Pular para o conteúdo principal

Postagens

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Rousseau escreveu: 'Sabeis que a verdade, seja qual for, muda de forma segundo a época e os lugares, e que se pode dizer em Paris o que, em dias mais felizes, não se poderia dizer em Genebra'"  "Cada jogo de luz pode valorizar este ou aquele perfil às custas dos outros" "(...) Essa historicidade não significa necessariamente relativismo, mas faz da inserção do leitor e do texto em seus horizontes históricos a condição da compreensão" "(...) como não aplicar ao Rousseau dos 'Devaneios' a descrição de Narciso feita por Gaston Bachelard: 'Mas Narciso na fonte não está somente abandonado à contemplação de si mesmo. Sua própria imagem é o centro de um mundo. Com Narciso, para Narciso, é toda a floresta que se mira, todo o céu que vem tomar consciência de sua grandiosa imagem'" "Ler Rousseau é, pois, ler em seu texto não somente uma teoria, mas a expressão de certo ritmo existencial, o destino excepcio

Escrever para crianças*

Certa vez conversando com um escritor, Dr em Filosofia, ele me disse que tinha muita vontade de escrever para crianças, mas não tinha aptidão com a linguagem infantil. Desde esse dia passei a refletir sobre o que ele disse; seria realmente difícil escrever para crianças? Passei então a pensar sobre a diferença entre a linguagem da criança e do adulto, e encontrei na criança um caminho fértil para a construção de ideias, de imaginações e de experiências a serem vividas. Hoje encontrei um menino de 5 anos brincando com dois bonecos, um do Batmam e outro era um monstro, então emocionada e realmente querendo saber perguntei o que os dois bonecos estavam fazendo, e o menino disse que eles estavam brigando; e eu interessada perguntei o motivo da briga. O engraçado é que a minha emoção de entrar no imaginário daquela criança me fez entender que a linguagem de muitas crianças não apresentam prejuízos, nem muitos agendamentos existenciais, e tem um caminho sem muitas conclusões, el

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando nã

Notas sobre a relação da filosofia e da ciência com o passado*

A ciência pode ser vista a partir de uma perspectiva de evolução. Seu desenvolvimento se dá a partir do acúmulo de saberes a ponto de ser necessária apenas a pressuposição de alguns princípios para, assim, seguir com a pesquisa. Desse modo, a não ser por informação histórica, um cientista não precisa ler, por exemplo, as obras de Euclides, Copérnico e Newton para dar continuidade à sua pesquisa científica. Mas, com a filosofia isso não é possível. O exercício do filosofar passa pela experiência daquele que filosofa, a ponto de ter que revisitar muitos de seus pressupostos antes de dar continuidade ao exercício filosófico. Essa atividade de lidar com a base da própria experiência de mundo nem sempre é fácil, tornando necessário o auxílio de bons mestres que, por sua vez, são profundos conhecedores desse caminho. Assim sendo, o neófito das veredas da filosofia precisa revisitar – entre outros – aqueles que deram início ao que chamamos de filosofia, sobretudo seus grandes pil

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) na proporção em que o matrimônio passou a ser considerado sagrado e indissolúvel, a Psiquiatria involuntária foi considerada indispensável, uma verdadeira benção; e na medida em que a discórdia conjugal e o divórcio são considerados escandalosos, a doença mental e seu tratamento compulsório serão considerados científicos" "A loucura, conforme sugeri há algum tempo, é fabricada, num certo sentido, por alienistas. Em outras palavras, a Psiquiatria produz a esquizofrenia ou, mais precisamente, os psiquiatras criam esquizofrênicos" "(...) os 'pacientes' recebem 'tratamentos' que não querem e o Estado paga aos psiquiatras para coagir, confinar e mutilar quimicamente os cidadãos recalcitrantes" "A esquizofrenia é definida de modo tão vago que, na realidade, trata-se de um termo frequentemente aplicado a quase toda e qualquer espécie de comportamento reprovado pelo locutor" "Antes de 1900, os psiquiatras

Ilusão*

“Ouvir meras fábulas talvez não seja o programa favorito de vocês – talvez queiram ouvir A VERDADE. Bom, se é isso que vocês querem, então é melhor procurarem outro lugar – mas juro pela minha vida que não posso dizer exatamente que lugar é esse.”  Paul K. Feyerabend O momento em que começamos a pensar mais e mais sobre o mundo, sobre os mistérios que envolvem um mundo coerente e a incoerência que temos em vivenciá-lo. Todos vivem no mesmo barco, a nau do mundo é a mesma no plano teórico no que concerne ao corpo, na relação do corpo com o mundo. Como proferiu Feyerabend em uma de suas últimas conferências, “Ademais, os cientistas, os senhores da guerra, os esfomeados e os abastados são todos seres humanos”. Existe uma ponte imaginária nesta minha perspectiva, pois, se estou a pensar em português (ironia da reflexão), é a busca cotidiana de conhecer a natureza do mundo. Não há pretensão nisso, a pior arrogância e delimitar o pensamento em uma representação do pensamento

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede, sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações." "(...) encontro a maior serenidade na alucinação" "Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação" "E havia um meio de ter as coisas sem que as coisas a possuíssem?" "(...) para nascer as coisas precisam ter vida"  "Já agora nem sabia se vira o céu por si mesma como quem vê o que existe ou se pensara em céu e conseguira inventá-lo" "(...) a praça de pedra se perdeu entre os gritos com que os carroceiros imitavam os animais para falar com eles" "(...) a vida que se leva por dentro não é a vida terrena" "Toda a parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence - é aquela que toca na minha  fronteira com o

Conjugações existenciais*

Existe um lugar onde é possível reinventar-se em vida. Nesse refúgio intersubjetivo é crível desfazer e refazer as coisas, segredar vontades, qualificar ensaios existenciais, traduzir sonhos. Num contexto de significação flutuante, ampliam-se horizontes numa arte do encontro. Em um espaço de acolhimento, cultivo, reciprocidade, as narrativas compartilhadas sugerem uma hermenêutica do estar junto. Atiça expressividades na integração das incompletudes. Em busca de fluência discursiva, ao instituir um novo território, aponta originais no ângulo fugaz do instante. Algo mais acontece quando duas ou mais pessoas se encontram. Seu teor de abrigo é um farol na solidão dos exílios. Sua matéria-prima é a afinidade das palavras, por onde um extraordinário encontro se realiza. Com essa integração provisória da malha intelectiva, institui-se um chão para se ousar o não pensado, cogitado, tentado.  Nessa reunião de vontades, acessada numa determinada sintonia

Onde anda você ?*

Às vezes escrevo para te lembrar Por onde tu andas ,agora, Minha pequena amada? Seus passos por onde passam Que não cruzam mais com os meus? Minh'alma sabia desde sempre Então te pintei na ponta Da estrela da manhã Pendurei teu nome Na ponta da lua crescente. Quando de longe te vi Logo de saída percebi Que em mim também pensavas A harmonia da natureza Perdeu com o fim do nosso amor. Bateu mais forte meu coração Meu corpo sentiu uma vertigem Ah, teu canto, tua dança Teus lábios se abrindo Neste teu riso tão limpo. Ah, traga-me de volta o teu abraço Compramos uma charrete cheia de flores Com dois cavalos alados brancos E andamos pela Rua da Praia... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Do bom, belo e aparentemente justo*

Maria tanto amava que ardia.. Mas até o último suspiro negaria... Era direita, a Maria. Só que todo santo dia numa saída ela pensava Bolava, rebolava, revirava. Nem mais dormia, a Maria. Ainda honesta, enlouquecida, definhava.. (nada bom)   Foi então que conheceu Teresa. Era bem puta, a vadia. (faria o que o Zé gostava que era também o que queria) (o duplamente bom)   Maria deu ao Zé , de presente, a Teresa E a si própria, deu João e deu ao João... Zé ficou alegre de repente. Cantarolava. Assobiava. Até sorria! Trazia flor pra Maria. Comprava carne de primeira. Vestido novo de chitão... Nem cogitava um João!!! (mas era justo, justíssimo!) Enquanto isso a Maria Agradecida ( e direita ) Trabalhava à tarde E à noite dormia. Cansada e feliz Com o seu Zé, a Teresa E com João., a Maria! (bonito, muito bonito, dona Maria!) "Quem em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez a si próprio?" (Niet

Leitor anarquista da Filosofia Cristã*

        “Quer dizer, no momento em que adentramos o espaço da memória, entramos no mundo.”** Paul Auster Gosto de ler os filósofos cristãos, principalmente os dos séculos XIX e alguns do XX. Assim, ao lê-los aprendo mais do que muita ironia vã da ignorância religiosa e fanática sobre Deus. Sou de fato um ser em movimento, mas o que nunca deixou-me impressionar é a latência reflexiva dos moralistas ao tratar da vida como se ela tivesse uma base sólida para todas os questionamentos.  Escamotear a existência em nome de um ser superior. De fato, a vida é onde tudo se inicia e tudo se perde no fim. O acontecimento tem seu apogeu. Os observadores mais atentos, os desavisados e dispersos, porém atentos, a todos que param um pouco para apenas sentir e deixar o tempo passar ou ficar parado no ato de pensar. Éttienne Gilson escreveu: O pânico que parece se apoderar dos apologistas sempre preocupados em não perder o último navio, é algo que lhes é natural, mas não deixa de ser

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O excesso é simplesmente revelador de um estado de espírito latente" "(...) existe uma interação entre a 'força vital própria' de um determinado indivíduo e as 'circunstâncias exteriores', ou seja, as determinações impostas pelo destino" "(...) da relação entre a subjetividade individual e a importância do meio, de qualquer ordem que seja" "Acrescentarei que o redobramento é a marca simbólicas do plural. Por isso, cada um torna-se um outro. Comunga com o outro e com a alteridade em geral" "(...) nenhum problema é definitivamente resolvido, mas que encontramos, pontual e empiricamente, respostas aproximadas, pequenas verdades provisórias, postas em prática no cotidiano, sem que se acorde um estatuto universal, oralmente válido em todo lugar, em todo tempo, e para cada um" "Há aqui uma antinomia de valores que merece ser pensada: a morosidade do instituído, a alegria do instituinte. Antinomia

Visitas