Uma das diferenças entre a sistematização da filosofia clínica em relação às outras abordagens terapêuticas ocorre no modo em que os teóricos foram aproveitados nessa elaboração.
A filosofia clínica não construiu
uma teoria sobre o ser humano. Desse modo, Kant, Platão, Hume, Searle,
Wittgenstein, Schopenhauer, entre inúmeros outros, não serviram para dizer quem
é aquela pessoa que o filósofo clínico recebe em seu consultório.
As reflexões dos filósofos foram
aproveitadas na medida em que auxiliaram na construção de um meio para
compreender as possibilidades de ser de cada pessoa, seu modo de agir e seu
mundo. Nesse sentido, um partilhante pode apresentar em sua estrutura de
pensamento características formalizadas na filosofia clínica por filósofos ou correntes
filosóficas até opostas.
Além disso, nem mesmo o
sistematizador da filosofia clínica, Lúcio Packter, deve servir como critério
para compreender quem está no consultório. Na psicanálise, por exemplo, é Freud
quem dá as primeiras características a priori sobre quem é aquele que se
encontra no divã. Na clínica filosófica, não se perguntaria algo como: O que
Lúcio diria?
Na filosofia clínica, é o método
que fornece meios de ordenar, a posteriori, as informações colhidas do
partilhante. Se Packter tivesse que dar alguma grande lição para um terapeuta
em atuação seria: o parâmetro de quem é seu partilhante é ele mesmo em
interseção com você no consultório.
Por isso, a filosofia clínica
ocupa um lugar diferente, mesmo entre aquelas áreas que têm a filosofia como
fundamento ou inspiração. Não há diretamente uma teoria filosófica ou
antropologia a priori, mas uma postura filosófica no sentido de investigar
aquele mundo que se apresenta no consultório, ao qual denominamos de
partilhante.
*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo
Filósofo. Escritor. Filósofo
Clínico. Autor da obra: “Introdução à Filosofia Clínica”. Publicada pela
Editora Vozes/RJ. 2021.
Teresópolis/RJ
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