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O Melhor Beijo do Mundo*

A conversa corria solta no botequim quando meu amigo contou de um tio muito experiente em baladas noturnas e especialista em beijos. Havia lhe ensinado o melhor beijo do mundo e agora também ele desfrutava deste segredo e prazer com as mulheres.

“Como beijar” não é o tipo de conversa que homens costumam ter enquanto bebem, e por conta disto, o assunto não progrediu. O fato de uma conversa ter sido interrompida não significa que o recado não foi dado. O assunto foi trocado, mas a curiosidade permaneceu agendada em meu cérebro.

Como seria o tal beijo? Demorado, olhos fechados, molhado, mordido, línguas em labirinto, ininterrupto? Estilo Hollywood?
Roubado, decidido, precedido de uma conversa, um carinho, um olhar? As opções eram tantas que me desestimularam a ir adiante.

Achei que classificar um beijo como o melhor do mundo não era algo sério e registrei apenas as variantes catalogadas.
O destino queria que o assunto fosse adiante e criou a oportunidade. Sábado à noite, final de festa, lei seca, ofereci carona para meu amigo e sua companheira.

Sentaram no banco de trás e partimos. Comecei a escutar barulhos estranhos, estalos, gemidos, sucções e percebi que o tal beijo estava sendo colocado em prática. Pisquei para minha namorada com certa cumplicidade e decidimos ficar quietos para não atrapalhar a performance. Tentei olhar pelo espelho retrovisor, mas era noite escura e não pude visualizar quase nada.

Enquanto dirigia, meus pensamentos iam e vinham, mas uma certeza eu pude ter: aquele beijo deveria ser muito bom mesmo, pois os ruídos eram fantásticos. Quando chegamos em casa, até tentei praticar com minha namorada, mas o som de nosso beijo era discreto demais.

Não resisti a curiosidade e no dia seguinte pedi ao amigo que me ensinasse a técnica utilizada no beijo da noite anterior. Detalhe fundamental: solicitei uma explanação teórica, nada mais. A explicação não durou mais de trinta segundos, e foi mais que suficiente, sai dali convicto de ter aprendido o melhor beijo do mundo.

Querem saber? Estou em dúvida se conto agora ou deixo o final para o próximo artigo, afinal de contas já estou me estendendo demais. Uma coisa eu garanto, funciona. Façamos assim, já que esperaram até agora, mais alguns dias não vão fazer a diferença.

Beijar é uma maneira de compartilhar intimidades, de sentir o sabor do outro, de interromper a fala quando as palavras tornam-se supérfluas, de dizer mil coisas em silêncio. Pratiquem, criem situações novas, conversem com os companheiros, mandem sugestões. Vou ficar esperando. Logo, logo, ensino a técnica.

Ildo Meyer*
Médico, Filósofo Clínico
Porto Alegre/RS

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