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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Mais uma vez, muito obrigado pelos livros. Eles distraem-me mais que qualquer outra coisa. Por quase cinco meses tenho vivido exclusivamente de minhas próprias provisões - ou seja, de minha própria mente e apenas dela" "Fico imensamente feliz por ter descoberto que trago paciência em minha alma por tanto tempo, que não desejo as coisas materiais e não preciso de nada mais que livros e a possibilidade de escrever e de estar sozinho por algumas horas todos os dias. Esse último desejo é o que mais me angustia. Por quase cinco anos tenho estado sob constante vigilância, ou com várias outras pessoas, e nem uma hora sequer sozinho comigo mesmo" "A constante companhia de outros funciona como um veneno u uma praga(...)" "(...) mas sei que compreendes que a rotina da caserna não é uma piada e que a vida de soldado, com todas as suas exigências, não é nada fácil para alguém com a saúde frágil como a minha, com a vida interior que tenho"

A proposta husserliana do mundo vivido como originário*

Podemos dizer que um dos intentos de Husserl com sua proposta fenomenológica é o de reivindicar o mundo vivido como a origem de nossos conhecimentos, de modo que o mundo conhecido ou objetivo não pode ser, como propõe o psicologismo de seu tempo, o único considerado verdadeiro. Desse modo, a ciência astronômica, por exemplo, que apresenta a Terra como um planeta ao lado dos demais, isto é, como mais um objeto como os outros, nasceu na própria Terra. Em outras palavras, o astrônomo parte da Terra como referencial vivido para definir objetivamente o movimento da terra, bem como a questão do repouso, do espaço e do caráter objetivo em geral. Com isso, a Terra não é mais um lugar possível de se referenciar dentro da infinidade de possibilidades que o universo apresenta. O astrônomo parte de suas experiências, do mundo vivido, para expor seus enunciados científicos. O que nos leva à seguinte proposta de Husserl: o mundo vivido é a origem do mundo conhecido ou objetivo. A pr

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A natureza da loucura é ao mesmo tempo sua útil sabedoria; sua razão de ser consiste em aproximar-se tão perto da razão, ser-lhe tão consubstancial que formarão, ambas, um texto indissolúvel, onde só se pode decifrar a finalidade da natureza: é preciso a loucura do amor para conservar a espécie; são precisos os delírios da ambição para a boa ordem dos corpos políticos; é preciso a avidez insensata para criar riquezas" "(...) a razão reconhece imediatamente a negatividade do louco no não-razoável, mas reconhece a si mesma no conteúdo racional de toda loucura" "No momento em que quer alcançar o homem concreto, a experiência da loucura encontra a moral" "A loucura da loucura está em ser secretamente razão" "O desatino é que a verdade da loucura é a razão" "Mas o louco tem seus bons momentos, ou melhor, ele é, em sua loucura, o próprio momento da verdade; insensato, tem mais senso comum e desatina menos que os

Terceira margem*

Ser capaz de abandonar o âmbito da subjetividade [ou de negá-la em função de um novo lugar existencial] significa um passo um tanto arriscado. Há que lançar-se numa aventura, como se estivesse diante de um rio e, num instante de inquietude, lançar-se, saltar. Há que mudar de margem. E este mudar de margem não significa um salto para o outro lado do rio, para a outra margem. Lá também existe a promessa de um solo seguro, sustentador de vida, acalentador da subjetividade. Não! este salto deve ser mais ousado...deve ser o salto no infundado...na terceira margem, onde não há solo cristalizado sustentador da vida. Falamos aqui do salto realizado pelo personagem de Guimarães Rosa no conto "A terceira margem do Rio”. A subjetividade estava encarnada na figura do Pai, um senhor até então ordeiro que um dia ousou abandonar o solo seguro da margem em que estava e empreitou-se na construção de um barco. Mas o intuito do Pai com a fabricação da canoa não era atingir a outra marg

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O devaneio poético é sempre novo diante do objeto ao qual se liga. De um devaneio a outro, o objeto já não é o mesmo; ele se renova, e esse movimento é uma renovação do sonhador" "Não saberíamos, sem os poetas, encontrar complementos diretos do nosso cogito de sonhador. Nem todos os objetos do mundo estão disponíveis para devaneios poéticos. Mas, assim que um poeta escolheu o seu objeto, o próprio objeto muda de ser. É promovido à condição de poético" "Temos tanta necessidade das lições de uma vida que começa, de uma alma que desabrocha, de um espírito que se abre!" "Ver e mostrar estão fenomenologicamente em violenta antítese" "No devaneio retomamos contato com possibilidades que o destino não soube utilizar. Um grande paradoxo está associado aos nossos devaneios voltados para a infância; esse passado morto tem em nós um futuro, o futuro de suas imagens vivas, o futuro do devaneio que se abre diante de toda imagem rede

Reflexões*

Quem se define se ausenta, se encerra, se enclausura e nem sequer se contenta ou se liberta. Quem se define, mente, sobretudo, para si mesmo. Honestamente quem se define de fato? Porque somente na hipocrisia puritanismos e moralismos são viáveis. Porventura, surpreende e não raras vezes o estranhamento alheio pela ausência do desejo de se definir. E se isso é uma postura ou impostura pouco importa, uma vez que o sustento dessa poesia é a própria indefinição que não se enquadra e nem se ajuste; e é mestiça, plural, vira-lata, marginal. Sim, as margens sempre compuseram o meu ninho, os meus caminhos, os meus descaminhos; os fluxos e os refluxos. As margens sempre foram a minha escolha e aquilo que eu privilegiei. Meus olhos sempre estiveram voltados para os subalternos. E assim, danem-se as convenções, as hierarquias que injustiçam socialmente; danem-se os julgamentos, em especial, daqueles que sequer se conhecem e desconhecem por onde caminhei para ser quem eu sou e par

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