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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"No fundo da prática científica existe um discurso que diz: 'nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas que no entanto está somente à espera de nosso olhar para aparecer, à espera de nossa mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está presente aqui e em todo lugar" "Se existe uma geografia da verdade, esta é a dos espaços onde reside, e não simplesmente a dos lugares onde nos colocamos para melhor observá-la" "Antes do século XVIII, a loucura não era sistematicamente internada e era essencialmente considerada como uma forma de erro ou de ilusão. Ainda no começo da idade clássica, a loucura era vista como pertencendo às quimeras do mundo; podia viver no meio delas e só seria separada no caso de tomar formas extremas ou perigosas" "(...) Charcot

Ser filósofo no século XXI*

Quer ser “filósofo” no século XXI? Comece escrevendo artigos e submeta-os a boas revistas nas quais há bons avaliadores. Um filósofo inicia sua reflexão dialogando com outros autores, compreendendo-os e discordando deles quando é possível, como Aristóteles nos ensinou. Acha que o ambiente acadêmico é despreparado? Pior é tornar-se julgador da própria obra ou se valer do julgamento daqueles que pouco sabem a respeito do conteúdo com o qual você lida. Julga algum filósofo ruim? Experimente escrever um artigo refutando-o e envie para algum avaliador que dedicou mais tempo do que você ao estudo desse pensador. Por que um artigo e não um livro? Porque, em geral, até o “menino do Acre” escreve um livro e publica por uma editora que visa unicamente o lucro, enquanto a publicação de um artigo depende da ponderação de editores e avaliadores que não recebem nada por isso e têm apenas a intenção de melhorar a qualificação da revista; e, para isso, precisam publicar bons trabalhos

Amplidão Mínima*

    [...] seu crescimento é doloroso como o de um menino e triste como o começo da primavera.” Rainer Maria Rilke Eu não minto, não meto, Descubro linhas, acerto, perco o tempo, Encontro os pontos, absurdo na meta, Desconto a vida em linha reta. Sinuosidade da morte: Acho o lúdico, súbito, mordo língua, Nado a esmo, lá no fim águas, Olhos vivos nas algas da solidão, Enfio mãos, naufrago em Mar de Espanha.[1] Afundo sonhos, renovo ideias, conto histórias, Faço o cerco, prolongo a narrativa, escapo da morte, Invento mundos, amplio a visão, mato tempo em vão, Encontro espaços entre o Nada e o tempo de viver. Histórias forjadas, atos do pensamento, nada perdido, Livros lidos nunca escritos, sonho noutros lugares, Vivo distante do meu lugar, destino no acaso faz-me errante. Nunca saio do meu canto antes de olhar a fadiga das paredes. O ser não envelhece no tempo, é mais velho que a morte dos pensamentos.      [1] Alusão ao município sem mar, Ma

Ofertas de Aninha*

Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida. Não desistir da luta. Recomeçar na derrota. Renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos. Ser otimista. Creio numa força imanente que vai ligando a família humana numa corrente luminosa de fraternidade universal. Creio na solidariedade humana. Creio na superação dos erros e angústias do presente. Acredito nos moços. Exalto sua confiança, generosidade e idealismo. Creio nos milagres da ciência e na descoberta de uma profilaxia futura dos erros e violências do presente. Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar. *Cora Coralina

A palavra fora de si*

A percepção dos excepcionais arranjos existenciais se movimenta em ritmo de euforia narrativa. Sua estética de viés inacabado contém presságios de reciprocidade com tudo ao seu redor. Seu vislumbre aponta rascunhos de exceção para anunciar regiões desconsideradas. Um traço de alvoroço criativo antecipa subterfúgios de vida nova. Acrescenta rasuras à máscara bem moldada da definição. Seu aspecto de miragem delirante possui uma fonte inesgotável. Uma nascente multifacetada denuncia o refúgio de onde alça voos e mergulhos ao viver sem pensar. Seu estado de embriaguez epistemológica sugere a quimera por onde a irrealidade se faz um saber eremita. Sendo evento de rara inspiração, aloja-se nas entrelinhas da vida. Ao desrealizar seu cotidiano, atualiza andanças pelas margens de si mesmo. Em meio à multidão estrangeira de pensamentos, sensações, ideias, o enredo visionário antevê a alquimia das múltiplas narrativas. Assim, a autoria transborda na esteticidade da palavra fora

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Exprimir-se é portanto um empreendimento paradoxal, uma vez que supõe um fundo de expressões aparentadas, já estabelecidas, e que sobre esse fundo a forma empregada se destaque, permaneça suficientemente nova para chamar a atenção. Trata-se de uma operação que tende à sua própria destruição, uma vez que se suprime à medida que se propaga, e se anula se não se propaga. Assim, não se poderia conceber uma expressão que fosse definitiva, pois as próprias virtudes que a tornam geral a tornam ao mesmo tempo insuficiente" "Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez" "Na terra, já se fala há muito tempo, e a maior parte do que se diz passa despercebido" "(...) Aqui, o cúmulo da sabedoria e da astúcia é uma ingenuidade profunda" "(...) é o preço que se deve pagar para ter uma linguagem conquistadora, que não se limite a enunciar o que já sabíamos, mas nos introduza a experiências estranhas, a perspectivas que

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