“O temor de ferir e o
medo de ser ferido estão nas próprias falas.”
Maurice Blanchot
A possibilidade de
driblar a escrita, a ideia falseada num tipo de cromatismo andante, quase
permanente contínuo, fugindo do sentimento, a se mostrar na própria linguagem
de uma performance.
A ida é proporcional ao tema, como se fora a combinação
numérica, de linha a linha, na tela, o texto se forma, reconstrói o pensamento
sem sair da ideia de outro texto que poderá não chegar em algum outro lugar,
pois sua combinatória é ir no andar dos corpos, simétrico no lançar dos braços
na água, no ritmo do nadar, do correr...ad infinitum, a contar que o tempo não
se esgota, a configuração da linguagem poderá ir adiante, atravessar o oceano,
descansar em terras de um dos últimos universalistas da história da música,
morar ao lado de Saint-Saëns.
Poder acordar no som silencioso
da vida que adormece na fuga, no domingo cinza de um fim de mundo tomado de
vegetal cerebral, um afronto à flora, aos sons, onomatopaico, combinações de
panelas e zum-zum de sirenes que protegem a saída dos criadores da vida.
A vida é uma combinação
do desejo de fazer com a organização sentimental do criar dentro do modelo
moderno, legado dos legítimos donos da cultura, e o desapego disso tudo que é a
busca do limite da sensibilidade com a pureza da criação. Um novo constructo do
fazer.
Volto ao abrir do dia,
o acordar bem distante, na separação e proporção compassada e numérica dos
olhos, os dedos que movem, atravessam o parque ainda úmido da noite, o cheiro
diferente, a origem de seu corpo e o novo respirar bem longe dos caçadores de
talentos, dos dromedários que foram cultuados pelos protetores dos museus. Os
mesmos que impulsionam o ódio porta a fora, os mesmos que confundem arte com a
moral, da caixa secreta de horrores e famílias que ainda brotam da botas sujas
de lama e sem nenhuma aptidão para o ato de pensar e silenciar ao novo.
O que escapa dos
sentidos domesticados é a ruptura com todos os sistemas, permanecer no caminho
com todos os lados da vida em consonância às formas de linguagem que estão
soltas no tempo.
Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
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