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Libertação*

Para mim, libertação não está na renúncia. Sinto o abraço da liberdade em milhares de enlaces do deleite. Você sempre me serve a dose fresca do Teu vinho encorpado e aromático, enchendo esta taça terrena até a borda. Com Sua chama, meu mundo acenderá centenas de velas diferentes e as depositará no altar de Seu templo. Não, jamais fecharei as portas dos meus sentidos – os deleites da visão, do tato e da audição revelarão Seu deleite. Sim, minhas ilusões arderão no regozijo iluminado e a maturidade de meus desejos dará os frutos do amor. *Rabindranath Tagore

Educação para a Existência*

Nada é real, tudo é convenção. Se o real é convenção e a convenção está dentro do real, a convenção também é real, assim como nada é convenção e tudo é real.                                                        Rogério de Almeida                Somos muito mais que a fronteira do que está submerso na consciência. Consideramo-nos indivíduos pós-modernos.  Contudo, se formos honestos conosco, admitiremos o quanto somos convencionais.          Precisamos ver essa área de nossa existência como um ponto de partida, um meio de enxergar nosso padrão convencional, repetitivo e responsabilizar-nos pela criação de uma nova realidade. O nunca experimentado, o desconhecido, o alheio, são razões que geram a universalidade presente no inusitado.          Temos a inclinação de manter o nosso modo em tudo e, quando outro alguém nos brinda com uma novidade, pensamos com nossos botões: não dará certo, a minha maneira é a melhor; por que mudar? A resistência ao singular é prova cab

A palavra Kafka*

Um pretexto de múltiplas faces se apresenta no dialeto Kafka. Seu dizer multifacetado insinua labirintos, deslizes narrativos, frestas à uma admissão do improvável. Num anteparo de aspecto suspenso no ar, estórias mal contadas adicionam possibilidades ao termo definitivo.  Nesse imenso labirinto, uma lógica da descontinuidade aprecia levar todas as coisas ao limite de suas possibilidades. Ameaçam o território já conquistado, contradizem as verdades consentidas. Ela pode surgir em vielas inesperadas ou nos deslocamentos pelo cotidiano esconderijo. Parece querer dizer sobre a essência da liberdade ser incompletude, distorção, invenção, caminhos abertos.    Seu convite para acessar esse mundo de escassas fronteiras permanece. Nele o espectador de uma terra estranha se reconhece. Os roteiros imprevisíveis embalam ideias complexas. A irrealidade pode surgir como ameaça e seus cenários, ao se alternar, visualizam Kafka como um dos nomes da transubstância. São as releituras da lei

Esta noite vai chover...*

Perdão estimados professores de Português. Vou falar alguma besteira.  Nunca me convenci inteiramente das regras gramaticais. E principalmente da classificação dos verbos.  Vejam: diziam-me que existiam os verbos:  Regulares, os normais. Irregulares. Pensava comigo se estes seriam os não normais. Apareciam ainda os defectivos. Me soava aos ouvidos como defeituosos. Ainda os impessoais. Não queriam pronomes pessoais ou sujeitos por perto. E aí? Vejam ainda: Verbos que expressam fenômenos da natureza: Chove. Hoje a noite vai chover. Chove. Quem vai chover? Isto vai chover. E chove. Ah, mas uma nuvem não poderia dizer: eu chovo. E dizer para a vizinha: tu choves. E falar para uma terceira: ela chove. E todas juntas falarem: nós chovemos, vós choveis, elas chovem. Vou classificar minhas palavras e meus verbos em todos os tempos possíveis. Em todos os modos imaginados. Com todos os pronomes e sujeitos que os façam construir algum significado diferente...

Recomeços*

Desbravo caminhos que em minha alma acordam com os primeiros raios do sol. No caminho da vida peregrino sem cessar. Contemplo as tardes com saudades das manhãs. O fruto doce das alegrias se mistura ao verde das esperanças. Em cada canto um novo canto que na melodia da alma se faz sinfonia no silêncio dos meus tantos cantos. Alma peregrina que encontra nos portos seguros os mais belos horizontes. Assim é a vida... Um eterno amanhecer que nas tardes de outono sonham com as primaveras que hão de vir. No passado de pretéritos os amores sempre novos com saudades do passado. Sempre caminhar, se perdendo nos encontros e encontrando-se nas perdas. Viver assim como o caboclo que no chão lavra a terra de certezas da chuva sempre incerta. Olhar sem desanimar, e caminhar rumo ao meu avesso que tece esperanças com as estrelas que anunciam o presente das estações. Trilhar... a vida sem medo e mesmo com medo arriscar... Perder-se... Encontrar-se... E perder-se novamente... O que de m

O bem é sempre profundo e radical*

“toda a verdade é encurvada e o próprio tempo é um círculo?” Nietzsche   Em tempos de fraturas na história, na cultura e em tudo que surge, entre o olhar que faz e a mão que destrói, prefiro viver à margem das ideias construtoras de um mundo melhor.  Se o mundo começasse pelo desejo de ser um mundo melhor, se o mundo fosse a projeção daquilo que dos sonhos resultasse em algo, certamente não estaria aqui para pensar sobre o mundo. A perfeição existiria, nada de novo e assustador nos aconteceria, acontecimento seria o retorno do Todo, do Mesmo.  Então, prefiro mesmo que tenha que ter de errar, de pensar em tudo que não seja uniformizado, só assim eu posso me contradizer e refazer meu pensamento logo ali adiante. Isso não é um pecado. Mas os princípios universais, os existentes, não me encorajam a errar até à morte.  Prefiro viver com o bem ao meu lado, com as vicissitudes do engano mas prefiro, também, ver que meu pensamento está na direção do que sonhei e sonho tod

Mergulho ao vento*

Agora o silencio Voz engolida Na noite interna Beijos intensos Gozo da alma No olhar intenso Vou sem ir Fico sem ficar Desfaço nós Quebro o invisível Para que? Para quem? Recortes de muitos eus Vastidão indizível Rasgo o tempo Voo ao mar Mergulho ao vento Tomada pelos deuses Devoro Silencio sem medo Beijo os beijos De tanto amar *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora, Poetisa Juiz de Fora/MG

Inclusão!*

Podemos começar a falar de inclusão, tentando entender o conceito de integração.  Integrar é agregar uma pessoa em uma estrutura já pronta, definida, com seus processos já acertados e rígidos. A pessoa integrada faz o esforço de se adaptar aos valores, hábitos, normas e estruturas apresentadas a ela.  A ação do integrador, do cicerone, é mínima no sentido de dar atenção às necessidades da pessoa a ser integrada. Apresenta e deixa à vontade para o integrado se adaptar. Incluir é adaptar as estruturas e processos às necessidades e capacidades da pessoa que chega. É fazer dos hábitos e valores uma forma de ressonância com aquilo que o outro pode e consegue dar dentro de suas capacidades. O currículo adaptado em algumas escolas é um exemplo de inclusão. O aluno tem que atingir não o que toda a turma precisa atingir, mas aquilo o qual sua capacidade suporta. Tão importante quanto exercer a atividade de incluir é como se faz isso. Incluir passa pelo enfrentamento da alterida

Viagem*

"É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens e sentir passar as estrelas do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos. É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano e assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas que desejar que apareças, criando com teu simples gesto o sinal de uma eterna esperança. Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar, nem tu. Desenrolei de dentro do tempo a minha canção: não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar." *Cecília Meireles

A palavra reminiscência*

    Em uma recordação se pode reescrever fatos, reviver memórias esquecidas, alterar evidências, efetivar desconstruções, reconstruções, reinventar a própria estória. Sua matéria-prima, ao mesclar-se com a ótica atual, é capaz de apontar novas interseções, propor inéditos achados. Inicialmente por fragmentos sem conexão aparente, esses relatos apreciam multiplicar-se, emancipar periferias, descrever vontades marginais.  Ao rememorar eventos, esses já são outros eventos. As novas ideias, representações, vivências, ainda na perspectiva subjetiva, podem promover modificações de grande alcance no cotidiano de cada um. Esse movimento permite a contemplação das próprias ideias em deslocamento na malha intelectiva, alternância de endereços existenciais.    É comum as antigas referências de lugar, tempo e demais circunstâncias, expressarem, ao olhar atualizado, um território de verdades estranhas, as quais, ao transbordar num aqui_agora, já são outras. Assim, as relembranças, em sua

O Homem que Contempla*

Vejo que as tempestades vêm aí pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos, batem nas minhas janelas assustadas e ouço as distâncias dizerem coisas que não sei suportar sem um amigo, que não posso amar sem uma irmã. E a tempestade rodopia, e transforma tudo, atravessa a floresta e o tempo e tudo parece sem idade: a paisagem, como um verso do saltério, é pujança, ardor, eternidade. Que pequeno é aquilo contra que lutamos, como é imenso, o que contra nós luta; se nos deixássemos, como fazem as coisas, assaltar assim pela grande tempestade, — chegaríamos longe e seríamos anônimos. Triunfamos sobre o que é Pequeno e o próprio êxito torna-nos pequenos. Nem o Eterno nem o Extraordinário serão derrotados por nós. Este é o anjo que aparecia aos lutadores do Antigo Testamento: quando os nervos dos seus adversários na luta ficavam tensos e como metal, sentia-os ele debaixo dos seus dedos como cordas tocando profundas melodi

A(pro)fundando Narciso*

Inclino-me uma vez mais sobre Narciso.  Para tentar entendê-lo. Ou salvá-lo... Narciso puniu-se a si mesmo por ter se olhado no reflexo das águas.  Não parece ser tão simples assim. Parece que Narciso perdeu-se a si mesmo por não ter conseguido mais sair deste movimento fixo. Movimento que saía de si mesmo e retornava sobre si, sem nada lhe acrescentar. Preferiu sua própria imagem, oca e vazia, a si mesmo. Tentou buscar-se onde ele se via, isto é, onde ele não era. Nada mais desviaria seu olhar sobre si mesmo. Acontecia assim: Narciso sorria e a imagem lhe sorria. Chorava e a imagem vertia-lhe uma lágrima. Aproximava-se ou se afastava do espelho das águas e a imagem lhe retribuía com o mesmo movimento de aproximação ou de afastamento. Ensaiava um abraço e sua imagem retribuía-lhe de braços abertos. Porém, Narciso não se sentia abraçado... Narciso tornou-se refém da armadilha de um olhar que nada mais lhe acrescentava. Imagem sem substância, que se

O Poeta é Belo*

O poeta é belo como o Taj-Mahal feito de renda e mármore e serenidade O poeta é belo como o imprevisto perfil de uma árvore ao primeiro relâmpago da tempestade O poeta é belo porque os seus farrapos são do tecido da eternidade *Mario Quintana 

Cogitação Filosófica*

                Umas vezes sinto sono, mas quase nunca sonho. Outras vezes realidade, mas quase sempre engano. Umas vezes aspiro ao mito, outras vezes entendo o fato. Umas vezes rosa, outras machado.                                                                          Rogério de Almeida Nem pense em encontrar, no aqui exposto, a precisão cirúrgica dos deuses doentes da modernidade, que passavam os seus extensos dias ceifando sentidos, separando as línguas clássicas das bárbaras e situando as boas e más palavras. Primeiro, que qualquer tipo de conceito que possa traduzir o desconforto, não serve ao nosso propósito. Não é fácil encontrarmo-nos em um amontoado de conceitos que não se compreende e constatar que, sobre os mesmos, muito pouco se sabe. Inúmeras vezes, nossa desgraça se torna nossa redenção. Não sabemos exatamente, nem como nem por que. A inquietação que mobiliza, também conduz à construção filosófica e a expressão dos martírios que nos consomem, nes

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