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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Exprimir-se é portanto um empreendimento paradoxal, uma vez que supõe um fundo de expressões aparentadas, já estabelecidas, e que sobre esse fundo a forma empregada se destaque, permaneça suficientemente nova para chamar a atenção. Trata-se de uma operação que tende à sua própria destruição, uma vez que se suprime à medida que se propaga, e se anula se não se propaga. Assim, não se poderia conceber uma expressão que fosse definitiva, pois as próprias virtudes que a tornam geral a tornam ao mesmo tempo insuficiente"

"Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez"

"Na terra, já se fala há muito tempo, e a maior parte do que se diz passa despercebido"

"(...) Aqui, o cúmulo da sabedoria e da astúcia é uma ingenuidade profunda"

"(...) é o preço que se deve pagar para ter uma linguagem conquistadora, que não se limite a enunciar o que já sabíamos, mas nos introduza a experiências estranhas, a perspectivas que nunca será as nossas, e nos desfaça enfim de nossos preconceitos. Jamais veríamos uma paisagem nova se não tivéssemos, com nossos olhos, o meio de surpreender, de interrogar e de dar forma a configurações de espaço e de cor jamais vistas até então"

"(...) no avesso dos acontecimentos desenha-se a série de sistemas que sempre buscaram a expressão"

"Entro na moral de Stendhal pelas palavras de todo o mundo, das quais ele se serve, mas essas palavras sofreram em suas mãos uma torção secreta. À medida que as interseções se multiplicam e que mais flechas apontam para esse lugar de pensamento onde jamais estive antes, onde talvez, sem Stendhal, jamais teria ido, à medida que as ocasiões nas quais Stendhal as emprega indicam sempre mais imperiosamente o sentido novo que ele lhes dá, aproximo-me cada vez mais dele até finalmente ler suas palavras na intenção mesma com que as escreveu" 

*Maurice Merleau-Ponty in "A prosa do mundo". Ed. Cosac & Naify. SP. 2002.

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