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Domingar*

Domingar, cozinhar e meditar. Conjunção poética do existir em sintonia. Não me tirem de casa no domingo. Depois da semana toda no trabalho o domingo, para mim, é o momento de contemplar as delícias do viver. Admirar as plantas, cuidar da casa, tomar café com calma lendo o jornal e na cozinha meditar e refletir no silêncio. O picar os legumes e verduras, sem pressa. O afogar a cebola e alho sentindo o aroma ressaltar em festa. Preparar o prato para ser degustado por todos acende a alma. Coisas simples fazem a diferença. Domingar em meditação, percepcionando cada detalhe, cada sabor, perfume na entrega descompromissada, sem relógio nem obrigações é puro gozo. A criatividade brota serena e o tempo passa devagarinho. Depois a taça de vinho e o gozo da comida feita com amor. O soninho da tarde, a leitura na poltrona gostosa, o filme no final da noite. Tudo compartilhado com carinho e ternura. Quando a alma está quieta tudo se torna um poemar. *Dra. Ro

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) os amigos da humanidade e da perfectibilidade que acreditam que o ser humano almeja a felicidade e a vantagem, quando na verdade ele também anseia por sofrimento, essa única fonte de conhecimento, e não deseja o palácio de cristal e o formigueiro da perfeição social, jamais abrindo mão da destruição e do caos" "Finalmente, há ainda coisas que o homem tem vergonha de revelar a si mesmo, e cada indivíduo vai colecionando uma quantidade bastante grande dessas coisas. Sim, podemos até dizer que, quanto mais correta for uma pessoa, maior será o número dessas coisas" "(...) certas conquistas da alma e do conhecimento não podem existir sem a doença, a loucura, o crime intelectual" "(...) a obra do gênio doente, elevando, prosseguindo, transformando, legando-a para a cultura que não vive apenas do pão ordinário da saúde"  "(...) aquilo que resulta da doença é mais importante e estimulante para a vida e sua evolução do que

Arte de ampliar horizontes*

É a arte e não a história a mestra da existência, assim entende Fernando Pessoa. Através da arte é que advêm as manifestações mais densas do indivíduo. É a edificação de uma ponte que vai de um para o outro, encontrando a essência do outro, que se desvela em identidade singular. O contágio propiciado pela afirmação deste diálogo é o fator que alarga a existência, caracteriza o gênio, expande as ideias, como profere Kant. A ressonância criada pelo instrumento que é a arte é o que constitui a história sensível, diversa daquela composta para servir de “exemplo”, agindo como castradora, embotando os indivíduos. Respiramos uma era de transformações, de rupturas paradigmáticas que exigem novos olhares. É chegado o instante de reconsiderarmos nossas prioridades. O indivíduo que abre mão da magia da arte para influenciar no seu destino, não anseia em ultrapassar suas sânies, está condenado a não ver além, originando como consequência primeva a servidão. Ansiamos por um novo mod

O apanhador de desperdícios*

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. *Manoel de Barros

Colcha de retalhos*

Desenrolava O novelo de lã Na varanda De sua morada. Tricotava Sua vida Entre os nós Que fazia E em cada retalho Que juntava Ainda lembrava De quanto amara... E no embalo Da rede Do seu coração Costurava Suas saudades Entrelaçava Suas lembranças E de ponto Em ponto Se construía Numa colcha De retalhos... *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Especialista em Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes***

"O poema, ser de palavras, vai além das palavras e a história não esgota o sentido do poema; mas o poema não teria sentido - e nem sequer existência - sem a historia, sem a comunidade que o alimenta e à qual alimenta" "A palavra poética jamais e completamente deste mundo: sempre nos leva mais além, a outras terras, a outros céus, a outras verdades" "Condenado a viver no subsolo da história, a solidão define o poeta moderno. Embora nenhum decreto o obrigue a deixar sua terra, é um desterrado" "O programa surrealista - transformar a vida em poesia e operar assim uma revolução decisiva nos espíritos, nos costumes e na vida social" "(...) a experiência poética é um estado de exceção (...)" "A contradição do diálogo consiste em que cada um fala consigo mesmo ao falar com os outros; a do monólogo em que nunca sou eu, mas outro, o que escuta o que digo a mim mesmo" "O homem é o inacabado, ainda que s

O Viajante*

“Tudo isso é a passagem aos nossos olhos. E nada disso ela foi outrora.” Walter Benjamin Um amor além desta cidade, O verão queima as casas, os telhados brilham, Um amor além deste lugar, A vida é mais que um prato à mesa, É a fome dos fantasmas que vivem nesta cidade. Um verão a mais na vida dos meus planos, Depois desta cidade não existe mais um lugar para morar sozinho. Um amor além desta cidade só com você, Lá na beira do Sena, irei plantar meu sonho, Ele nunca morreu, irei catar lixo para sobreviver de amor. Irei morar em baixo da ponte para pagar o teu doce preferido, um amor além desta cidade é preciso. Vamos envelhecer longe daqui, que ninguém nos ouça: Vamos embora quando findar o dia, o avião não espera ninguém. Partimos!   *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

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