“De pé, então, no meio
do Areópago, Paulo falou: ‘Cidadãos atenienses! Vejo que, sob todos os
aspectos, sois os mais religiosos dos homens. Pois, percorrendo a vossa cidade
e observando os vossos monumentos sagrados, encontrei até um altar com a
inscrição: ‘Ao Deus desconhecido’. Ora bem, o que adorais sem conhecer, isto
venho anunciar-vos’” (Atos dos Apóstolos 17, 22-23)
Quais templos de
dúvidas estamos reservando ao Deus desconhecido? Será que podemos colocar um
deus no lugar de um templo cujo lugar esteja reservado para as nossas maiores
dúvidas. Preenche-lo não seria um abandono da possibilidade das buscas? Será
que não é a busca que move o homem e este cada vez que responde definitivamente
determinadas questões acaba diminuindo suas capacidades e movimentos naturais
da vida?
Mestre Eckhart, místico
medieval dizia que as imagens de deus eram criações que o afastam de deus.
Portanto, a máxima dele: “Peçamos a Deus que nos livre de deus”. Tendo em conta
que esta divagação possui uma vertente agnóstica e não mística, podemos ver que
o próprio discurso de quem vive em profundidade as questões da religião, fala
antes das formas de tentar contemplar um “deus” do que privilegiar um discurso
moralista (como a maioria das religiões ocidentais o fazem hoje). Mas, o foco
aqui não é religião, e sim as “certezas”.
A maior beleza da
humanidade, afirma uns é a natureza. Segundo alguns ela é perfeita, segundo
outros ela é estudável (permitam-me o neologismo), para outros ela é a mais
perfeita criação de “deus” seja ele qual for e que expressa sua beleza ou
perfeição. Mas, o que todos os que se maravilham diante do que percebem
(religiosos, cientistas, filósofos, um simples lavrador, engraxate, poeta) é a
indizibilidade daquilo que seus olhos o permitem maravilhar-se.
Talvez o ponto em comum
entre todos é o ar de maravilhar-se ou espantar-se diante da natureza e o
segundo passo é querer entendê-lo. Filósofos postulam que o espantar-se com as
coisas é o princípio da filosofia, que por sinal não finaliza suas questões por
mais abrangente e sistemática que seja sua construção teórica.
Outra maravilha que
observamos na vida e na natureza é o que as pessoas chamam de amor. Embora seja
um dos termos mais comuns e mais controversos da sociedade. Pois diversos são
os grupos e indivíduos que proclamam o amor quando na verdade cada pessoa ama
de um jeito. Caso o leitor discorde de mim, pergunte ou observe como as pessoas
a sua volta expressam na prática o amor por alguém. Se afirmarem que o
sentimento é algo comum a todos, será uma hipótese vazia, pois até onde é
observável, sentimentos não são mensuráveis em outro lugar que não a vida
concreta.
Não estendendo essa
reflexão para além de Deus, Natureza e Amor, retomemos o raciocínio. Deus é o
nome dado ao que não é Deus, pelos místicos tais como Eckhart e João da Cruz o
afirmam em suas obras. A natureza nos coloca diante de um maravilhar-se que nos
impulsiona a buscar respostas sobre sua origem, funcionamento e sentido. O amor
é um “sentimento lindo”, porém não é algo “superior”, “sobrenatural”, ou tem a
origem em outra coisa que não a própria vida (ou seríamos tão limítrofes e
asquerosos que não nos julgaríamos capazes de possuir um sentimento tão nobre
por qualquer coisa que seja?).
Diante de tais
afirmações (passíveis e saudavelmente aceitáveis de serem postas em questão)
podemos inferir o seguinte: diante de um experiência pessoal cuja referência
(aparentemente sobrenatural) não se explica, não explique, pois perderá todo o
sentido (se é que queira que essa faça sentido).
Toda explicação será
posta em debate e como toda afirmação humana, correrá o risco de ser
racionalmente desfeita. Quanto à natureza em sua origem, funcionamento e
sentido para quem se maravilha com esse fenômeno digo que primeiro experimente
essa alegria que, até onde sabemos, só o homem é capaz de perceber desta forma.
Quanto às explicações, toda afirmação será limitada e questionada. Se o leitor
faz uma afirmação dogmática (seja de qualquer lugar que possa vir essa
dogmatização) guarde para si. Pois, a partir do momento que for posta em
questão para um grupo de humanos, ela será passível de ser destruída. Portanto,
se quer pôr à prova sua afirmação, abra para discussão.
Mas, se tiver medo de
desfazer tudo o que acreditou ser a resposta final até agora, mantenha-se com
suas certezas guardadas. Por fim, quando se tratar de amor, não o explique ou
não queira que ela tenha uma origem inexplicável (cuja contradição está em
afirmá-la inexplicável explicando-a) e que ela tem um caráter homogeneamente
universal. Basta apenas amar. O resto é resto. E toda afirmação é questionável,
inclusive a minha aqui no texto.
Grande abraço a todos e
fiquem à vontade para comentar, criticar, apoiar, concordar ou discordar. Pois,
se sou contra dogmatizações, minha opinião não deve contar como dogma e me
coloco aberto para mudar minha opinião ou minhas certezas por outras mais
plausíveis.
*Prof. Dr. Miguel
Angelo Caruzo
Filósofo. Escritor.
Filósofo Clínico. Livre Pensador.
Teresópolis/RJ
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