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Cantiga de Malazarte*

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, ando debaixo da pele e sacudo os sonhos. Não desprezo nada que tenha visto, todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.  Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, destelho as casas penduradas na terra, tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.  Desloco as consciências, a rua estala com os meus passos, e ando nos quatro cantos da vida.  Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido, não posso amar ninguém porque sou o amor, tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos e a pedir desculpas ao mendigo.  Sou o espírito que assiste à Criação e que bole em todas as almas que encontra. Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo. Nada me fixa nos caminhos do mundo. *Murilo Mendes

Tempo do sem fim*

Noite a dentro silêncio no entorno os deuses me povoam Hermes me possui entre Dioniso e Apolo poemas de Gullar e Pessoa suspiro estrelas navego pela escuridão guiada por pirilampos driblo o sono na vastidão de mim multidões plurais benzem meus devaneios ancoro-me nesta fresta a deleitar-me na relva imaginal porque sou não ser dissolvida no espaço no tempo do sem fim *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora Juiz de Fora/MG

Canção do dia de sempre*

Tão bom viver dia a dia... A vida assim, jamais cansa... Viver tão só de momentos Como estas nuvens no céu... E só ganhar, toda a vida, Inexperiência... esperança... E a rosa louca dos ventos Presa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar. Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas, Atiro a rosa do sonho Nas tuas mãos distraídas... *Mario Quintana

A palavra número*

As possibilidades contidas na estrutura de pensamento, encontram, na palavra número, um viés especulativo sobre sua equação matriz. Um lugar para visualizar e descrever os diálogos, as fronteiras e transgressões da subjetividade.       Os referenciais indicativos de quantidade, ao multiplicar, subtrair, dividir ingredientes estruturais, numa ordem descabida, recoloca a leitura singular como imprescindível. Assim a contagem histórica, ao conceder o padrão, o dado atual, a literalidade dessas variáveis, ensina a dialética de uma intimidade, em que pese seu aspecto de refém das lógicas do improviso.     Ao tentar desvendar essas indicações, em cada página descrita, surgem novas questões, problemáticas. A partir daí, pela via da nova semiose: o número, menciona aquilo sem palavras para se dizer. As verdades surgem em conjecturas, cálculos, simbologias, tentam mensurar a natureza do transbordamento pessoal.  Talvez se encontre, nessa questão, um modelo para compreender a plur

Ideais Insanos*

Um homem louco é aquele cuja maneira de pensar e agir não se coaduna com a maioria dos seus contemporâneos. A sanidade mental é uma questão de estatística. Aquilo que a maioria dos Homens faz em qualquer dado lugar e período é a coisa ajuizada e normal a fazer. Esta é a definição de sanidade mental na qual baseamos a nossa prática social.  Para nós, aqui e agora, são muitos os de mentalidade sã e poucos os loucos. Mas os julgamentos, aqui e agora, são por sua natureza provisórios e relativos. O que nos parece sanidade mental, a nós, porque é o comportamento de muitos, pode parecer, sub specie oeternitalis, uma loucura. Nem é preciso invocar a eternidade como testemunho. A História é suficiente.  A maioria auto-intitulada de mentalmente sã, em qualquer dado momento, pode parecer ao historiador, que estudou os pensamentos e ações de inumeráveis mortos, uma escassa mão-cheia de lunáticos. Considerando o assunto de outro ponto de vista, o psicólogo pode chegar à mesma conclusã

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