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A situação e a interpretação*

Cada vez mais tenho me dado conta de que a fenomenologia, hermenêutica, a filosofia em geral e a Filosofia Clínica têm me ensinado é que em si as coisas são o que são. Mas, que diante disso, não é o que a coisa é que verdadeiramente importa, e sim como ela é para nós. Todas as coisas em si são o que são e elas não precisam ser mais do que isso, pois simplesmente são. Entretanto, o que cada coisa é para nós, assim torna-a influente em nossa vida.

Há uma velha história do copo de água. Colocaram um copo com água na exata metade. Quando perguntaram para um indiferente sobre o que ele vê, ele disse que era apenas um copo com água. O pessimista disse que era um copo quase vazio. E o otimista disse que era um copo quase cheio. Indiferença, otimismo ou pessimismo diante da vida, influi fortemente no modo como agimos no mundo, e não com a coisa, fato ou situação na qual estamos quando estas não podem ser mudadas. Contudo, nós mudamos a cada novo olhar sobre o mundo.

Um pessimista assiste telejornais sensacionalistas e corre o risco de querer deixar de sair de casa, pois o “mundo está muito perigoso”. Um otimista muda de canal e procura uma programação que mostre belos lugares para conhecer. Violento ou não, o risco é o mesmo para ambos, mas na melhor das hipóteses o otimista vai aproveitar muito mais do que o pessimista.

Um olhar mais atento a nossa volta e percebemos que um olhar pessimista e um otimista podem ser construídos. Não nascemos tão prontos e nos tornamos passíveis de mudança a todo o momento. E quando não nos dispomos mudar de dentro para fora, é possível mudar de fora para dentro. E como isso é possível? Uma proposta é alimentarmos nossos pensamentos, olhares, sensações do mesmo modo em que alimentamos nosso corpo com comida. Se comemos gorduras, nosso corpo fica engordurado, se comemos comidas saudáveis, nosso corpo torna-se são.

Filmes, amigos, família, festas, trabalho agradável, academia, programas mais inteligentes, comédias, bons livros, boas conversas, cursos e tantas outras opções são remédios que nos enriquecem e nos dispõe para novo olhar no mundo. A desesperança pela fome corrupção e violência pode mudar quando há ação, como uma doação a uma instituição que ajudará a diminuir a fome das pessoas da nossa cidade; podem fazer com que nos tornemos mais conscientes e participantes do processo democrático; pode nos levar a sorrir para a caixa do supermercado e fazer com que isso se torne uma corrente de bom humor e contribuir, como que num “efeito borboleta”[i], para que uma mãe passe bons exemplos para os filhos.

Não sabemos de todos os efeitos daquilo que fizemos. Mas, sabemos que um bom modo de ver as coisas nos predispõe a ficarmos melhores diante das situações do mundo, tanto as que podemos quanto as que não podemos mudar.

Assim é o que penso sobre as coisas hoje. Tudo isso pode mudar a qualquer momento, seja de dentro para fora, ou vice-versa. O importante aqui é mudar, de preferência, para melhor, seja lá o que isso possa significar para cada um de nós.

[i] Longe de uma explicação técnica, o “Efeito borboleta” popularmente é interpretado segundo a ideia de que um simples bater de asas de uma borboleta, desencadeia um processo em sequência que pode resultar num tufão do outro lado do mundo.

*Miguel Angelo Caruzo
Filósofo Clínico
Juiz de Fora/MG

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