Quando falamos em relativismo a primeira impressão que podemos ter é pejorativa. Parece que quando “tudo” é relativo as certezas se perdem. Como achar algo que se perde? A Filosofia Clínica responde em uma palavra: singularidade. O se perder no relativismo subjetivo é um dos grandes achados para a Filosofia Clínica. Reconhecer que o intersubjetivo se compõe de subjetivos que não podem ser enquadrados em nenhum universal objetivador da subjetividade.
Objetivar e universalizar
a subjetividade se mostra uma tarefa impossível em Filosofia Clínica. Cada
subjetividade ou traduzindo para termos filosóficos clínicos cada Estrutura de
Pensamento (EP) não pode ser classificada em uma universalidade que tenta
deixar o desigual igual, o paralelo em serial.
O relativismo geral passa
a ser uma singularidade que se mostra em universo. O universo da Estrutura de
Pensamento que é única, singular, mas plural. Este universo, único e plural
passa a conversar, se relacionar, se inter-relacionar consigo mesmo em um
emaranhado de interseções, muitas vezes não identificáveis ou às vezes
falsamente identificáveis ou precariamente identificáveis.
Cada um desses universos singulares e plurais que são as Estruturas de Pensamento (EP) constituídas em malhas intelectivas são fundamentalmente diferentes entre si. Falando em malha intelectiva, ou em rede relacional, pode se constituir em um infinito de conexões, conexões seriais (seqüenciais), paralelas (que acontecem ao mesmo tempo), virtualmente seriais e paralelas simultaneamente.
Cada Estrutura de
Pensamento, cada singular pode assim ser um infinito de pontos de interseção
consigo mesmo, em seu interior, no infinito que pode ser a sua Estrutura de
Pensamento e com os demais objetos e subjetos do mundo. Lembrando de
Schopenhauer, se o mundo é a minha representação, e essa representação é a
minha representação (e não a do outro), e eu posso mudar a minha representação
de acordo com as circunstâncias em que estou vivendo posso concluir que a rede
relacional, que funciona a partir de minhas representações pode ser infinita em
minha própria Estrutura de Pensamento e assim o infinito que sou eu pode
estabelecer infinitas conexões com o exterior, sejam objetos (in)animados ou
sujeitos.
Se a Estrutura de
Pensamento (EP) é como dissemos acima um Universo, singular (pessoal e única) e
plural (se faz em malha de relações) ao mesmo tempo, que se relaciona consigo
mesmo em forma de malha intelectiva, em infinitas conexões entre os tópicos da
EP (conhecidos e desconhecidos) e cada tópico se relacionando e interagindo
consigo mesmo e com outros tópicos da própria EP estabelece desta interação
interna à EP interseções com o ambiente, com as coisas do mundo, com as coisas
do pensamento e com as outras pessoas que possuem por sua vez a sua própria
Estrutura de Pensamento (singular e plural – seu próprio universo plural) com
as suas próprias conexões.
Chegamos assim a um
infinito de relações e a um universo intersubjetivo que é por sua vez plural e
infinito porém composto de singulares. E agora, como colocaremos ordem neste
emaranhado de relações, e inter-relações (em uma palavra: interseções) no
interior dos universos (que são as Eps) e entre as diferentes EPs?
O que equilibra essas
interseções? Será que elas precisam ser equilibradas? Será que o desequilíbrio
não é a dança que faz tudo isso funcionar (?) ou simplesmente girar, ou
caminhar. Aqui encontramos outro universal dentro desse relativismo geral. Cada
universo (EP) encontra (ou não) as suas próprias maneiras de lidar (ou não) com
essas relações (interseções).
Algumas EPs deixam-se levar pela dança do desequilíbrio, pela dança das interseções, outras EPs ainda fecham-se a esse universo de interseções e simplesmente recusam toda tentativa de conexão. São ilhas intelectivas isoladas no mar das malhas externas. Outras EPs ainda agem paralelamente (se relacionando simultaneamente) com diversas outras EPs, objetos e subjetos do mundo a partir de suas próprias mini malhas internas, ou pontos internos. Outras EPs se escondem com a sua(s) malha(s) por detrás de outra EP replicando as malhas dessa outra EP e existindo na sombra dessa.
As variações podem ir ao
infinito. Sim, voltamos aqui ao relativismo que falamos no início. Como fugir
deste relativismo? Mas a pergunta que fizemos foi a correta? Ou começamos este
texto com a pergunta errada? Será que a pergunta correta deveria ser esta: O
absolutismo subjetivo (e por que não, ou objetivo) é universal em Filosofia
Clínica? E a resposta a esta questão segue em forma de provocação: Sim. A
singularidade de cada Estrutura de Pensamento (EP) é o absoluto e o universal
para a Filosofia Clínica.
*Pedro de Freitas Junior
Filósofo. Filósofo Clínico.
Florianópolis/SC
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