Pular para o conteúdo principal

Postagens

Um minuto*

Os trovões deram uma pausa. A chuva aquietou o calor excessivo. Os ventos recolheram as nuvens. A constelação de Aquário assumiu o comando nos convocando a cuidar da humanidade. Neste minuto do novo dia o céu se abriu trazendo novos desafios. Uma concha que fora de Afrodite nos convida a entrar mar adentro. Mistérios a serem revelados nos aguardam. Navegamos até as brumas e entramos no oculto. Os raios uranianos nos esperam para abrir caminhos até então desconhecidos. Um nave espacial cheia de luzes se apresenta. A porta de metal se abre e somos sugados. As luzes dos metais ofuscam nossa visão, até que uma voz firme nos diz: "o tempo é de transição. Confiem. É só o começo. Sabemos o quanto estão assustados., mas tudo faz parte de um processo. Nada é eterno no cosmos. Tudo é um vir-a-ser. Olhem sem mágoa e rancor. Confiem. Há um mundo sendo organizado". *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora ? Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus" "Para começo de conversa, afianço que só se vive, vida mesmo, quando se aprende que até a mentira é verdade"  "Mas para se experimentar uma surpresa é necessário que a rotina dos hábitos e manias seja por qualquer motivo suspensa" "Nunca vi uma coisa mais solitária do que ter uma ideia original e nova. Não se é apoiado por ninguém e mal se acredita em si mesmo. Quanto mais nova a sensação-ideia, mais perto se parece estar da solidão da loucura" "Quero me reinaugurar. E para isso tenho que abdicar de toda a minha obra e começar humildemente, sem endeusamento, de um começo em que não haja resquícios de qualqu

Ditirambos*

Existe uma lógica superlativa em meio às façanhas usuais. Não fora seu ser extraordinário a desalojar cotidianos, poderia acessar, com mais facilidade, a epistemologia das coisas ao seu redor. Sua encenação de caráter imperfeito escolhe a vertigem para traduzir amanhãs. Um inusitado cio criativo, de essência exploratória, realiza festejos para representar mesclas de exclusão e integração. Sua essência Dionisíaca sugere uma nova página às promessas de um para sempre. Seu jogo de cena inventa linguagens para redesenhar a vida acontecendo. Essa dança de consciência alterada ensaia rupturas ao padrão existencial. Sua expressividade é das ruas, praças, teatros, diante do espelho. Seu êxtase menciona um lugar quase esquecido, recém chegando pelo deslocamento fora de si. Num estado diferenciado a existência se encontra com sua irrealidade, rascunha novas proposições. Ao surgir em retórica dançarina, o fenômeno ditirambo prescreve eventos de paixão desarrazoada. Em trânsitos d

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) as leis não estão todas escritas em um livro, os costumes também criam leis, as mais importantes são as menos conhecidas" "Eu me via, de súbito, como num país estrangeiro cuja língua eu ignorava; não podia me agarrar a nada, vendo coisas a que já não sentia minha alma ligada" "(...) volta e meia eu percorria enormes distâncias, à beira das águas, pelos vales, no cume dos rochedos, em plenas charnecas, recolhendo pensamentos nos bosques e nas matas" "Há na natureza efeitos cujos significados não têm limites, e que se elevam à altura das maiores concepções do espírito" "O som de uma palavra viva demais abalava seu ser, um desejo a ofendia; para ela, era preciso haver amor velado, força mesclada de ternura, enfim, tudo o que ela era para os outros" "Seu rosto é um desses que, para ser pintado com semelhança, exige o artista raro cuja mão sabe pintar o reflexo dos fogos internos e restituir esse vapor

Notas sobre o compromisso do filósofo com a vida*

Uma vez que a filosofia tem como finalidade abordar a totalidade do real no qual estamos inseridos e do qual fazemos parte, o filósofo possui um compromisso com esse todo de tal modo que sua vida deve corresponder aos resultados que alcança.   Isto porque o compromisso da filosofia é com o ser, enquanto os demais saberes se voltam aos entes com maior ou menor abrangência. Um historiador, por exemplo, pode conhecer a fundo os princípios que norteiam determinada sociedade em um momento específico no tempo e, depois de sua atividade de pesquisa, pode engavetar seus projetos e ir para casa tranquilamente. Mas, um filósofo, no caso de um estudo ético, pensa as implicações éticas baseando-se em sua própria experiência, em diálogo com filósofos de todos os tempos, e busca uma conceitualização universal, de tal modo que seria uma espécie de esquizofrenia se desligar desse todo para "voltar-se" à vida cotidiana como se o que aprendeu não tivesse relação com a vida pessoal

Retrato*

Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? *Cecília Meireles

A palavra mundo*

As palavras sempre fluem de sensações que nos acometem a todo instante. As vezes me parece um fluxo contínuo e irreparável. E é com esses substratos simbólicos, fonéticos e tão distintos que compomos os nossos discursos; é com isso que produzimos conhecimento e ainda, é com isso, que podemos tanto tocar todos aqueles capazes de nos perceber. Os fenômenos que o sentir nos provoca ou nos convoca faz de nós instrumentos capazes de tocar e ser tocados pelo menos até nos comover para nos converter em pontes hábeis a dirimir distâncias ou, ainda, mesmo sem querer, nos tornar naus que assumem a vocação de navegar cada vez mais nesse oceano todinho feito de infinitos e que se chama amor. Talvez por isso e muito mais, seja cada vez mais evidente que as palavras tem poder porque elas causam ações que afetam a sua realidade e isso, define ou redefine as direções. As palavras podem até mesmo manchar de verde as suas próprias retinas outrora opacas. As palavras ora em sobressaltos

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Logo refletiu que a realidade não costuma coincidir com as previsões com lógica perversa inferiu que prever um detalhe circunstancial é impedir que este aconteça" "Hladik preconizava o verso porque ele impede que os espectadores se esqueçam da irrealidade, que é a condição da arte" "Diferentemente de Newton e de Schopenhauer, seu antepassado não acreditava num tempo uniforme, absoluto. Acreditava em infinitas séries de tempos, numa rede crescente e vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos" "(...) Depois refleti que todas as coisas sempre acontecem precisamente a alguém, precisamente agora. Séculos de séculos e só no presente ocorrem os fatos" "(...) Conheci o que os gregos ignoram: a incerteza" "(...) Depois de nove ou dez noites compreendeu com alguma amargura que nada podia esperar daqueles alunos que aceitavam com passividade sua doutrina, e sim daqueles que arriscavam, às vezes, uma

Poética*

"Poesia : procura de um agora e de um aqui.”                           Octavio Paz A poesia é o rastro da vida. O rastro de uma explosão no universo que estilhaça em milhões de objetos, imagens, que nem todas as línguas conseguem dar conta. Mas o fato de o signo estar colado no que existe, da nuvem de linguagens, certamente é o que consegue ver além do olhar preso na realidade. Caminhos que perdemos pode ser um leve encontro poético mediado por signos e objetos. Quem um dia atravessou, quem passou por estradas, ruas, águas e o mais distante nas alturas, pensou na construção de suas emoções? Nem tudo é poesia na vida, mas a poética está em todos os lugares. O fato de existir narrativas sobre todas as coisas não significa que daí há poesia, mas a poesia está nela, na narrativa que diante da linguagem se faz o poético mais oculto ou mais límpido aos olhos.  Temos depois o processo da leitura da vida: o entendimento da vida nem sempre é poético mas a beleza da fo

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"De fato, todo filme parece dizer que não há diferença , que a vida imaginária é tão real quanto a outra, e que a vida que tomamos por real pode a qualquer momento se tornar inverossímil, absurda, anormal, perversa, levada a extremos por nossos desejos ocultos" "O indefinível era melhor do que o específico, ainda que exótico, Buñuel, além disso, sonhava em introduzir sorrateiramente algumas informações falsas em todos os seus filmes, como que para minar e desviar ligeiramente o rumo da história e da geografia; a verdade fiel o aborrecia tanto quanto um espartilho apertado" "O fenômeno da identificação - a joia do cinema, a transferência mágica, a passagem secreta de um coração a outro - provavelmente está além da explicação racional. Ele mexe em demasia com parâmetros parcamente conhecidos" "Também sabemos que de início praticamente todas as obras-primas foram rejeitadas e vilipendiadas. É quase uma regra. Toda obra realmente forte te

Supermercado sentimental*

Este é um ensaio de ficção autobiográfica da série “Aconteceu com um amigo”. Qualquer semelhança com pessoas ou acontecimentos é fruto do inconsciente ou provavelmente aconteceu num mundo virtual. Se você conseguir imaginar e entrar na história, então já será realidade. Bom dia, Faço parte de um grupo de homens que cada vez mais cresce no mercado: separado, cinquentão, estabilizado financeiramente, à procura de uma mulher mais jovem, bonita, madura intelectualmente, companheira e independente. Dizem que tenho “dedo podre” e só encontro mulheres problemáticas, mas a verdade é que só colocam nas prateleiras carne com papelão, leite com farinha, verdura com agrotóxico. Assim fica difícil encontrar algo de bom nas gôndolas. O que me fascina em uma mulher é o que ela tem entre as duas orelhas. Inteligência emocional, sensibilidade, afetividade, maturidade, cultura, ética, charme, humildade, bom humor. O que encontro nas ofertas do supermercado costuma ser maquiagem, bot

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Todavia, é no momento em que nos liberta da realidade que o devaneio é mais salutar" "A primeira tarefa do poeta é libertar em nós uma matéria que quer sonhar" "Há no céu tantos sonhos que a poesia, embaraçada pelas velhas palavras, não conseguiu nomear!" "(...) o mundo sonha em nós dinamicamente" "Se a imaginação é realmente o poder formador dos pensamentos humanos, compreender-se-á facilmente que a transmissão dos pensamentos não se possa fazer senão entre duas imaginações afinadas" "Jack London desenvolve, a este respeito, uma teoria da dupla personalidade humana: personalidade onírica e racional, que distingue profundamente a vida de nossos dias e a vida de nossas noites" "Para a imaginação dinâmica, o primeiro ser que voa num sonho é o próprio sonhador. Se alguém o acompanha em seu voo, é antes o silfo ou a sílfide, uma nuvem, uma sombra; é um véu, uma forma aérea envolvida, envolv

Visitas