Pular para o conteúdo principal

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) o devaneio nos dá o mundo de uma alma, que uma imagem poética testemunha uma alma que descobre o seu mundo, o mundo onde ela gostaria de viver, onde ela é digna de viver"

"(...) o sonhador de devaneios tem consciência bastante para dizer: 'Sou eu que sonho o devaneio, sou eu que estou feliz por sonhar o meu devaneio, sou eu que estou feliz por graça deste lazer em que já não sou obrigado a pensar"

"Que benefícios nos proporcionam os novos livros! Gostaria que cada dia me caíssem do céu, a cântaros, os livros que exprimem a juventude das imagens. Esse desejo é natural. Esse prodígio, fácil. Pois lá em cima, no céu, não será o paraíso uma imensa biblioteca ?"

"As belas palavras são já espécies de remédios"

"(...) Os grandes livros, sobretudo, permanecem psicologicamente vivos. Nunca terminamos de lê-los"

"Lembrando Baudelaire: 'A verdadeira memória, considerada do ponto de vista filosófico, não consiste, acho eu, senão numa imaginação muito viva, fácil de emocionar-se e, por consequência, suscetível de evocar em apoio de cada sensação as cenas do passado apresentando-as como encantamento da vida"

"Ver e mostrar estão fenomenologicamente em violenta antítese"

"Não é também no devaneio que o homem se mostra mais fiel a si mesmo ?"

"Com Maurice Barrés: 'A vida é insuportável para quem não tem sempre à mão um entusiasmo'"

"O ser do sonhador de devaneios se constitui pelas imagens que ele suscita"

"Que importam para nós, filósofo do sonho, os desmentidos do homem que reencontra, após o sonho, os objetos e os homens ? O devaneio foi um estado real, em que pesem as ilusões denunciadas depois. E estou certo de que fui eu o sonhador. Eu estava lá quando todas essas coisas lindas estavam presentes no meu devaneio. Essas ilusões foram belas, portanto benéficas. A expressão poética adquirida no devaneio aumenta a riqueza da língua"

"E que vem a ser um belo poema senão uma loucura retocada ? Um pouco de ordem poética imposta às imagens aberrantes ?A manutenção de uma inteligente sobriedade no emprego - ainda assim intenso - das drogas imaginárias. Os devaneios, os loucos devaneios, conduzem a vida"

"(..) o mundo vem respirar em mim, eu participo da boa respiração do mundo, estou mergulhado num mundo que respira"

*Gaston Bachelard in "A poética do devaneio". Ed. Martins Fontes. SP. 2001. 

Comentários

Visitas