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Filosofia Clínica e os elementos da inventividade*

A característica central do procedimento clínico Atalho é a inventividade, a doxa, a criatividade. Isso em geral é atestado no convívio com a pessoa, mas deve ser respaldado pela compreensão da historicidade desta.

A grande característica das pessoas que utilizam este submodo, e que aparece muito, ao longo da historicidade ou em alguns eventos da vida, é ter por hábito o olhar diferente as coisas que para os outros são iguais. 

Algumas pessoas constroem seus Atalhos, ou seja, criam novas saídas na vida através dos impedimentos, dos obstáculos. Isso quando o submodo Atalho estiver associado ao procedimento clínico Em Direção ao Desfecho, mesmo que ainda tenhamos aqui somente os indícios. 

Saberemos se o Atalho será ou não producente à pessoa através da história de vida dela. Por exemplo, se a pessoa está inserida em uma instituição dogmática, fechada, provavelmente as questões da dúvida, da interrogação, da busca por alternativas não serão bem recebidas. Podem existir problemas graves se a pessoa tentar promover mudanças nesta instituição. Portanto, o Atalho, em muitos casos, não será producente à pessoa, mesmo ela utilizando este submodo. 

Quando uma pessoa utiliza em seu discurso termos e expressões como “vou dar um jeito”, “inventarei uma saída”, “vou criar uma resposta” estamos provavelmente diante do procedimento clínico denominado Atalho. 

Existem alguns cuidados. Um dos enganos mais comuns é a confusão entre repertório existencial e inventividade. Uma pessoa que tenha um repertório existencial derivado de sua erudição pode em um momento de crise surpreender colocando as diversas possibilidades para lidar com as questões. 

Isso pode levar o filósofo clínico a considerar que a pessoa utiliza este procedimento clínico: Atalho. No entanto, muitas vezes, nada mais é do que o uso de prerrogativas e reflexões solidamente construídas sem o recurso da inventividade – semelhante ao que ocorre no repertório das jogadas de um xadrez eletrônico. 

Inicialmente, uma advertência oportuna: a característica central do Atalho é a inventividade, a doxa, a criatividade. Isso em geral é atestado no convívio com a pessoa, mas deve ser respaldado pela compreensão da historicidade desta. 

Precisamos ter cuidados em relação ao uso do procedimento clínico Atalho. No trabalho clínico, necessitamos invariavelmente obedecer aos seguintes critérios: Historicidade, Exames Categoriais, os dados divisórios, os enraizamentos e Estrutura do Pensamento, que costumam ser suficientes para esta importante diferenciação. 

Lidar com pessoas que utilizam Atalho, que tem este procedimento clínico como um dos fatores da vida, é lidar com o novo, com o insólito, com o inédito, com aquilo que não é comum. É necessário habituar-se, pois a pessoa costuma inventar moda, inventar coisas. É uma tendência da pessoa fazer desta maneira. 

Há situações na vida, por mais criativa que a pessoa possa ser, pela própria maneira como a questão foi construída, impede que você seja criativa. Por mais que você crie, você sempre estará preso à situação. Há contextos na vida que nos aprisionam. A pessoa nestes casos dirá: “não tem jeito!” Estamos diante da associação submodal: Atalho X Armadilhas Conceituais. 

*Bruno Packter

Filósofo Clínico. Professor Titular da Formação em Florianópolis/SC. Possui o doutoramento "Honoris Causa", conferido pelo Conselho da Casa da Filosofia Clínica em 2019. 

Florianópolis/SC

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