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A palavra dialética*

A rigidez do raciocínio bem estruturado, nos relatos da palavra definida, abriga um dizer de natureza inconformada. Antítese da comunicação inicial, esse teor descompassado, ao ser contradição, prescreve novos rituais para comunicar. As propostas por desmerecê-lo reafirmam sua natureza de transgressão. Seu rumor de não palavra, ao ser dizível, aponta uma estética da desrazão.  Esses relatos interditos na expressividade buscam emancipar as fronteiras discursivas. Sua desconformidade inaugura espaços, oferece ambientes para novos experimentos narrativos. Ao quebrar protocolos emancipa aquilo por vir. A palavra dialética contém em si mesma: afirmação e negação. Um território com cheiro de terra nova se apresenta em cada página.  Na ruptura com aquilo que já foi novidade, se empenha em querer mais. Acolhe as dinâmicas da crise como um anúncio. Sua referência de inspiração são as autogenias precursoras. Ao dizer não a rigidez do discurso completo, bem acabado, sua alte

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) essa estrutura da consciência é muito frequente nos filósofos, ou seja, nos homens que têm um grande hábito de 'pensar sobre o pensamento', como diz Goethe, isto é, que estão profundamente penetrados pelo caráter imaterial do pensamento, que sabem de longa data que ele escapa a todo esforço para representá-lo, defini-lo, cristalizá-lo, e que, por conseguinte, só de modo sóbrio e com alguma repugnância usam comparações e metáforas quando falam dele" "A compreensão é um movimento que nunca se conclui, é a reação do espírito a uma imagem através de outra imagem, e a essa através de outra imagem, e assim por diante, em linha contínua, até o infinito" "Na atitude imaginante, com efeito, encontramo-nos na presença de um objeto que se dá como análogo aos que podem aparecer-nos na percepção" "(...) compreender por que percebemos de maneira diferente daquela com que vemos" "O ato de imaginação, como acabamos de ver

Buscas ou escolhas ?*

O passado é um lugar, nunca uma prisão. Confundir essa condição pode ser doloroso e degradante demais. E a nossa morada deve ser sempre agora, pois no passado não devemos permanecer, mas sim, visitar quantas vezes for preciso, sobretudo, para aprender a perdoar ou superar os desafios propostos na nossa jornada da vida como produto das nossas próprias escolhas. Afinal, podemos e até devemos sempre buscar sermos senhores das nossas escolhas; porquanto das consequências sempre seremos reféns. Musa! *Prof. Dr. Pablo Eugenio mendes Filósofo. Educador. Filósofo Clínico Uberlândia/MG – Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Para Isócrates, para Alcidamas, o lógos também é um ser vivo (zôon) cuja riqueza, vigor, flexibilidade, agilidade são limitados e constrangidos pela rigidez cadavérica do signo escrito" "Mas antes de ser dominado, subjugado pelo kósmos e pela ordem da verdade, o lógos é um ser vivo selvagem, uma animalidade ambígua. Sua força mágica, 'farmacêutica', deve-se a esta ambivalência, e isso explica que ela seja desproporcionada a esse quase nada que é uma fala" "O phármakon está compreendido na estrutura do lógos " "(...) dar nascimento aos outros é uma obrigação que o deus me impõe, procriar é potência da qual me afastou. E lembremo-nos da ambiguidade do phármakon socrático, anxiógeno e tranquilizante: 'Ora, esas dores, minha arte tem a potência de despertá-las ou acalmá-las" "O esperma, a água, a tinta, a pintura, o tingimento perfumado: o phármakon penetra sempre como o líquido, ele se bebe, se absorve, se

Aceite críticas: notas sobre minha tese e o Facebook*

Pouco depois de defender minha tese de doutorado e ver alguns debates enraivecidos no Facebook, acabei refletindo sobre algumas coisas e, na medida em que as ideias surgiram, escrevi postagens avulsas sobre a dificuldade de algumas pessoas de serem criticadas. Dessas postagens, três acabaram se tornando a reflexão que segue, com ligeiras alterações para dar uniformidade ao raciocínio. A experiência de defender minha tese foi, antes de tudo, um exercício de humildade. Por mais que eu aconselhe os meus colegas a ficarem confiantes, uma vez que a maior autoridade no trabalho de pesquisa que fazemos somos nós mesmos, isso não isenta o trabalho de erros que podem ser encontrados pelos avaliadores.  Eles provavelmente não leram tudo o que você leu, na ordem em que leu e com a perspectiva que você interpretou para escrever seu trabalho. Mas eles são os primeiros – em muitos casos, os únicos – receptores de seu trabalho e alguns dos mais atentos que o lerão. Desde sua monografia d

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Todo mundo elevado requer que se tenha nascido para ele; ou melhor, que se tenha sido cultivado para ele: direito à filosofia - no sentido mais amplo - obtém-se apenas em virtude da ascendência, os ancestrais, o 'sangue' decide também aqui. Muitas gerações devem ter trabalhado na gênese do filósofo; cada uma de suas virtudes deve ter sido adquirida, cultivada, transmitida, incorporada, e não apenas o passo e curso ousado, leve e delicado de seus pensamentos, mas sobretudo a disposição para grandes responsabilidades, a elevação de olhares que dominam e olham para baixo, o sentir-se apartado da multidão e seus deveres e virtudes, a afável proteção e defesa do que é incompreendido e caluniado (...)" "Todos os deuses até aqui não foram demônios rebatizados e santificados ?" "(...) todos grandes descobridores no terreno do sublime (...) Com misteriosos acessos a tudo que seduz, atrai, compele, transtorna, inimigos natos da lógica e da linha ret

Ressurreição*

Desta vez Não haveria volta Ela havia decidido Falou de si Para si mesma: - Desta vez, ou vai , ou racha... Rachou seu coração Quebrou a casca E a borboleta saiu Tropeçou Caiu Levantou Quase desaprendera a voar. Ele ainda tentou falar: - Cuidarei da casa Cuidarei do jardim Cuidarei das flores E dos beija flores E das borboletas. Afinal, borboletas Sempre voltam! Ela disse-lhe: - A borboleta sou eu...!!! *José Mayer Filósofo. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"É necessário lembrar que a classificação das vozes humanas - como toda classificação elaborada por uma sociedade - nunca é inocente" "(..) o corpo dispensa o sujeito e a pintura de Réquichot vai, então, ao encontro do que seria a extrema vanguarda: aquela que não é classificável e cujo caráter psicótico a sociedade denuncia, pois que, assim fazendo, pode, pelo menos, nomeá-la" "Ora, é mais u menos o que ocorre na cura analítica: a própria ideia de 'cura', inicialmente muito simples, transforma-se, torna-se distante: a obra, como a cura, é interminável: trata-se, em ambos os casos, menos de obter um resultado do que modificar um problema, isto é, um tema: livrá-lo da finalidade em que se encerra seu início"  "A metáfora é a única maneira de nomear o inominável (transforma-se, então, em catacrese): a cadeia de nomes substitui o nome que falta" "A polissemia desenfreada é o primeiro episódio (iniciático) de uma asc

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