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O abraço e a felicidade*

Pode ser, claro que sim Você me leu confuso Neste seu jeito de me ler. Seus olhos nublados Me viram no côncavo Ou no convexo me viram. E me leram invertido. Pode ser, claro que sim Este seu medo tremido De um grande amor. Pode ser este seu riso Que me fez de casa E feliz por um dia. Pode ser este desespero Caindo no copo vazio De uma saudade. Pode ser este seu cheiro De fruta madura Dos dias finais de outono. Pode ser a pele infantil De uma neblina suave Pedindo um abraço. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A terra é um paraíso, o único que jamais conheceremos. Temos de entender isso no momento em que abrimos os olhos. Não precisamos fazer dela um paraíso - ela é um paraíso. Só temos de nos capacitar para habitar nele" "O sonhador cujos sonhos não sejam utilitários não tem lugar neste mundo. Quem quer que não se preste a ser comprado e vendido, seja no campo das coisas, das ideias, dos princípios, sonhos ou esperanças, acaba excluído. Neste mundo, o poeta é anátema, o pensador, um tolo, o artista é um escapista, o homem de visão, um criminoso" "(...) Sabem coisas com que o cidadão mediano nem sonha. Poderiam nos contar mil jeitos melhores de lidar com a situação do que os que costumamos usar agora"  "Em certos indivíduos, o fato de estarem isolados do mundo tende a produzir um florescimento forçado; eles irradiam força e magnetismo, sua fala é cintilante e estimulante. Têm uma vida sossegada e rica, toda própria, em harmonia

Cabelos de Baudelaire*

Certas cores, cabelos que esvoaçam no tempo, mistura cheiros e sons, açafrão no tilintar do outono, Tinta que borda a pele, marca a alma, o frio se aproxima. Ilumina partes do corpo, o tom certo, é como a luz, Atravessa fendas, melodias espalham, clarão que dança, Como melodia na luz assombradas de pensamento.   Dedico meu tempo a teus cabelos, a poética imortal, Mesmo que não crês no Nada, a cabeleira brilha, O tempo não apaga os versos, o tempo esquece o presente. Como o barco de Debussy, eleva a dor diante da música, Em perdidas matemática antes do sol do meio-dia, Fios voam mar dentro de luz, fonte da vida, os cabelos em direção à margem, Morre no horizonte o que oculta.   *Prof. Dr.Luis Antonio Paim Gomes  Filósofo. Editor. Livre Pensador Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O que, portanto, deve manter-se impronunciado resguarda-se no não dito, abriga-se no velado como o que não se deixa mostrar, é mistério" "Uma compreensão de mundo assim orientada pode surgir de diferentes fontes porque a força expressiva do espírito é ativa de muitas maneiras" "Apreendida em sua verdadeira essência, a linguagem é algo consistente e, a cada instante, transitória. Mesmo a sua preservação na escrita é sempre uma preservação incompleta, mumificada, mas necessária quando se busca tornar perceptível a vida de seu pronunciamento" "A linguagem é, na verdade, o eterno trabalho do espírito de tornar a articulação sonora capaz de exprimir o pensamento. Rigorosa e imediatamente, esta é a definição da fala em cada situação; sem sentido verdadeiro e essencial, apenas a totalidade dessa fala pode ser considerada como linguagem" "(...) o poder suave da simplicidade de um saber escutar" &q

Um sentido pra viver*

A névoa deste amanhecer Não calou o canto do passarinho Nem escondeu os primeiros raios do sol Há no ar um desassossego coletivo Na dúvida em que acreditar Há, porém, um fio de esperança  Se não, não teria sentido o viver Tudo passa... no vir a ser eterno E as flores brotam e o riacho desenha os caminhos até o mar *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Criticar é rasgar novos horizontes de compreensão. Uma crítica enclausurada será fatalmente uma crítica cega, provinciana ou parasitária. O seu entendimento superlativo pressupõe a consciência da sua interdisciplinaridade" "Cada discurso traz consigo a sua lei e o seu horizonte" "A arte é dimensão fundadora do homem. Restará sempre, para além da morte do poema, a dimensão poética da existência" "E em toda operação metodológica há muito mais do que uma operação metodológica. Enganam-se aqueles que, confundindo o método com uma simples técnica mecanizada, não são capazes de perceber na presença condicionada do seu contorno, todo um jogo matizado de representações que com ele estabelece um diálogo criador" "A hermenêutica empreende o percurso inverso da modelização: vive da sua capacidade de abrir-se" "(...) a própria ciência perdeu a tradicional univocidade, passando a estruturar-se por

Opiniões de idiotas cultos e ignorantes*

Embora os conhecimentos humanos sejam fragmentos da totalidade de sua existência, não significa que quem é versado em um conhecimento, possa dar opiniões sobre todo o resto com a mesma convicção. Algumas pessoas reivindicam a especialização em suas áreas devido ao tempo de formação necessário para tal construção de conhecimento para falar sobre seus temas, mas pensam que todos os assuntos que se encontram em “conversas de boteco” possam ser abordadas por todos da mesma maneira. Temas como política e religião são os que mais aparecem nesses pretensos conhecimentos de domínio público. Não se estuda esses fenômenos, porém fala-se como se todos soubessem exatamente o que é.   Além disso, ainda há aqueles que se tornam “especialistas” quando são famosos como atores, youtubers, blogueiros, jornalistas (leitores de tele pronto), músicos, entre outros. Estes são usados com frequência como discurso de autoridade, não pela verdade do que apresentam, mas pela consonância que

Pensar é transgredir*

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.  Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.  Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.  Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"  O problema é que quando menos se

A região singular*

                              A estrutura de pensamento, mesmo quando desmerecida, possui propensões de ação, desenvolvimento. Assim criar, inventar, descobrir versões para decifrar-se no mundo, pode ter um quintal conhecível como ponto de partida. Talvez seja relevante saber mais sobre as estranhezas que vão chegando, seu caráter de anúncio. Uma expressividade realçada no encontro das origens com os desdobramentos do cotidiano, um pouco antes de ser reconhecida, qualifica buscas pelo lugar ponto de partida, de onde as novas palavras pululam a transgredir vocabulários, acrescentando pronúncias, desvendando espaços de aparente invisibilidade. Nessa geografia subjetiva por onde prosperam ensaios, transitam inúmeras vontades ainda sem representação. Um desses lugares onde se antecipa o rumor das ruas.   Nesse chão de imprevisibilidades a pessoa rascunha-se, reaviva interrogações esquecidas, concebe territórios. O processo existencial de cada um, ao escolher seu e

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A subjetividade, de fato, é plural, polifônica, para retomar uma expressão de Mikhail Bakhtine. E ela não conhece nenhuma instância dominante de determinação que guie as outras instâncias segundo uma causalidade unívoca" "(...) é a mutação existencial coletiva que terá a última palavra! Porém os grandes movimentos de subjetivação não tendem necessariamente para um sentido emancipador" "(...) pode-se dizer que a história contemporânea está cada vez mais dominada pelo aumento de reivindicações de singularidade subjetiva" "Universos plásticos insuspeitados" "O melhor é a criação, a invenção de novos Universos de referência; o pior é a mass-midialização embrutecedora, à qual são condenados hoje em dia milhares de indivíduos" "(...) não se trata absolutamente de 'fases', no sentido freudiano, mas de níveis de subjetivação" "O que importa aqui não é unicamente o confronto com uma nova matér

A gleba me transfigura* 

Sinto que sou abelha no seu artesanato. Meus versos tem cheiro de mato, dos bois e dos currais. Eu vivo no terreiro dos sítios e das fazendas primitivas. (...) Minha identificação profunda e amorosa com a terra e com os que nela trabalham. A gleba me transfigura. Dentro da gleba, ouvindo o mugido da vacada, o mééé dos bezerros. O roncar e focinhar dos porcos o cantar dos galos, o cacarejar das poedeiras, o latir do cães, eu me identifico. Sou arvore, sou tronco, sou raiz, sou folha, sou graveto sou mato, sou paiol e sou a velha tulha de barro. (...) pela minha voz cantam todos os pássaros, piam as cobras e coaxam as rãs, mugem todas as boiadas que  vão pelas estradas. Sou espiga e o grão que retornam a terra. Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando, é o arado milenário que sulca. Meus versos tem relances de enxada, gume de foice e o peso do machado. Cheiro de currais e gosto de terra. (...) Amo aterr

A vida é muito mais*

Planos servem somente para coisas comuns, ordinárias. Planos nunca nos fazem transcender ou nos encontrar. Pois, para alcançarmos o extraordinário, o incomum, uma singular suficiência de paz, planos não bastam; sequer contribuirão. Ao contrário, é preciso apenas sentir e partir para irmos descobrindo como e quando ousar. E é ouvindo as vozes da intuição que simplesmente devemos começar a fazer.  O que basta mesmo é prosseguir na celebração dos acertos ao mesmo tempo em que aprendemos com os erros para corrigir a trajetória toda vez que as circunstâncias que nos desafiarem ou nos convidarem a desistir ou acomodar.  A vida é muito mais do que ir de um ponto A ao B; é muito mais do que a pretensão de traçar trajetórias e metodologias numa ilusão de poder perseguir e controlar passos e acontecimentos. Porque as coisas realmente especiais e transformadoras sempre são construídas em lugares e momentos muito mais ricos de incertezas do que se possa prever qualquer petulâ

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) à polêmica de Emerson contra a própria ideia de influência, à sua insistência de que caminhar sozinho deve implicar a recusa até de bons modelos, o que torna a leitura primordialmente uma atividade criadora" "Nenhum poeta, ou, melhor dizendo, nenhum poeta forte, pode escolher seu precursor, da mesma forma que nenhuma pessoa pode escolher seu pai" "Lembrando Emerson: 'Todo espírito constrói uma casa para si, e além desta casa um mundo, e além desta casa um mundo, e além deste mundo um céu" "Mas nenhum poeta pode escrever um poema sem, de certo modo, lembrar de outro poema, assim como ninguém ama sem lembrar, ainda que vagamente, de um amor anterior, ainda que fantasiado ou bloqueado por um tabu" "Para continuar sendo poeta, o poeta precisa se cercar da névoa ilusória que o protege da luz que outrora o aqueceu" "(...) o pensamento dialético deve tornar presente o que é ausente (...)

A poética do existir*

A gente não precisa de dizer o que fez e faz.  Cada vez mais viver é o que im-porta de verdade. Im-porta ser sempre aprendiz.  Im-porta o carinho amigo.  Im-porta o doar amor.  Im-porta as coisas simples. Im-porta o agora pleno de histórias.  Im-porta abrir a porta da existência  E viver as Autogenias transformadoras.  Im-portar com o outro que precisa de nossa escuta e presença.  Im-portar as estrelas do céu e Pintar os fios de ouro nas estradas do viver.  No portar-se como gente In-teira.  In-teirando-se com o fogo, o ar a terra e água. Inteirando-se com múltiplas pessoas  Dissolvendo-se na poética do existir. *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Juiz de Fora/MG

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