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Reflexões e Partilhas*

Hoje vi uma propaganda na qual dizia que o brasileiro lê em média quatro livros por ano. O que, segundo o anúncio, é ridículo. O problema, segundo a narrativa, era que o brasileiro lê devagar e, dispondo de trinta minutos por dia, teria dificuldade de ler um número considerável de livros anualmente. Diante do problema apresentado, a solução proposta é que se faça um curso de leitura dinâmica. A solução é a mais ridícula possível por algumas razões: 1) Não se tem notícia de nenhum grande intelectual que tenha se dedicado à Leitura Dinâmica (LD). (Ler muito não significa ler mil palavras por minuto). 2) Nos raros casos em que é honesto, o curso de LD afirma sua eficácia em textos mais informativos e naqueles que temos mais domínio do assunto. No caso de conteúdos novos e/ou densos, é inevitável ter que diminuir a velocidade para que haja compreensão. (Vocês não têm ideia de quanto tempo já passei em uma página de um texto de Heidegger). 3) Li artigos de intern

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Como pode uma época compreender ou apreciar aquilo que, por definição a supera ?" "Toda a arte é uma forma de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer - falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é a literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama"   "Toda obra fala por si, com a voz que lhe é própria, e naquela linguagem em que se forma na mente; quem não entende não pode entender, e não há pois que explicar-lhe. É como fazer compreender a alguém um idioma que ele não fala" "Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos.  E então cada flor amarela é uma nova flor amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente não é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser já o mesmo

O Instante Aprendiz*

                                            “Todas as coisas são de tal natureza que, quanto mais abundante é a dose de loucura que encerram, tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais”                                                      Erasmo de Rotterdam Ao esboçar apontamentos sobre uma lógica da loucura, um viés de absurdidade se desvela em estilhaços de múltiplas faces. Fronteira onde a normalidade se reconhece nos seus paradoxos. Uma das características da expressividade delirante é ensimesmar-se em desacordo com o mundo ao seu redor. Cria dialetos de difícil acesso para proteger versões de maior intimidade. O papel da filosofia clínica na interseção com a crise imediata também é apresentação indeterminada num processo caracterizado pelo exagero da manifestação partilhante. Um não saber veicula provisórias verdades no compartilhar desconstrutivo das sessões. Representações existenciais difusas se alternam em narrativas no tempo da pessoa. A linguagem

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não muito mais adiante, Sócrates compara a uma droga ( phármakon ) os textos escritos que Fedro trouxe consigo. Esse phármakon , essa medicina, esse filtro, ao mesmo tempo remédio e veneno, já se introduz no corpo do discurso com toda sua ambivalência. Esse encanto, essa virtude de fascinação, essa potência de feitiço podem ser - alternadas ou simultaneamente - benéficas e maléficas" "Descrevendo o lógos como um zôon , Platão segue alguns retóricos e sofistas que, antes dele, opuseram à rigidez cadavérica da escritura a fala viva, regulando-se infalivelmente sobre as necessidades da situação atual, as expectativas e a demanda dos interlocutores presentes, farejando os lugares onde ela deve se produzir, fingindo curvar-se no momento em que ela se apresenta ao mesmo tempo persuasiva e constrangedora. O lógos , ser vivo e animado, é também um organismo engendrado" "Thot repete tudo na adição do suplemento: suprimindo o sol, ele é outro que o sol e o

O Ser Sem Representação*

Esse futuro nos iludira, mas não importava: amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços... E, uma bela manhã...                                                   F. Scoott Fitzgerald                   Ícones do corpo, espaço da não representação, o olho furado tem espaço no mundo virtual, ganha a expressão das cores em notas musicais, a tribal eletrônica Björk expande os sentidos dos meus dias, os tambores me levam para longe das máscaras, o Brasil virou uma sinfonia de arrepiar, um sonho fora do lugar... essa é a distância entre o devir e o isolamento absoluto de uma realidade neurotizada pela tentação do conhecimento único. O próprio movimento do que é feito os corpos, os sons e a imagem que vem da unidade do ser e do nada, e como bem disse Heidegger “...a realidade do mundo não pode consistir em um ser”. Eu olho no horizonte a tua partida a outro país, a tua arte ficou no caos do cotidiano, a inquietação das coisas é que dá ânimo ao sonho à sinfonia da

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