A primeira questão
fundamental é: o que é para cada pessoa o "consultório"? Bem como: o
que é para cada pessoa o "terapeuta" e a "ajuda"? Tem-se
como noção geral que quem procura a terapia procura a ajuda. Isso se mostra em Filosofia
Clínica uma falácia, mais um dos pré-juízos generalizados, termos universais da
nossa época. Em grande monta, sim, podemos dizer que a grande maioria das
pessoas procura o terapeuta buscando ajuda, porém, não podemos tomar isso como
universal, como se soubéssemos que aquele que adentra ao nosso consultório
buscasse obrigatoriamente ajuda, esquecendo-se da velha máxima filosófica
"só sei que nada sei", esquecendo-se que nada sabemos sobre aquela
pessoa, nem mesmo se ela procura ajuda.
Há pessoas que vêm até
o consultório, por exemplo, não para pedir ajuda, mas apenas para ter alguém
com quem conversar, procurando um espaço de diálogo, um espaço de relação, não
no sentido de um socorro, mas no sentido de poder viver algo que em outros
lugares da sua vida, da sua existência, não há possibilidade. Há também aquelas
pessoas que buscam o consultório com um objetivo historiográfico, elas querem
poder relatar para alguém suas questões, querem ter alguém para repassar seus
feitos e pensamentos, alguém que sirva de testemunho, alguém que ouça os seus
relatos e que saiba o que se passa em sua vida. Muitas vezes pessoas assim
rejeitam toda e qualquer intervenção por parte deste que hora chamamos de
terapeuta, Filósofo Clínico.
Há também aqueles que
chegam até o consultório, não por desejarem ali estar ou por ser essa uma busca
própria, mas por indicação, alguém os disse: você precisa de ajuda. E essa
pessoa, mesmo não buscando pela ajuda, ouve tal conselho e vai. Assim como há
aqueles que estão ali por curiosidade ou para conhecer esse novo tipo de
terapia, bem como aqueles que são literalmente arrastados, e vemos muito isso
em terapia de casal, com adolescentes e crianças, que não estão ali por livre e
espontânea vontade.
A questão de quem é o
terapeuta? Para alguns o papel do terapeuta será significado como “um amigo”,
alguém para ouvi-lo, alguém que irá acompanhá-lo ao longo da sua jornada.
Alguns inclusive já procuram a terapia buscando justamente alguém que possa
acompanhá-los em longo prazo, independente do que se suceda na sua vida, querem
alguém que os conheça, que esteja passo a passo ao seu lado na jornada da vida.
Para outros o terapeuta
é muito mais a figura distante e respeitosa de um conselheiro. Alguém que tem
condições de lhe indicar caminhos e possibilidades. Também têm aqueles para os
quais o Filósofo Clínico é nada mais do que o "último alento", o fim
da estrada. É a ultima chance de “salvação”, alguém que eles procuram quando a
vida está em trevas, está pesada, sendo visto como uma última luz para sua
existência, uma luz que às vezes a pessoa sabe que talvez exista e que ela
procura sem talvez nem mesmo enxergar.
O que tratar?
Vemos no dia a dia que
a grande maioria das pessoas é movida até o consultório principalmente em
decorrência de elementos sintomáticos, é a febre da infecção. A grande maioria
não é movida pelos seus elementos últimos, pelos seus assuntos derradeiros, mas
exclusivamente pelo fato de haver tantos elementos sintomáticos que já é
impossível, doloroso ou muito difícil caminhar deste jeito. Em grande parte isso
corresponde a uma característica de época da nossa sociedade, característica
essa em que a saúde existencial é a última a ser considerada. Em muitos
lugares, para muitos brasileiros, ir até um terapeuta ainda é considerado como
algo humilhante, como um "rebaixar-se", como algo feio, doloroso.
Constantemente
recebemos em consultório casais para os quais a terapia é a ultima
possibilidade antes de o casamento acabar, como ultima opção, pessoas que já
entraram em todo um quadro de choques existenciais, trilharam uma grande
estrada rumo a uma existência que nada tem a ver com elas, e que se houvessem
anteriormente ido procurar ajuda é bem provável que não tivessem chegado a este
ponto.
Não se pode considerar
a terapia apenas para aqueles casos que comparativamente em medicina seriam
considerados "casos terminais".
Mas o que se busca em
terapia? Em Filosofia Clínica, para cada pessoa uma resposta diferente se
apresenta.
*Gilberto Sendtko
Especialista em
Filosofia Clínica
Professor de
Pós-graduação
www.facebook.com/terapiachapeco
Fone: (49) 3329-8102
Comentários
Postar um comentário