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Poesia reflexiva*

A arte da escrita não é ordinária ou comum na sua essência. Ao contrário, ela é extraordinária devido ao seu poder e singularidade. Escrever é como as nossas digitais porque cada um tem a sua forma e estilo próprio. Pois, cada pessoa escreve de um jeito seu, particular e naturalmente toca mais a uns do que a outros. Há públicos variados, dotados de ouvintes e leitores plurais demais. E sinceramente, não existem universais - existem sim - são singularidades que de algum modo mesmo únicas do início a eternidade, mais dia menos dia se compreendem, se integram, se somam numa união a quatro mãos incapazes de sufocar ou de prender. E talvez, só seja a partir daí que surja caminhos para se tecer novos começos ou ainda, recomeços sempre em prol de outro mundo possível e melhor. Por certo, cada pessoa na qual a escrita transborda ou acontece, o faz ou se deixa fluir seja por inspiração em demasia ou cansaço de opressão; sempre acontece por algum propósito, alguma inquietude. Afinal

Cogito*

eu sou como eu sou pronome pessoal intransferível do homem que iniciei na medida do impossível eu sou como eu sou agora sem grandes segredos dantes sem novos secretos dentes nesta hora eu sou como eu sou presente desferrolhado indecente feito um pedaço de mim eu sou como eu sou vidente e vivo tranquilamente todas as horas do fim. *Torquato Neto

A palavra horizonte*

"Quando se tem algo em mente, tem-se a si mesmo em mente"                                  Ludwig Wittgenstein Talvez sua maior virtude seja retratar o universo de eventos possíveis em cada um. O exercício de seus dons deriva das origens estruturais, da aplicabilidade, do teor discursivo a fundamentar novas vivências. Seu sentido pode ser cura, loucura, alento, desilusão. Ao exibir uma estranha aptidão de transformar a pessoa naquilo que menciona, muitas vezes, ultrapassa o dado literal para traduzir-se. As arquiteturas contraditórias reafirmam os deslizes de reinvenção. Parecem realizar escolhas ao ressoar os movimentos da subjetividade.  Mesmo a competência narrativa não é capaz de aprisionar por inteiro esses desdobramentos no esboço da linguagem. A expressividade de cada pessoa menciona uma concepção de mundo, seu devir transita entre o que é e como reaparece em sua ótica. A força da escritura, ao realizar aquilo que descreve, transforma irrealidade

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Feitiçaria é o mundo onde as palavras têm poder. O feiticeiro fala e a palavra, sem o auxílio das mãos realiza o que diz. Deus diz 'Paraíso', e um jardim de delícias aparece. A bruxa diz 'Sapo!', e o príncipe se transforma em sapo" "O mundo humano é construído com palavras. Como dizem os textos sagrados: 'No princípio de todas as coisas está a palavra...' E, à semelhança da aranha, é dentro do corpo que a palavra é gerada. É ali, no caldeirão mágico do corpo, que se processa a transformação alquímica de palavras em carne" "Cada conclusão faz parar o pensamento. Como nos livros de Agatha Christie: resolvido o crime, nada sobra em que pensar. E não adianta ler o livro de novo. Quando o pensamento aparece assassinado, pode-se ter a certeza de que o criminoso foi uma conclusão" "A etiqueta da ciência. Sua primeira regra é que só devem ser comidas palavras solidamente enraizadas nas coisas. Ao cientista é interdita

Existência invisível*

Quando se davam conta Do lugar onde estavam Já tinham ido embora... Morava alguma coisa Estranha dentro dela Alguma coisa havia Que não era ela Ela queria esquecer Mas não se lembrava Ao certo o que era E isto era terrível ! Ele fechava os olhos Para ver o que não sabia Sentia-se invisível Duvidava da sua existência Uma sensação esquisita De que as pessoas Não o enxergavam E isto era terrível ! *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Noções*

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos. Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos. Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge. Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram. Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a Minha virtude era esta errância por mares contraditórios, e este abandono para além da felicidade e da beleza. Ó meu Deus, isto é a minha alma: qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera... *Cecília Meireles

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