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Reflexões*

Quem se define se ausenta, se encerra, se enclausura e nem sequer se contenta ou se liberta. Quem se define, mente, sobretudo, para si mesmo. Honestamente quem se define de fato? Porque somente na hipocrisia puritanismos e moralismos são viáveis. Porventura, surpreende e não raras vezes o estranhamento alheio pela ausência do desejo de se definir. E se isso é uma postura ou impostura pouco importa, uma vez que o sustento dessa poesia é a própria indefinição que não se enquadra e nem se ajuste; e é mestiça, plural, vira-lata, marginal. Sim, as margens sempre compuseram o meu ninho, os meus caminhos, os meus descaminhos; os fluxos e os refluxos. As margens sempre foram a minha escolha e aquilo que eu privilegiei. Meus olhos sempre estiveram voltados para os subalternos. E assim, danem-se as convenções, as hierarquias que injustiçam socialmente; danem-se os julgamentos, em especial, daqueles que sequer se conhecem e desconhecem por onde caminhei para ser quem eu sou e par

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Relaciono-me comigo no éter de uma palavra que me é sempre soprada e que me furta exatamente aquilo com que me põe em contato" "O logos nada é fora da história e do ser, uma vez que é discurso, discursividade infinita e não infinidade atual; e uma vez que é sentido. Ora a irrealidade ou idealidade do sentido foi descoberta pela fenomenologia como as suas próprias premissas (...) Nenhuma história como tradição de si e nenhum ser teriam sentido sem o logos que é o sentido projetando-se e proferindo-se a si próprio" "Husserl sempre acentuou a sua aversão pelo debate, pelo dilema, pela aporia, isto é, pela reflexão sobre o modo alternativo em que o filósofo, no termo de uma deliberação, pretende concluir, isto é, fechar a questão, parar a expectativa ou o olhar numa opção, numa decisão, numa solução" "Esta superpotência como vida do significante produz-se na inquietação e na errância da linguagem sempre mais rica que o saber, tendo sempr

Sobre a arte de redigir silêncios*

Uma fenomenologia da espera descreve seu vocabulário pela quimera a se mostrar. A palavra refugiada na estrutura do silêncio parece dizer mais. Seu instante fugaz aponta entrelinhas por um esboço. Seu viés de anonimato multiplica-se nos enredos da expressão absurda. A suspeita de uma razão vigiada persegue eventos pelos contornos da ficção. Talvez a novidade, como um deslize da ideia não declarada, mostre-se nas páginas em branco. Esses episódios se sucedem em pretextos para um sentido à margem do sentido. Os manuscritos do inesperado podem ser anúncios ao cogitar invisibilidades. Ao interrogar esses indizíveis esconderijos das pérolas imperfeitas, um olhar perscruta a geografia dos exílios. Espaços desacreditados se protegem em códigos próprios. Os rituais da linguagem singular apreciam sua redescoberta. Espaços calados a exibir sua diversidade em seus rastros. Uma interrogação se desdobra para além das respostas conhecidas. A brevíssima divisão entre dizer e não dize

Tabuleiro de cores*

O preto no branco, o branco no teto, o trato mal das ideias, O branco e preto, o feto, o acerto de contas, o branco dita – regras – dura e purifica linguagem, limpa o chão por onde pisa. O preto e o branco nos afetos, acerto histórico, a morte é o fim. Todas as cores no céu, sem luta não existe arco-íris. O branco é a ordem, a bandeira é da liberdade, a história é preta e branca, todas as cores, todos os olhos, linguagem é o que faz da vida o tabuleiro da imaginação. Amor à vida, olhos desnudos, corpo por cima, todas as cores feminino-masculino, o viés une os dois. Formas de expressar, diversidade de ver, recusar, deixar o céu da boca, saliva da LIBERDADE. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Exprimir-se é portanto um empreendimento paradoxal, uma vez que supõe um fundo de expressões aparentadas, já estabelecidas, e que sobre esse fundo a forma empregada se destaque, permaneça suficientemente nova para chamar a atenção. Trata-se de uma operação que tende a sua própria destruição, uma vez que se suprime à medida que se propaga, e se anula se não se propaga. Assim, não se poderia conceber uma expressão que fosse definitiva, pois as próprias virtudes que a tornam geral a tornam ao mesmo tempo insuficiente" "(...) jamais encontramos na fala dos outros senão o que nós mesmos pusemos, a comunicação é uma aparência, ela nada nos ensina de verdadeiramente novo. Como seria ela capaz de nos arrastar para além de nosso próprio poder de pensar, já que os signos que ela nos apresenta nada nos diriam se já não tivéssemos em nosso íntimo sua significação ?" "Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez" "(...) a linguag

Todo o mundo tem um pouco*

Diz a sabedoria popular que de médico e de louco todo mundo tem um pouco. De onde surgiu essa ideia? Não gosto muito de generalizações, mas, no meu caso particular, consegui o diploma de médico bem cedo na vida. Aos vinte e três anos já o tinha segurado nas mãos, levado para emoldurar e, poucos dias depois, estava lá, devidamente afixado em lugar nobre na parede do consultório. O título de louco foi muito mais difícil de conquistar. Exigiu um tempo bem maior para me aprimorar e, por enquanto, não está em exposição. Confesso que durante a faculdade, cheguei a pensar em ser psiquiatra, mas todos os que eu conhecia eram, digamos assim, “um tanto” estranhos, e não queria, de forma alguma, ficar parecido com eles. Na época, fugia de qualquer coisa que se assemelhasse à loucura. A brincadeira era fazer do velho ditado um trocadilho, e dizer que os psiquiatras tinham “um pouco” de médico e “muito” de louco. Generalizações, como é sabido, conduzem a equivocidades. Durante décadas,

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Percebi que é inútil falar aos outros sobre coisas que não sabem. Quem não compreende a injúria que inflige a seus semelhantes falando de coisas que ignoram é um ingênuo. Perdoa-se um tal descuido só ao prosador, ao jornalista, ao poeta. Compreendi que uma ideia nova, isto é, um aspecto inusitado das coisas só se afirma pelos fatos. Os fatos abandonados nem por isso desaparecem; um belo dia ressurgem, revelados por alguém que compreende seu significado"  "O que se é (...) só pode ser expresso através de um mito. Este último é mais individual e exprime a vida mais exatamente do que o faz a ciência, que trabalha com noções médias, genéricas demais para poder dar uma ideia justa da riqueza múltipla e subjetiva de uma vida individual" "Em muitos casos psiquiátricos, o doente tem uma história que não é contada e que, em geral, ninguém conhece. Para mim, a verdadeira terapia só começa depois de examinada a história pessoal" "(...) Foi um s

A brisa e o poema*

Receba este poema Não faz mal Que eu não veja Não faz mal Que eu não seja É para que o mundo Te veja mais bonita. Só ria, neste dia Voa, vai você Eu fico Com a brisa suave Da saudade Que me leva Para onde moram Os olhinhos teus. Que seja Receba este poema Para fazermos um abrigo Nos braços dos abraços A janelinha por onde espio O nascente e o poente É uma espécie de melodia Da minha poesia...! *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Especialista em Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o interesse da vida onde sempre esteve foi nas diferenças" "(...) a pintura não é mais do que literatura feita com pincéis. Espero que não esteja esquecido de que a humanidade começou a pintar muito antes de saber escrever" "A literatura já existia antes de ter nascido" "É bem verdade que na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se aproveita" "Entre o martelo e a bigorna somos um ferro em brasa que de tanto lhe baterem se apaga" "Duvida-se, por exemplo, ainda que seja sempre de boa prudência duvidar da própria dúvida" "Quem não sabe deve perguntar, ter essa humildade, e uma precaução tão elementar deveria tê-la sempre presente o revisor, tanto mais que nem sequer precisaria sair de sua casa, do escritório onde agora está trabalhando, pois não faltam aqui os livros que o elucidariam se tivesse tido a sageza e prudência de não acreditar cegamente naquilo que supõe saber, que daí é q

O homem como objeto abstrato da ciência*

O positivismo não é criticado pelo valor que a ciência possui ou adquiriu na sociedade. O problema não é a ciência, que demonstra a cada dia seu valor a partir das suas conquistas e resultados. O problema da mentalidade positivista está postular o conhecimento científico como o único possível e aplicável a todos os âmbitos da realidade, inclusive às relações humanas e sociais em geral. O grande problema de reduzir todo o conhecimento ao científico está em despersonalizar o homem. Pois, para que o homem seja o centro de referência da investigação científica, ele precisa ser concebido de modo abstrato. Ou seja, o homem é despojado de suas determinações singulares, reduzindo-se a um objeto de investigação. Mais do que isso, ele é convertido a um sujeito formal e genérico e inserido em uma rede de relações abstratas e estruturas quantitativas. Desse modo, a mesma ciência que tem como procedimentos metodológicos o trabalho com esquemas, mensuração, repetição, relações e regular

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"É com seu próprio deus que as pessoas são mais desonestas: não lhe é permitido pecar" " O amor a um único ser é uma barbaridade: pois é praticado às expensas de todos os outros. Também o amor a Deus" "O sábio como astrônomo - Enquanto você sentir as estrelas como 'algo acima', falta-lhe ainda o olhar do conhecimento'" "A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende a - enfeitiçar" "Experiências terríveis fazem pensar se aquele que as vive não é algo terrível" "Não existem fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos" "Na vingança e no amor, a mulher é mais bárbara que o homem" "É o baixo ventre que impede o homem de considerar-se um deus" "Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você" "O que se faz por amo

O Movimento da Vida, o Livro*

É claro que o que move o livro é o acesso ao leitor, vice-versa, o leitor só faz o livro ter alguma importância se tiver o livro em mãos. Aos olhos, o pensamento movente e o que Bergson entoou: “O conhecimento que você me traz incompleto, eu o completarei”. Eis a questão: que tipo de livro, qualquer livro, qualquer texto, um romance, um ensaio, uma biografia, autoajuda, técnico, filosofia, qual mesmo? O desconexo para muitos não precisa ser e nem assim deseja a unificação mas o livro é nexo dos desconexos, é texto que vai da vertigem da linguagem à compreensão das páginas. Eu digo que tenho minhas preferências, como leitor, como alguém que busca escolher a partir do que lê, do que gosta, mesmo que isso tenha sua complexidade, que não contemple o todo do meu gosto, porque o negócio do livro é o negócio, mas eu aprendi mesmo sobre a importância do livro foi com o negócio Vida, com as relações que tive até aqui... até o século XXI desbancar o século passado. Nada de excepcion

Quem é o Filósofo Clínico e quem é o Partilhante na concepção de Hélio Strassburger***

Final: Em relação aos estudos ficam claras as etapas teóricas e práticas a serem seguidas, como a especialização, o pré-estágio - etapa em que o estudante passeia por dentro de si mesmo, conhecendo-se melhor - e o estágio - quando o aprendiz atende, sob supervisão, seus partilhantes e usa d esse momento para compartilhar dúvidas, inseguranças, além de se aprofundar nas leituras e práticas. Mas, sem fechar a questão o autor nos coloca diante de uma profunda e complexa abordagem: o crescimento pessoal em direção ao ser filósofo clínico. Esta é uma etapa que não está prevista nas estruturas dos cursos de formação, e para ela não existe uma fórmula ou um trajeto pré-determinado a ser seguido. Porém, Strassburger, em outro texto de sua autoria, Ser Filósofo Clínico, 2007, vai mais adiante nessa questão, diz ele: “Chama atenção um ingrediente, considerado como falha ou defeito por outras abordagens: as carências e fragilidades do terapeuta. No referencial metodológico da Fil

Quem é o Filósofo Clínico e quem é o Partilhante na concepção de Hélio Strassburger***

Parte III Outro ponto que merece destaque na obra de Strassburger, e em sua concepção de quem é o filósofo clínico, é a “interseção”. Além de empatia, amizade e confiança entre filósofo e partilhante, o autor nos apresenta a mesma com algo mágico e dedica, dentro da obra, um capítulo inteiro a esta questão tão importante no processo terapêutico. Já no início de sua narrativa nos adverte: “Existe um ponto de frágil equilíbrio nas relações entre as pessoas. Alianças para aproximação com o extraordinário da condição humana. Pelas rotas de  acesso, a representação de cada um, vastos e inexplorados continentes podem se mostrar.” (Strassburger, 2007) Aqui o autor nos coloca frente à natureza da interseção que deve ser sempre alvo de cuidado do cuidador, pois qualquer agendamento indevido pode abalar a qualidade da interseção. Por isso Hélio a trata como algo inebriante, algo que envolve numa só nuvem de clareza tanto o filósofo quanto o partilhante. Essa é a mescla entre fil

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