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ORAÇÃO DO CORPO*



Vejo meu corpo se reconstituir como se lentamente fossem brotando galhos de goiabeira, de um bege claro, nas costas, com flores de cerejeira que emergem para os braços.

Cálices rosados acomodam pistilos com pólens arredondados de amarelo vivo. Assim, os músculos se enfeitam de filetes de saúde a ser cuidada com o carinho que pedem os filhos novos.

É bonito ver brotar a vida verde de troncos resistentes e superficialmente secos. Primavera já me vem dizer bom dia, pois o sol aquece a umidade do ar e a vegetação obedece à própria lógica, em conexão com o todo.

Sim, vou florir em azulejos e buscar ver a vida que pode existir nas matérias não comunicáveis por via verbal. Minha meditação é o silêncio das coisas; elas nos deixam ser e permitem que as conheçamos; só exigem um desabrochar que a cognição por vezes impede.

Dê-me teus braços de tendões sensíveis para te mostrar os rios que correm neles. Perceba as ondas naturais que existem por toda parte e, neste momento, sinta a fluidez do sangue pelos canais das veias indo e, abaixo da pele, vindo... para te oxigenar mais cedo; o corpo nunca dorme.

Não apresse o rio, não maltrate o coração. Ouça o ritmo da respiração que controla o seu pulsar. Tens tanto movimento interno quanto as engrenagens fabris. Emites tantas outras ondas para o universo em pensamento, energia, calor, vitalidade... Te deixes ser um irradiador do Bem em vez de coletor ostensivo.

Ao que foges para o intelecto, o social e a matéria externa, te perdes de si, autômato complexo subutilizado.

*Vânia Dantas
Filósofa Clínica
Brasília/DF

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