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Mãos de palavras*

“Toda boa escultura, toda boa pintura, toda boa música, sugere os sentimentos e os devaneios que ela quer sugerir. Mas o raciocínio, a dedução, pertencem ao livro.” Charles Baudelaire Ela inclinou o corpo até o outro lado da mesa, ali estava ela, com os olhos nos seios, com os olhos no cálice, com a boca em suas frases, inclinou um pouco mais do que o normal, quase na horizontal, mais do que fazia em outras situações. Um lugar público, um olhar íntimo, uma voz que parecia vir das caixas de som, que vinha das imagens da tela, entravam mãos e braços, o outro lado da mesa estava ele com os olhos em seus lábios, o movimento da língua, imaginação de que a liberdade pudesse existir na língua...a partir do começo na linguagem nasce um texto, um verso morre no copo ou no corpo das palavras. Ela do outro lado da mesa disse – estou com sede, favor me servir um cálice, eu sei que minha voz é melhor que o que escrevo, mas sua escrita não é minha companheira já um tempo, então me

Não sei quantas almas tenho*

Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu. *Fernando Pessoas

Da natureza inédita em todas as coisas*

“No poetar do poeta, como no pensar do filósofo, de tal sorte se instaura um mundo, que qualquer coisa, seja uma árvore, uma montanha, uma casa, o chilrear de um pássaro, perde toda monotonia e vulgaridade.” Martin Heidegger Um cotidiano plural se abre frente ao espelho das singularidades. Nesse viés discursivo recém chegando, oferece seus inéditos numa língua estranha. Por seu caráter de novidade, recusa o gesso da classificação especialista. Numa interseção de acolhimento e partilha, concede alguma visibilidade ao que restaria desconhecido. Em uma experiência de transbordamento excepcional, num tempo subjetivo e de local indeterminado, a estrutura de pensamento se refaz. Nesse ímpeto de incertezas, um teor de expressividade transgressora se deixa entrevistar, seus deslizes narrativos, olhares desfocados e a escuta das lógicas sem sentido, apontam suas fontes de inspiração. Uma hermenêutica compreensiva acolhe a desestruturação fundante, seu aspecto de estranheza re

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) subentende-se que jogos de palavras, adivinhações, malabarismos verbais constituem, nas tradições arcaicas, um modo de dizer que agrada aos deuses e de que estes fazem grande uso" "(...) antes de ela ser palavra, denunciando-a já como logos, esse substantivo altamente singular no qual se retém a origem não falante daquilo que incita à fala e que, em seu nível mais alto, ali onde tudo é silêncio, não fala, não esconde, mas faz sinal" "(...) Abraão separando-se do que é e afirmando-se estrangeiro para responder a uma verdade estrangeira. O hebreu passa de um mundo - o mundo constituído da Suméria - a um 'não ainda mundo', e que é entretanto o terreno; barqueiro, o hebreu Abraão não só nos convida a passar de uma margem a outra, mas também a ser por ele conduzidos aonde quer que haja uma passagem a realizar, mantendo esse entre-duas margens que é a verdade da passagem" "(...) a palavra é a terra prometida em que o exílio s

Uma poesia dos abraços*

Jamais deixamos de orbitar em nós mesmos, por isso, o contato com outras vidas é tão determinante e fundamental. É esse o fenômeno que nos lança na direção das descobertas que tanto precisamos encontrar e que sempre provém de dentro para fora de nós mesmos. E assim, me parece que prosseguimos produzindo pontes altamente capazes de nos conectar, sobretudo, quando ousamos atravessá-las.  Foi assim que encontrei em tantos abraços a força que faltava, pois de tão apertados, "pois-se" tudo no lugar. Foi assim, que os melhores momentos se tornaram eternos figurando sempre no agora. Foi assim, que um beijo roubado despertou as melhores flores dos jardins de duas almas, as quais, em silêncio, conhecem a fundo os legados que deixaram tão somente por amor. Foi assim que a poesia transbordou em mim trazendo a tona o melhor de nós mesmos e ainda, por conseguinte, o melhor que podíamos alcançar.  Foi assim que nós nos transformamos e nos superamos juntos, não raro sob a auror

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"É Surpreendente como, quando meus pacientes e eu estamos em sintonia, nossas redes neurais parecem fazer contato num nível que não posso descrever com palavras" "(...) qualquer experiência produz uma alteração em sua mente" "(...) a psicoterapia modifica, de início, as conexões funcionais entre os neurônios, para depois converter essas transformações funcionais em mudanças na estrutura concreta do próprio córtex cerebral" "Não posso pressupor que minhas ideias sejam prova definitiva de algo sobre Ted, embora muitos terapeutas caiam nessa armadilha; minhas associações são minhas próprias pistas pessoais, guardando talvez uma relação tanto com minhas experiências e personalidade quanto com as de Ted. Somente as associações dele constituem dados legítimos que podem me ajudar a definir o que contêm suas redes" "(...) o cérebro humano, possui mecanismos biológicos que torna possível alterar as conexões entre os neurônios. Mo

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