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Na outra margem*

     “Nosso futuro é tão irrevogável Quanto o rígido ontem.” Jorge Luis Borges (do poema Para um versão do i ching) A dor é minha, a semente que guardo nos olhos, fonte de energia que trago no peito, o alarme da vida, o sopro do coração, a braceada perdida no tempo, o levante dos invisíveis, o Nada e o nadar no mar, a perdição dos esquecidos, a morte dos ricos, o apodrecimento dos pobres, o casamento dos notívagos que, soturnos, vagueiam noite adentro até encontrar o primeiro templo e lá jurar amor eterno a Deus e esquecer seu Outro, o lado da vida está aberto ao desconhecido. A miséria de poder ver-se nu em águas de um rio sujo que preserva a vida dos homens e mata os peixes já sem oxigênio. Um dia esse poema matará o homem em sua redoma de dominar a natureza. A irredutível vagabundagem dos poetas em quererem ser malditos e esquecer a linguagem dentro de si.  O desperdício do olhar que não resulta mais em poética. A doença apressada em ódio de uma sociedade que s

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte" "(...) me inventei neste gosto, de especular ideia" "Tudo é e não é..." "Passarinho que se debruça - o voo já está pronto!" "(...) terríveis bons espíritos me protegem (...) eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa (...) para pensar longe, sou cão mestre - o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos" "Qualquer sombrinha me refresca. Mas é só muito provisório" "Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo" "(...) o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando" "Eu me le

Quem é este outro ?*

Você está a minha frente. Com seus pensamentos e sentimentos. Eu estou ao seu lado. Com sentimentos e pensamentos. Estamos realmente juntos ou somos ilhas com um mar entre nós? Queremos relacionar, mas não sabemos como fazer uma ponte entre nós. Estamos agarrados em nossos egos ora inflado, ora vitimizados. Defendidos em nosso porto ilusoriamente seguro. Será que você me aceitará? Será que corresponderei a sua expectativa? Será que serei amado e compreendido por você? São questões que me fecham neste meu mundo e não lanço mar a dentro para lhe encontrar. Será que conseguirei lhe controlar? Será que modificarei você? Será que lhe mostrarei quanto inteligente sou e minha ideias as verdadeiras? São outros pensamentos que dominam minha mente insegura e frágil. Teoricamente é lindo dizer que amo você. Será verdade isto? Sinto a dimensão do amor? Ou amar é apenas desejo de minhas faltas? Preciso ter consciência que tem muitos dentro de você e de mim. Um Olimpo inteiro

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Para pensar a linguagem é preciso penetrar na fala da linguagem a fim de conseguirmos morar na linguagem, isto é, na sua fala e não na nossa. Somente assim é possível alcançar o âmbito no qual pode ou não acontecer que, a partir desse âmbito, a linguagem nos confie o seu modo de ser, a sua essência. Entregamos a fala à linguagem. Não queremos fundamentar a linguagem com base em outra coisa do que ela mesma nem esclarecer outras coisas através da linguagem" "Ninguém ousaria considerar errônea ou mesmo inútil a caracterização da linguagem como expressão sonora de movimentos interiores da alma, como atividade humana, como uma representação figurada e conceitual" "A poesia de um poeta está sempre impronunciada. Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo" "O estranho está em travessia. Sua errância não é porém de qualquer jeito, sem determinação, para lá e para cá. O estranho caminha em busca do lugar em que pode

Invisibilidades*

"Não pude dispersar os meus deslimites Que caiam e refaziam os caminhos de volta a mim. E agora... encontro-me enfermo de sonhos!” Djandre Rolim Um reflexo parece dizer sobre se estar dentro da vida e fora do tempo, como uma ficção exilada na realidade. Ao ter uma epistemologia de subúrbio, sua filosofia da estranheza esboça um soar excessivo. A atitude introspectiva refaz manuscritos sobre o fenômeno à deriva no traço. Interseção extraordinária entre o lapso das travessias e as poéticas do absurdo. Atualiza a visão desses delicados contornos a se deslocar, parece reivindicar uma arte de tornar-se. A partir desse sujeito transbordando originais, os excepcionais eventos integram a irrealidade presente no cotidiano. Esse esboço de eus ficaria irreconhecível, não fosse essa tradução nas entrelinhas de ir e vir. O estrangeiro de cada um se oferece nos trocadilhos, distorções, contradições quase imperceptíveis, muitas vezes em labirintos de lógica kafkiana, ond

Uma didática da invenção*

I Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos f) Como pegar na voz de um peixe g) Qual o lado da noite que umedece primeiro. etc. etc. etc. Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios. II Desinventar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao pente funções de não pentear. Até que ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha. Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma. III Repetir repetir — até ficar diferente. Repetir é um dom do estilo. IV No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava escrito: Poesia é quando a tarde está competente para dálias.

Intervenção literária já!*

Intervenção literária já!!! Esse é o meu apelo!!! Uma vez que o povo precisa urgentemente conhecer as suas histórias locais, a história do Brasil, a literatura brasileira e a poesia pelo menos...  Depois disso, o discernimento seria irreversível e se tornaria epidêmico; e a farra dos três poderes certamente sucumbiria porque não se sustentaria nesse novo cenário orientado por justiça social e sustentabilidade.  Enfim, temos que ser radicais sim, temos que nos entregar a prática da leitura e da escuta atenta para conhecer pelos nossos próprios sentidos a história verdadeira do nosso país - pelo menos do século XX - tão continental. Musa! Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Escritor. Filósofo Clínico Uberlândia/MG

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