência transferindo-se para sua obra, fazendo-se sua própria obra, e atinge-a na medida em que se torna obra" "Se o poeta é sempre 'algum outro', sua poesia tende a ser igualmente 'a partir de outra coisa', a encerrar visões multiformes da realidade na recriação singularíssima da palavra" "Os poetas se compreendem de poema a poema melhor do que em seus encontros pessoais" "Com Antonin Artaud calou na França uma palavra dilacerada que só esteve pela metade do lado dos vivos en

Um dia em Barthes*

“Sem dúvida numa época de minha vida, atravessei uma fase que chamei de fantasia científica.” Roland Barthes Barthes sugere-me “trapacear” para podermos ouvir a língua fora do Poder, mas isso é o que procuro no dia a dia, ou seja, ter as condições ideais de jogar com a linguagem. Ter as possibilidades de controlar aquilo que não podemos jamais atar, a produção individual e os sentidos. O resto é domínio. Mas aqui não estou mais nessa arqueologia. Saber quem domina quem é de menos na reflexão desta manhã, mas de saber o que foi feito dos domínios da razão. Em minha observância teórica e de suas aplicações, percebi que há indícios de um domínio desenfreado pelo culto da ciência, e que outras tentativas de domínio, seja pela espetacularização dos acontecimentos, seja pelas novas mitificações de sentidos vai longe, longe demais. Ainda bem. Como já dizia Cioran, “os caminhos da crueldade são diversos”, preciso de um pouco de complexidade para arejar as ideias. Ainda ontem

O leitor*

Quem pode conhecer esse que o rosto mergulha de si mesmo em outras vidas, que só o folhear das páginas corridas alguma vez atalha a contragosto ? A própria mãe já não veria o seu filho nesse diverso ele que agora, servo da sombra, lê. Presos à hora, como sabermos quanto se perdeu antes que ele soerga o olhar pesado de tudo o que no livro se contém, com olhos, que, doando, contravém o mundo já completo e acabado: como crianças que brincam sozinhas e súbito descobrem algo a esmo; mas o rosto, refeito em suas linhas, nunca mais será o mesmo.   *Rainer Maria Rilke

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