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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o sentido depende do nível em que o leitor se coloca" "Dionísio é um deus complexo, dialético; é ao mesmo tempo um deus infernal e da renovação; é o próprio deus desta contradição. É verdade que, ao se civilizarem, isto é, ao passarem à categoria de instituições civis, os gêneros dionisíacos (ditirambo, drama satírico, comédia) purificaram, simplificaram, apaziguaram o temperamento inquietante do deus: era uma questão de ênfase"  "(...) o sentido obtuso parece desdobrar suas asas fora da cultura, do saber, da informação;/ analiticamente, tem algo de irrisório: porque leva ao infinito da linguagem, poderá parecer limitado à observação da razão analítica; pertence à classe dos trocadilhos, das pilhérias, das despesas inúteis; indiferente às categorias morais ou estéticas (o trivial, o fútil, o postiço, o pastiche), enquadra-se na categoria do carnaval (...)" (...) dizer o contrário sem renunciar ao que se contradiz: Brecht teria amado

Reflexões e Partilhas*

Juntos somos muito mais poderosos e mais poder ainda descobrimos quando escolhemos encantar em vez de tolher, cuidar em vez de ferir. Lembra? Nós sempre fomos incansáveis! Seguimos rastros deixados por outros maiores do que nós e o que encontramos foi poesia. Perseguimos sonhos e também os nossos sonhos e o que encontramos foi poesia. Focamos em metas, em produtividade e nos lançamos na direção delas e tudo que encontramos de mais salutar foi poesia. E quanto mais poesia, mais vivo nos sentíamos porque a vida é sempre mais plena na arte. Perdemos as contas de quantas razões nós tínhamos para sorrir juntos. E até nos momentos de aridez durante algumas fases das nossas jornadas na vida havia poesia e foi ela que matou a nossa sede e nos ajudou a compreender o que acontecia e por onde prosseguir para superar os desafios devidos. Descobrimos juntos que a poesia estava sempre aqui e agora, em qualquer lugar e em todo lugar de dentro e de fora de nós porque ela mesmo sem querer

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) se o que está em estado nascente for medido com base no padrão daquilo que já está estabelecido. O establishment , com efeito, não é uma simples casta social, é, antes de mais nada, um estado de espírito que tem medo de enfrentar o estranho e o estrangeiro" "(...) a arte de pensar é efetivamente uma arte e integra uma dimensão estética que posteriormente, foi confinada à esfera das 'belas artes'" "Ao nomear, com excessiva precisão, aquilo que se apreende, mata-se aquilo que é nomeado. Os poetas nos tornaram atentos a tal processo" "(...) estar atento a uma lógica do instante, apegada ao que é vivido aqui e agora. Tal lógica do instante nada mais tem a ver com a vontade racionalista que pensa pode agir sobre as coisas e as pessoas. Ela é muito mais tributária do acaso, de um acaso que ao mesmo tempo é necessário,; próxima, nisto, do que os surrealistas chamavam de 'acaso objetivo'" "O próprio do aco

História(s) humanas 2*

“O que é explicado como ideia e não como definição.” Werner Jaeger Coisas do mundo existem, digo, as mais preciosas e estranhas estão aqui no Brasil. Vivemos no país digno de ficção, um prato cheio para a literatura. Alguém escreveu que este país está virando um hospício. Estou sentindo em mim pequenas transformações no humor, na paciência em lidar com os objetos, com imaginário e os mais palpáveis tipos de estranhamentos. Como ligar o mundo concreto, aquela construção da consciência de Herder, em que o acolhimento histórico ligava a vida ao futuro? Estamos no tempo das versões e superações dos apóstolos da decadência dos valores modernos, a história já não é um caminho inexorável, o retorno é uma versão idealizada do que já foi o concreto estar no mundo. O mundo parece estar novamente no dilema entre o domínio das coisas, de um lado, no obscurantismo do que foi dado, e o retorno cego ao princípio das leis monoteístas sobre a vida. O que é de espantar, de ver os que u

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) tudo adquire sob seus dedos um sentido Descartes que se pode compreender de várias formas, tudo passa a funcionar num mundo Descartes, enigmático como todo individual; sua própria vida vira testemunho de uma maneira de tratar a vida e o mundo, e esse testemunho, como qualquer outro, exige interpretação"  "(...) um filósofo livre (...) nele mesmo, em estado nascente, não é uma soma de ideias mas um movimento que deixa atrás de si um sulco e antecipa seu futuro, a distinção entre o que nele se encontra e aquilo que as metamorfoses por vir nele encontrarão (...)" "(...) é o preço que se deve pagar para ter uma linguagem conquistadora, que não se limite a enunciar o que já sabíamos, mas nos introduza a experiências estranhas, a perspectivas que nunca serão as nossas, e nos desfaça enfim de nossos preconceitos. Jamais veríamos uma paisagem nova se não tivéssemos, com nossos olhos, o meio de surpreender, de interrogar e de dar forma a configuraçõe

Sobre “O Belo Perigo”*

Um dia, por acasos lindos da vida, aparece em minhas mãos um livro interessantíssimo, eu estava no Guion Cinemas na Cidade Baixa e isso é importante que seja dito, já que ali tem algumas das coisas mais interessantes que acontecem em Porto Alegre. Lugar de cultura, selecionadas demonstrações de cinema, além de livros, CDs, discos, obras de arte e café. Coisas palpáveis, com cores, cheiro e sabor.  E que livro é esse, que tem um título aparentemente controverso? “O Belo Perigo”. Esse livro trata de uma conversa entre Claude Bonnefoy, crítico literário e o filósofo Michel Foucault. Na entrevista o filósofo fala como iniciou seu processo de escrita, fala sobre a história e os desdobramentos dessa atividade e o momento em que a assume como fundamental para sua vida, passando a refletir “(...) sobre a produção e o controle da escrita – suas potencialidades, limitações e perigos”. Foucault revela que “(...) Gostaria de fazer aparecer o que está próximo demais de nosso olhar pa

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(..) e tudo no mundo tivesse seu próprio nome secreto, um nome que não pode ser transmitido por nenhuma linguagem e que é simplesmente a visão e a sensação da própria coisa" "É sempre melhor o livro que se tem na cabeça do que aquele que se consegue pôr no papel" "(...) Aventure-se muito além no amor, diz consigo mesma, e você renuncia à cidadania no país que construiu para si mesma. Acaba apenas navegando de porto em porto" "(...) parte do encanto de um bolo é sua inevitável imperfeição" "De algum modo parece que deixou seu próprio mundo e entrou no reino do livro" "É suficiente estar nesta casa, a salvo da guerra, com uma noite de leituras pela frente, depois dormir, e trabalhar de novo pela manhã. É suficiente que os postes lancem sombras amareladas nas árvores" "Você tenta prender o momento, bem aqui, na cozinha, ao lado das flores. Tenta habitá-lo, amá-lo, porque é seu e porque o que exi

Reflexões e Partilhas*

Hoje vi uma propaganda na qual dizia que o brasileiro lê em média quatro livros por ano. O que, segundo o anúncio, é ridículo. O problema, segundo a narrativa, era que o brasileiro lê devagar e, dispondo de trinta minutos por dia, teria dificuldade de ler um número considerável de livros anualmente. Diante do problema apresentado, a solução proposta é que se faça um curso de leitura dinâmica. A solução é a mais ridícula possível por algumas razões: 1) Não se tem notícia de nenhum grande intelectual que tenha se dedicado à Leitura Dinâmica (LD). (Ler muito não significa ler mil palavras por minuto). 2) Nos raros casos em que é honesto, o curso de LD afirma sua eficácia em textos mais informativos e naqueles que temos mais domínio do assunto. No caso de conteúdos novos e/ou densos, é inevitável ter que diminuir a velocidade para que haja compreensão. (Vocês não têm ideia de quanto tempo já passei em uma página de um texto de Heidegger). 3) Li artigos de intern

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Como pode uma época compreender ou apreciar aquilo que, por definição a supera ?" "Toda a arte é uma forma de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer - falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é a literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama"   "Toda obra fala por si, com a voz que lhe é própria, e naquela linguagem em que se forma na mente; quem não entende não pode entender, e não há pois que explicar-lhe. É como fazer compreender a alguém um idioma que ele não fala" "Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos.  E então cada flor amarela é uma nova flor amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente não é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser já o mesmo

O Instante Aprendiz*

                                            “Todas as coisas são de tal natureza que, quanto mais abundante é a dose de loucura que encerram, tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais”                                                      Erasmo de Rotterdam Ao esboçar apontamentos sobre uma lógica da loucura, um viés de absurdidade se desvela em estilhaços de múltiplas faces. Fronteira onde a normalidade se reconhece nos seus paradoxos. Uma das características da expressividade delirante é ensimesmar-se em desacordo com o mundo ao seu redor. Cria dialetos de difícil acesso para proteger versões de maior intimidade. O papel da filosofia clínica na interseção com a crise imediata também é apresentação indeterminada num processo caracterizado pelo exagero da manifestação partilhante. Um não saber veicula provisórias verdades no compartilhar desconstrutivo das sessões. Representações existenciais difusas se alternam em narrativas no tempo da pessoa. A linguagem

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não muito mais adiante, Sócrates compara a uma droga ( phármakon ) os textos escritos que Fedro trouxe consigo. Esse phármakon , essa medicina, esse filtro, ao mesmo tempo remédio e veneno, já se introduz no corpo do discurso com toda sua ambivalência. Esse encanto, essa virtude de fascinação, essa potência de feitiço podem ser - alternadas ou simultaneamente - benéficas e maléficas" "Descrevendo o lógos como um zôon , Platão segue alguns retóricos e sofistas que, antes dele, opuseram à rigidez cadavérica da escritura a fala viva, regulando-se infalivelmente sobre as necessidades da situação atual, as expectativas e a demanda dos interlocutores presentes, farejando os lugares onde ela deve se produzir, fingindo curvar-se no momento em que ela se apresenta ao mesmo tempo persuasiva e constrangedora. O lógos , ser vivo e animado, é também um organismo engendrado" "Thot repete tudo na adição do suplemento: suprimindo o sol, ele é outro que o sol e o

O Ser Sem Representação*

Esse futuro nos iludira, mas não importava: amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços... E, uma bela manhã...                                                   F. Scoott Fitzgerald                   Ícones do corpo, espaço da não representação, o olho furado tem espaço no mundo virtual, ganha a expressão das cores em notas musicais, a tribal eletrônica Björk expande os sentidos dos meus dias, os tambores me levam para longe das máscaras, o Brasil virou uma sinfonia de arrepiar, um sonho fora do lugar... essa é a distância entre o devir e o isolamento absoluto de uma realidade neurotizada pela tentação do conhecimento único. O próprio movimento do que é feito os corpos, os sons e a imagem que vem da unidade do ser e do nada, e como bem disse Heidegger “...a realidade do mundo não pode consistir em um ser”. Eu olho no horizonte a tua partida a outro país, a tua arte ficou no caos do cotidiano, a inquietação das coisas é que dá ânimo ao sonho à sinfonia da

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Na Apologia, vê-se Sócrates se apresentar a seus juízes como o mestre do cuidado de si. É aquele que interpela as pessoas que passam e lhes diz: vos ocupais de vossas riquezas, e de vossa reputação e de vossas honras, mas não vos preocupais com vossa virtude e vossa alma. Sócrates é aquele que zela para que seus concidadãos 'cuidem de si mesmos'" "A filosofia está assimilada ao cuidado com a alma (...) e esse cuidado é uma tarefa que deve ser seguida ao longo de toda a vida" "(...) No Tratado da vida contemplativa, Fílon designa assim uma determinada prática dos Terapeutas como uma epimeléia da alma (...)" "Epicuro dizia: 'quando se é jovem não se deve hesitar em filosofar, e quando se é velho não se deve hesitar em filosofar. Nunca é cedo demais nem tarde demais para cuidar da alma''' "(...) não há outro fim nem outro termo a não ser estabelecer-se junto a si mesmo, 'residir em si mesmo' e a

O Estrangeiro*

Não suportamos os que são diferentes de nós porque têm a pele de cor diferente, falam uma língua que não compreendemos, porque comem rãs, macacos, porcos, alho, porque se fazem assim tão diferentes. Na vida, estamos sempre expostos ao trauma da diferença. Algumas vezes na existência, nos deparamos com situações que nos remetem ao olho do furacão, que nos deixam alienados de nossos quereres. Vamos vivendo nossa vida em compasso de espera, numa inércia de sentimentos, à mercê dos acontecimentos, onde o vazio afetivo se torna cotidiano. Habitamos nossa redoma de vidro, sem disposição ou coragem para correr riscos. Essa atitude de inércia desestabiliza nossas defesas, que foram construídas a ferro e fogo. Então, para desafiar nossos paradigmas, surge o estrangeiro, levantando simultaneamente o véu de nossa esperança e de nosso medo. Mas afinal, quem é esse estrangeiro? Consideramos estrangeiro, aquele indivíduo estranho a nós, não familiar, que nos instiga a reações incôm

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