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Falta de imunidade...*

Ah, como era difícil para ele amar. Calculava a sua dor antes. Antevia o fim a partir do primeiro abraço. Já havia se proposta a não amar mais. Continuava amando, porém. Era perigoso o amor para ele. É que não tinha criado autodefesas Sua alma não aprendeu imunidades Quando amava falava coisas que não imaginava que conseguiria falar algum dia. O amor fazia dele um homem confuso e incoerente. Verdadeiro e mentiroso. Sério e brincalhão ao mesmo tempo. Para conseguir dizer do jeito que amava.. Quando deixava de amar, ainda assim continuava amando. Não superava a perda, apenas se acostumava com a dor... E tomava os seus chazinhos.... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Herói*

"— Papai, o que é um herói? Eu pergunto porque tenho grande vontade De ser herói também ... Será que posso ser herói sem entrar numa guerra? Será que posso ser herói sem odiar os homens E sem matar alguém?" O homem que já sofrera as mais fundas angústias E as mais feias misérias Trabalhando a aridez de uma terra infecunda Para que não faltasse o pão no pequenino lar; O homem que as mais humildes ilusões perdera No seu cotidiano e ingrato labutar; Aquele homem, ao ouvir a pergunta do filho: — "Papai, o que é um herói?" Nada soube dizer, nada pôde explicar... Tomou de uma peneira E cantando saiu, outra vez, a semear! *Judas Isgorogota

Compreensão*

“O que seria a vida sem esquecimento.” Hans-Georg Gadamer Que bom envelhecer e esquecer, e que não devemos esquecer de viver, e que todo esquecimento é viver mais um pouco, é lembrar viver mais um tanto outro muito de vida. Porque viver é esquecer um pouco de tudo, é viver um tudo de nada dos poucos instantes vividos.  Viver e não deixar de sentir as imagens, de não deixar de provar o vento como se o olfato fosse um som a cruzar um eterno campo de vida, e nosso voltar para o tempo é cheirar mais um pouco do esquecido, do ar que passa sobre a cabeça. E um vasto oceano e todo movimento a desaguar na vida. E morder a vida com aquilo que o esquecer nos deixou sentir: Viver os últimos dias como se vivesse os primeiro anos de vida, viver por viver sem deixar de cuidar da vida. Viver sem as certezas da exatidão, das verdades, e sentir todas as verdades vividas nesse caminho de vida intensa. *Dr. Luis Antônio Paim Gomes Professor. Escritor. Editor Sulina.  Porto Aleg

Sonhar*

"Será que um sonho, depois de sonhado, acomodará mudanças no sonhador?", essa é uma pergunta intrigante que o protagonista do livro "Quando Nietzsche Chorou" elabora. Longe de responder ou concluir o tema, que penso ter raízes na poesia, gostaria sim perguntar mais, esquadrinhar uma série de dúvidas destinadas aos sonhadores que estão lendo essas linhas. A quem os sonhos são mais que um gosto doce ou amargo ao acordar, mas um alento na dureza dos dias. Penso que o próprio sonho, para alguns, pode ser um submodo, ou seja, uma maneira da pessoa lidar com suas questões íntimas. Ao lembrar e reviver o que foi sonhado, em alguns casos, se encerram questões existenciais, significados são atribuídos, para que a vida tome outros rumos. Mas ainda assim, o que é lembrado e o que é esquecido? Qual o sentimento que cada um traz de um sonho? O que acalenta ou o que atormenta? Como saber o universo de possibilidades em tantos infinitos particulares de quem sonha?

Pensamento vem de fora*

Pensamento vem de fora e pensa que vem de dentro, pensamento que expectora o que no meu peito penso. Pensamento a mil por hora, tormento a todo momento. Por que é que eu penso agora sem o meu consentimento? Se tudo que comemora tem o seu impedimento, se tudo aquilo que chora cresce com o seu fermento; pensamento, dê o fora, saia do meu pensamento. Pensamento, vá embora, desapareça no vento. E não jogarei sementes em cima do seu cimento.   *Arnaldo Antunes

Porque é Primavera*

Da natureza em cores e formas Do esplendor das açucenas De tantas flores De novos tempos Tantos afazeres e desfazeres Desprezamos um amor-perfeito Caminhamos por entre as flores Sem perceber o tempo Desperte minh'alma Para alcançar as rosas Sentir o vento Florescer nesse tempo *Fernanda Sena Filósofa. Filósofa Clínica. Poeta. Barbacena/MG

A Fragilidade dos Valores*

“Todas as coisas 'boas' foram noutro tempo más; todo o pecado original veio a ser virtude original. O casamento, por exemplo, era tido como um atentado contra a sociedade e pagava-se uma multa, por ter tido a imprudência de se apropriar de uma mulher (ainda hoje no Cambodja o sacerdote, guarda dos velhos costumes, conserva o jus primae noctis). Os sentimentos doces, benévolos, conciliadores, compassivos, mais tarde vieram a ser os «valores por excelência»; por muito tempo se atraiu o desprezo e se envergonhava cada qual da brandura, como agora da dureza. A submissão ao direito: oh! que revolução de consciência em todas as raças aristocráticas quando tiveram de renunciar à vingança para se submeterem ao direito! O 'direito' foi por muito tempo um vetitum, uma inovação, um crime; foi instituído com violência e opróbio. Cada passo que o homem deu sobre a Terra custou-lhe muitos suplícios intelectuais e corporais; tudo passou adiante e atrasou todo o movimento,

A noite em mim...*

Transformo minha dor em poesia, música e movimento. Sinto saudades de coisas ainda não vividas. Essa é minha vida! Desencontros familiares me chegam dizendo que muitos dos meus, pessoas do meu sangue, são estrangeiros na minha estrada. Tão estranho ter e não ter pessoas verdadeiras e reais no convívio familiar. Buracos emocionais foram construídos dentro do meu ser, procuro explicação para tentar aliviar a dor. Mas, nem sempre teremos acesso a todas as explicações de nossa existência, pois a própria existência escorre pelos dedos da mão. Apesar de tudo, eu acredito na lua, acredito na noite perfumada e acredito no movimento para anestesiar os dramas do dia a dia. Cada um sabe quais são os vãos de seu existir. Nunca devemos, ou deveríamos julgar atitudes do nosso irmão, mais ou menos próximo de nós. As feridas existenciais têm me mostrado o quão pequenos somos diante da imensidão da vida e do universo, seja o universo particular ou o universo em que estamos inseridos como s

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