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O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; m

Imagens do Pensar*

  "O imaginário e o real tornam-se indiscerníveis.” Gilles Deleuze “Quando tudo foi dito, quando a cena maior parece terminada, há o que vem depois.” Michelangelo Antonioni Minha, a letra que vem do pensamento, A roupa, visto ‒ a música, sinto na pele. Transfiguro em tua boca, triste é viver neste buraco, A solidão é o começo da liberdade, me faz cantarolar, Acordar noturno é o começo do tempo que se despede. A narrativa em filigranas discorre no tempo, Folhas perdem a força, sequência do pensar disperso, O presente está depois da imagem, em signos, na nuvem. O movimento é de Antonioni, reúne os tempos, O vazio mescla com o tempo morto. O que está aí, feito está. O que foi dito, está aqui. Presa do tempo, o homem, inventa o que vem depois, O Imaginário e o Real é o café da manhã à linguagem da vida. O mundo é feito não mais de heróis, os excessos perderam para os subjetivos obsedantes das Redes. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gom

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Mais uma vez, muito obrigado pelos livros. Eles distraem-me mais que qualquer outra coisa. Por quase cinco meses tenho vivido exclusivamente de minhas próprias provisões - ou seja, de minha própria mente e apenas dela" "Fico imensamente feliz por ter descoberto que trago paciência em minha alma por tanto tempo, que não desejo as coisas materiais e não preciso de nada mais que livros e a possibilidade de escrever e de estar sozinho por algumas horas todos os dias. Esse último desejo é o que mais me angustia. Por quase cinco anos tenho estado sob constante vigilância, ou com várias outras pessoas, e nem uma hora sequer sozinho comigo mesmo" "A constante companhia de outros funciona como um veneno u uma praga(...)" "(...) mas sei que compreendes que a rotina da caserna não é uma piada e que a vida de soldado, com todas as suas exigências, não é nada fácil para alguém com a saúde frágil como a minha, com a vida interior que tenho"

A proposta husserliana do mundo vivido como originário*

Podemos dizer que um dos intentos de Husserl com sua proposta fenomenológica é o de reivindicar o mundo vivido como a origem de nossos conhecimentos, de modo que o mundo conhecido ou objetivo não pode ser, como propõe o psicologismo de seu tempo, o único considerado verdadeiro. Desse modo, a ciência astronômica, por exemplo, que apresenta a Terra como um planeta ao lado dos demais, isto é, como mais um objeto como os outros, nasceu na própria Terra. Em outras palavras, o astrônomo parte da Terra como referencial vivido para definir objetivamente o movimento da terra, bem como a questão do repouso, do espaço e do caráter objetivo em geral. Com isso, a Terra não é mais um lugar possível de se referenciar dentro da infinidade de possibilidades que o universo apresenta. O astrônomo parte de suas experiências, do mundo vivido, para expor seus enunciados científicos. O que nos leva à seguinte proposta de Husserl: o mundo vivido é a origem do mundo conhecido ou objetivo. A pr

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A natureza da loucura é ao mesmo tempo sua útil sabedoria; sua razão de ser consiste em aproximar-se tão perto da razão, ser-lhe tão consubstancial que formarão, ambas, um texto indissolúvel, onde só se pode decifrar a finalidade da natureza: é preciso a loucura do amor para conservar a espécie; são precisos os delírios da ambição para a boa ordem dos corpos políticos; é preciso a avidez insensata para criar riquezas" "(...) a razão reconhece imediatamente a negatividade do louco no não-razoável, mas reconhece a si mesma no conteúdo racional de toda loucura" "No momento em que quer alcançar o homem concreto, a experiência da loucura encontra a moral" "A loucura da loucura está em ser secretamente razão" "O desatino é que a verdade da loucura é a razão" "Mas o louco tem seus bons momentos, ou melhor, ele é, em sua loucura, o próprio momento da verdade; insensato, tem mais senso comum e desatina menos que os

Terceira margem*

Ser capaz de abandonar o âmbito da subjetividade [ou de negá-la em função de um novo lugar existencial] significa um passo um tanto arriscado. Há que lançar-se numa aventura, como se estivesse diante de um rio e, num instante de inquietude, lançar-se, saltar. Há que mudar de margem. E este mudar de margem não significa um salto para o outro lado do rio, para a outra margem. Lá também existe a promessa de um solo seguro, sustentador de vida, acalentador da subjetividade. Não! este salto deve ser mais ousado...deve ser o salto no infundado...na terceira margem, onde não há solo cristalizado sustentador da vida. Falamos aqui do salto realizado pelo personagem de Guimarães Rosa no conto "A terceira margem do Rio”. A subjetividade estava encarnada na figura do Pai, um senhor até então ordeiro que um dia ousou abandonar o solo seguro da margem em que estava e empreitou-se na construção de um barco. Mas o intuito do Pai com a fabricação da canoa não era atingir a outra marg

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