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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Quando parcerias institucionais são possíveis, com hospitais pediátricos, por exemplo, a Cor da Letra ensina ao pessoal (nesse caso, ao pessoal da saúde, do médico-chefe às enfermeiras e aos encarregados da limpeza) a entrar no universo das narrativas, a conhecer e respeitar a diversidade das culturas, dos tempos, das escolhas, a ler um texto em voz alta, exatamente como está escrito, e a acolher as palavras ou respeitar o silêncio das crianças"

"Ao longo da vida, procuramos as bolas que nos são lançadas e que nos permitirão discernir melhor o que existe ao redor de nós, e mais ainda o que acontece dentro de nós e não conseguimos exprimir. Precisamos do outro para 'revelar' nossas próprias fotografias"

"(...) a biblioteca, em particular, seja um ambiente 'natural' para a oralidade: é o lugar de milhares de vozes escondidas nos livros que foram escritos a partir da voz interior de um autor. Quando lê, cada leitor faz reviver essa voz, que provém às vezes de muitos séculos atrás"

"Citando Georges-Arthur Goldschmidt: 'Oral ou escrita, a literatura é uma oferta de espaço. As palavras não cansam de revelar paisagens, como se a sua essência fosse bem mais espacial do que verbal, como se o seu fundamento geográfico formasse o seu alicerce de sentido'"

"(...) uma verdadeira abertura para um outro lugar, onde o devaneio, e portanto o pensamento, a lembrança, a imaginação de um futuro tornam-se possíveis"

"Esse lugar remoto das leituras vem às vezes modificar a percepção dos lugares familiares, expande-os, como para Silvia, que passou a olhar de um jeito diferente para o espelho do banheiro depois de ter descoberto as aventuras de 'Alice no País das Maravilhas'"

"Esse espaço é governado por um tempo particular - rompendo, de forma semelhante, com as outras atividades -, feito de uma lentidão propícia ao devaneio, mas às vezes também de um ritmo mais próximo do sensorial; e fala-se uma língua diferente da usada para a designação imediata e utilitária das coisas: a língua da narrativa"

"Ler tem a ver com a liberdade de ir e vir, com a possibilidade de entrar à vontade em um outro mundo e dele sair"

"(...) o quanto os textos ouvidos ou lidos como um segredo, na solidão, ou mesmo folheados, ajudam a despertar em uma pessoa regiões silenciadas ou enterradas no esquecimento, dar-lhes forma simbolizada, compartilhada, e transformá-las. Fundamentam a elaboração de uma história que desempenha um papel essencial na construção ou reconstrução de si mesmo (...)"

"(...) não é somente um reconhecimento de si que a literatura permite, mas uma mudança de ponto de vista, um encontro com a alteridade e talvez uma educação dos sentimentos"

*Michèle Petit in "A arte de ler". Editora 34. SP. 2010.

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