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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"De minha parte, só me sinto viver e pensar dentro de um quarto onde tudo é criação e linguagem de vidas profundamente diferentes da minha, de um gosto oposto ao meu, onde não encontro nada de meu pensamento consciente, onde minha imaginação se exalta sentindo-se mergulhada no âmago do não eu (...)" "Lembrando Descartes: 'A leitura de todos os bons livros é como uma conversa com as pessoas mais virtuosas dos séculos passados que foram seus autores" "(...) a diferença essencial entre um livro e um amigo não é seu maior ou menor grau de sabedoria, mas a maneira pela qual nos comunicamos com eles; a leitura, ao contrário da conversação, consiste para cada um de nós em tomar conhecimento de um outro pensamento, mas estando sozinho, isto é, continuando a gozar da força intelectual de que usufruímos na solidão e que a conversa dissipa imediatamente, continuando a poder ser inspirados, a permanecer em pleno trabalho fecundo do espírito sobre ele mesmo

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O percurso serve para enriquecer a alma, fazendo com que ela mesma se torne uma alavanca, dando-lhe a capacidade de chegar cada vez mais a conhecer a si mesma" "(...) O que realmente falta à beleza para ser tal, uma vez satisfeitas todas as exigências formais, deixou na verdade de ser focalizado durante muito tempo, até ser proclamada a necessidade de o artista possuir uma 'genialidade' especial, isto é, ter a capacidade de introduzir na sua obra o ingrediente imponderável, casual, desconhecido até por ele próprio, que faz a obra ser bela" "(...) os desejos de vagar, de perder-se, de naufragar, são os traços distintivos da beleza na sua forma mutável. As 'vagas estrelas da Ursa' ou 'o pastor errante' confirmam o caráter nômade, mutante e indefinido da beleza, no seu migrar - dentro do 'espaço imaginário' - entre o determinado e o indeterminado"  "(...) as teorias e as práticas artísticas se deslocam em

Notas sobre a filosofia e a ciência empírica*

As conquistas da ciência moderna, em si, não são ruins. O problema ocorre quando os cientistas esperam que sua área seja a resposta a tudo. A ciência não abarca a ética, o valor, os princípios e o sentido. Para isso temos literatura, artes, filosofia, teologia, etc. As conquistas científicas são inegáveis. Mas, pobre daquele que pensa que a humanidade “só avançou” depois da ciência moderna. As ciências (empíricas) são ônticas, isto é, abordam entes específicos. A filosofia é ontológica, isto é, ela aborda o ser. Se Deus existe ou não, isso não é uma questão para a ciência empírica. Onipresença, onipotência e onisciência não são âmbitos ônticos. As ciências empíricas são ramificações da filosofia. Mas, jamais surgirá derivação que se ocupe da questão principal da filosofia: o ser. A primeira necessidade que a ciência tem da filosofia é para defini-la. Não se define a ciência e o método científico por eles mesmos. Aristóteles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Para o poeta, para o filósofo, para o santo, todas as coisas são favoráveis e sagradas, todos os acontecimentos vantajosos, todos os dias santos, todos os homens divinos" "A natureza é uma nuvem mutável que é sempre e nunca a mesma" "Um homem que tem uma saúde robusta e um espírito inquieto possui a faculdade de rápida aclimatação, vive em sua carroça e perambula por todas as latitudes tão facilmente como um calmuco, junto ao mar ou na floresta ou na neve, ele dorme de modo igualmente confortável, come com igual apetite e convive de forma tão alegre, como se estivesse junto à sua própria lareira"  "Tudo o que o indivíduo divisa fora de si corresponde a seus estados de espírito" "Quando um pensamento de Platão torna-se meu pensamento - quando uma verdade que incendiou a alma de Píndaro incendeia a minha, o tempo não existe mais" "Quando os deuses descem entre os homens, não são reconhecidos, Jesus não o foi

Quem está no comando?*

Certa vez uma fotógrafa me ensinou a sorrir. Explicou que para o sorriso ficar bonito, o segredo não era sorrir com a boca e sim com os olhos. É o brilho do olhar e não o branco dos dentes que transmite a beleza. Quem conhece um sorriso de verdade, sabe que nem todo palhaço é feliz. Se você olhar para a câmera e tentar enxergar por trás das lentes um amor, um sonho ou aquilo que faria você dançar no meio da rua, seus olhos vão transmitir graça e encanto. Nem é preciso sorrir, o olhar se encarrega da formosura. Com a corrida acontece o mesmo. Não são as pernas que fazem correr, elas apenas nos transportam. Correr é muito mais que colocar um pé na frente do outro. Para correr é necessário ânimo, energia, determinação. O corpo é o veículo, mas o combustível é a paixão. Quando as pernas cansarem, experimente correr com o coração; provavelmente vai conseguir uma performance melhor, poderá contemplar a paisagem e até mesmo esquecer que está correndo. Quem treina por gosto não cansa,

Lua adversa*

Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua… Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua…) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua… E, quando chega esse dia, o outro desapareceu… *Cecília Meireles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A cada momento, um velho mundo está ruindo e um novo surgindo, mas nossos olhos são mais aguçados para o colapso do que para a ascensão, pois o mundo antigo é o mundo que conhecemos" "Solidão e aposentos reduzidos são grandes incitadores da erudição" "Todavia, o que é realidade ? Não sentimos materialidade em nós mesmos, e a própria matéria é efêmera" "(...) o poeta deve 'defender os estúpidos e os loucos'. As irregularidades e desventuranças da própria família de Whitman, que incluía um irmão idiota com quem dividiu a cama durante anos, certamente contribuíram para sua empática compaixão pelos humildes, pelos miseráveis e até pelos criminosos" "Sendo livres para formar nossa própria sociedade, nós acabamos formando-a com aqueles que têm ressonância conosco(...)" "No decorrer de seu longo exílio, Joyce tentou recriar o som das vozes que o haviam envolvido nas casas e ruas e pubs de Dublin"

Mundo*

“A compreensão significa o projetar-se em cada possibilidade de ser-no-mundo [...] existir como essa possibilidade.” Martin Heidegger O mundo é velho, vejo a foto, vejo a vida, O mundo não passa da minha memória, ele se perde. O mundo é uma árvore que virou pedra, o mundo é mais velho que minha dor. O mundo circula a Terra, a velhice é o mundo, meu capuz é velho, tão velho que minha amada foi embora para outro mundo. O mundo é o tempo que levo até meu trabalho, o lugar que invento mundos, que envelheço com minha dor e procuro fugir deste mundo naufragado, meu país é novo. Sou velho demais para o meu País. Pudesse eu, se quisesse, te daria um mundo, o melhor dos mundos. Não posso comprar nada, nem tudo nem nada, te devolvo os sonhos. Vou dar a volta ao mundo, circular é a fonte de vida, quando menos se espera tem uma nascente. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Pensar é transgredir*

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido. Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!" O problema é que quando menos se espera e

Poética clandestina***

“A alquimia do verbo é um delírio.” Arthur Rimbaud Uma profecia de caráter excepcional recai sobre alguns escolhidos, que parecem surgir de uma cepa rara, sujeitos a descrever a saga do personagem marginal. Estruturados para surgir como transgressão, desconstroem a certeza de uma só versão para todas as coisas. A atitude inesperada de toda razão oferece uma perspectiva plural na forma de poesia, filosofia, arte, subversão estética ao mundo instituído. No caso da inquietude filosófica, antes de virar comentário ou técnica acadêmica, é a concepção do eu como outros, reapresentada na inspiração libertária dos movimentos da irreflexão. Um cavalheiro andante em busca de sua tribo encontra Adão e Eva no paraíso da singularidade. A palavra realiza uma poética das ruas. Seu caráter de profanação reivindica um ritual de iniciados. Os enredos do mundo novo percorrem as dialéticas do imprevisível. Visionários incompreendidos possuem a rara aptidão de con

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas ?" "(...) leva em conta não apenas os fatos, mas também, e sobretudo, as ilusões - o que, psicologicamente falando, é de uma importância decisiva, porque a vida do espírito é ilusão antes de ser pensamento" "Para as concepções estatísticas do tempo, o intervalo entre dois instantes é apenas um intervalo de probabilidade; quanto mais seu nada se alonga, maior é a chance de que um instante venha terminá-lo" "Cumpre, pois, apreender o hábito em seu crescimento para captá-lo em sua essência; ele é assim, por seu incremento de sucesso, a síntese da novidade e da rotina, e essa síntese é realizada pelos instantes fecundos" "Mas, por firmes que sejamos, jamais nos conservamos inteiros, porque nunca fomos conscientes de todo o nosso ser" "Há decer

Tudo passa*

Passarão as tempestades O vento e a seca passarão Passarão a fome e a sede A chuva haverá de passar Passará o dia e a noite O tempo passará Tudo passa Tudo se esvai Cai e vai... A riqueza passará Passará a graça Passarão todas as dores O riso e o choro passarão Um dia passarão os amores A vida e a morte passarão Passarão o céu e a terra Eu passarinho Passarinho você. Para onde vai, afinal Aquilo que teima Em não passar? *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

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