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Conjugações existenciais*

Existe um lugar onde é possível reinventar-se em vida. Nesse refúgio intersubjetivo é crível desfazer e refazer as coisas, segredar vontades, qualificar ensaios existenciais, traduzir sonhos. Num contexto de significação flutuante, ampliam-se horizontes numa arte do encontro. Em um espaço de acolhimento, cultivo, reciprocidade, as narrativas compartilhadas sugerem uma hermenêutica do estar junto. Atiça expressividades na integração das incompletudes. Em busca de fluência discursiva, ao instituir um novo território, aponta originais no ângulo fugaz do instante. Algo mais acontece quando duas ou mais pessoas se encontram. Seu teor de abrigo é um farol na solidão dos exílios. Sua matéria-prima é a afinidade das palavras, por onde um extraordinário encontro se realiza. Com essa integração provisória da malha intelectiva, institui-se um chão para se ousar o não pensado, cogitado, tentado.  Nessa reunião de vontades, acessada numa determinada sintonia

Onde anda você ?*

Às vezes escrevo para te lembrar Por onde tu andas ,agora, Minha pequena amada? Seus passos por onde passam Que não cruzam mais com os meus? Minh'alma sabia desde sempre Então te pintei na ponta Da estrela da manhã Pendurei teu nome Na ponta da lua crescente. Quando de longe te vi Logo de saída percebi Que em mim também pensavas A harmonia da natureza Perdeu com o fim do nosso amor. Bateu mais forte meu coração Meu corpo sentiu uma vertigem Ah, teu canto, tua dança Teus lábios se abrindo Neste teu riso tão limpo. Ah, traga-me de volta o teu abraço Compramos uma charrete cheia de flores Com dois cavalos alados brancos E andamos pela Rua da Praia... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Do bom, belo e aparentemente justo*

Maria tanto amava que ardia.. Mas até o último suspiro negaria... Era direita, a Maria. Só que todo santo dia numa saída ela pensava Bolava, rebolava, revirava. Nem mais dormia, a Maria. Ainda honesta, enlouquecida, definhava.. (nada bom)   Foi então que conheceu Teresa. Era bem puta, a vadia. (faria o que o Zé gostava que era também o que queria) (o duplamente bom)   Maria deu ao Zé , de presente, a Teresa E a si própria, deu João e deu ao João... Zé ficou alegre de repente. Cantarolava. Assobiava. Até sorria! Trazia flor pra Maria. Comprava carne de primeira. Vestido novo de chitão... Nem cogitava um João!!! (mas era justo, justíssimo!) Enquanto isso a Maria Agradecida ( e direita ) Trabalhava à tarde E à noite dormia. Cansada e feliz Com o seu Zé, a Teresa E com João., a Maria! (bonito, muito bonito, dona Maria!) "Quem em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez a si próprio?" (Niet

Leitor anarquista da Filosofia Cristã*

        “Quer dizer, no momento em que adentramos o espaço da memória, entramos no mundo.”** Paul Auster Gosto de ler os filósofos cristãos, principalmente os dos séculos XIX e alguns do XX. Assim, ao lê-los aprendo mais do que muita ironia vã da ignorância religiosa e fanática sobre Deus. Sou de fato um ser em movimento, mas o que nunca deixou-me impressionar é a latência reflexiva dos moralistas ao tratar da vida como se ela tivesse uma base sólida para todas os questionamentos.  Escamotear a existência em nome de um ser superior. De fato, a vida é onde tudo se inicia e tudo se perde no fim. O acontecimento tem seu apogeu. Os observadores mais atentos, os desavisados e dispersos, porém atentos, a todos que param um pouco para apenas sentir e deixar o tempo passar ou ficar parado no ato de pensar. Éttienne Gilson escreveu: O pânico que parece se apoderar dos apologistas sempre preocupados em não perder o último navio, é algo que lhes é natural, mas não deixa de ser

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O excesso é simplesmente revelador de um estado de espírito latente" "(...) existe uma interação entre a 'força vital própria' de um determinado indivíduo e as 'circunstâncias exteriores', ou seja, as determinações impostas pelo destino" "(...) da relação entre a subjetividade individual e a importância do meio, de qualquer ordem que seja" "Acrescentarei que o redobramento é a marca simbólicas do plural. Por isso, cada um torna-se um outro. Comunga com o outro e com a alteridade em geral" "(...) nenhum problema é definitivamente resolvido, mas que encontramos, pontual e empiricamente, respostas aproximadas, pequenas verdades provisórias, postas em prática no cotidiano, sem que se acorde um estatuto universal, oralmente válido em todo lugar, em todo tempo, e para cada um" "Há aqui uma antinomia de valores que merece ser pensada: a morosidade do instituído, a alegria do instituinte. Antinomia

A festa e o trem*

Peregrinando vou contemplando Pássaros e flores Lagos e caminhos Cabelos brancos feito algodão Peregrinando vou sentindo Perfumes e sabores Arrepios de tantas belezuras Gente sem pressa sorrindo Peregrinando vou admirando O simples e o complexo A luz e a sombra As pinturas e a natureza Porque é verão aqui em Stresa O trem chega O trem parte E tudo se faz festa *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

A serpente que nos seduz/conduz/traduz*

      Eva era uma mulher metódica e compulsiva, para ela as coisas deveriam ser pretas ou brancas, oito ou oitenta. Não havia meio termo. As pessoas eram solteiras ou casadas, amigos ou namorados. Ignorava situações como “ficante”, “peguete” ou “amizade colorida”, que seriam representadas pela cor cinza. Para ela, cinza era uma mistura de cores, uma situação indefinida, uma transição para o autêntico. Nada a ver. As situações da vida precisavam ter cor definida, rótulo e se possível, carimbo de autenticação. Preto ou branco, solteiro ou casado, amor ou nada.       Conheceu Adão em uma festa, trocaram telefones, conversaram bastante durante três semanas, sentiram vontade de se ver mais uma vez e marcaram um encontro para a sexta feira seguinte. Gostaram tanto um do outro, que combinaram  sair de novo no sábado. No domingo, beijaram-se. Ao se despedir, no portão de casa, Eva perguntou se estavam namorando, pois para ela, amigos não se beijam. Preto era sinônimo de amigo e branco

Convite*

Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. *Lya Luft

De onde vem isto que é ?*

A gente acaba falando de uma coisa Para falar de uma outra bem diferente. O que é isto Que nos faz humanos E nos diferencia Dos outros animais? O que é isto Que nos torna sublimes E nos eleva na prática Do bem-querer e do amor? E o que é esta outra coisa Que nos joga e rebaixa Causando ao nosso redor Malevolência e desamor? Duas forças nos habitam: Eros e Thanatos Amor e Ódio Laços de Vida e de Morte Luzes e Sombras. Sabe aqueles círculos Que se formam ao redor De uma pedra que se joga N'água de um lago...?? O que é isto que dói Na gente, por vezes, E não precisaria doer? *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Filósofo Clínico Porto Alegre/RS

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