Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2021

O que é a Filosofia Clínica***

A Filosofia Clínica, em uma nova abordagem terapêutica, é a filosofia acadêmica adaptada à prática clínica, à terapia. Não trabalha com critérios médicos, com remédios ou com tipologias na construção de uma proposta terapêutica cujo objeto é buscar o bem-estar do ser humano.  O instrumental da Filosofia Clínica divide-se em três partes: os Exames Categoriais, a Estrutura de Pensamento e os Submodos. Nos Exames Categoriais, primeiro momento da clínica, através da historicidade, o filósofo clínico situa existencialmente a pessoa colhendo todas as informações de sua vida, desde as suas recordações mais remotas, até as informações de suas vivências mais atuais. O material colhido, na história da pessoa atendida - que em Filosofia Clínica é chamada de partilhante, justamente pela condição de ser alguém com quem o filósofo compartilha momentos da existência -, é a base para o desenvolvimento do processo terapêutico. A partir desses dados, num segundo momento, são verificados os tópicos

Reflexões de um Filósofo Clínico*

  Um pensamento mágico do homem moderno: a crença de que quando se deixa de chamar certas coisas de "deuses", deixa-se de crer em deuses. O homem moderno tanto crê em divindades que nem percebe que crê: entende o objeto de sua crença como a própria realidade. O mundo do homem é inescapavelmente mitológico. A ciência, a política, o esporte, os objetos técnicos: com todos eles o homem moderno tem uma relação religiosa, do mesmo modo que o homem de antes tinha uma relação com o seu Deus ou os seus deuses. Renomeia-se o deus, mudam-se os rituais de culto - e o pensamento iluminista inteiro fantasia haver superado o mito em benefício da razão, sem perceber que a razão é, ela mesma, também um mito. Talvez o grande equívoco do pensamento moderno seja a crença de que se um objeto é mitológico, então ele não existe. Ora, ao contrário do que os modernos quase sempre acreditaram, a existência não é unívoca: "o ser se diz de vários modos", há modos e graus variados

Casa da Filosofia Clínica, em Porto Alegre (RS), concede o título de Doutor Honoris Causa*

  Catarinense de Criciúma (SC), Beto Colombo foi homenageado pela Instituição por seus relevantes estudos em Filosofia Clínica nas Organizações.  Há dez anos, Beto Colombo levou os métodos da Filosofia Clínica – até então voltada exclusivamente ao atendimento em consultórios – para dentro das empresas, criando assim o que hoje se conhece como Filosofia Clínica nas Organizações. O filósofo atende empresas em processo de sucessão e também analisa a cultura organizacional a fim de identificar a estrutura de pensamento das empresas, chegando ao que ele denominou de a “Alma da Empresa”, título de seu livro em parceria com o filósofo clínico Rosemiro Sefstrom, lançado em 2016 e que ganhou uma edição bilíngue (português-espanhol) no final de 2019, ambos publicados pela Dois Por Quatro Editora, de Florianópolis. Além de ter escrito diversos livros voltados à gestão e à Filosofia, Colombo foi um dos fundadores do Instituto Sul Catarinense de Filosofia Clínica e atualmente coordena o curso d

Uma busca por bem viver*

  Qual a justificação para alguém procurar uma terapia? Dentre muitas, as mais recorrentes são as parelhas doença/cura, anormalidade/normalidade, loucura/sanidade. Porém, há outras justificações como o autoconhecimento, o bem-viver (não é necessário estar em ‘mal-viver’), a busca de uma condição melhor (não é preciso estar em uma situação ‘ruim’). Não em sua generalidade, mas, em grande parte de nossa sociedade, as primeiras justificações se dão pelas terapias ‘psi’, as segundas, pelas terapias filosóficas. Qual a diferença? Além da abordagem de aproximação ao fenômeno humano e seus modos existenciais, as terapias filosóficas são baseadas prioritariamente ou totalmente nos escritos de mais de 2500 anos de filosofia (e filósofos). Algumas terapias filosóficas usam de conteúdo filosófico (e de filósofos) aplicado à terapia, algumas dessas são chamadas de aconselhamento filosófico.   Outras, como a Filosofia Clínica, não utilizam de conteúdo filosófico aplicado à terapia, mas na const

Bom dia! Vai acontecer!

O discurso de cada um*

Cada um de nós tem um discurso próprio, uma forma de verbalizar o mundo. Às vezes compreensível, estruturado, coerente, mas tantas outras vezes nem tanto assim. Muitos apenas deixam transparecer o que lhes vai à alma; outros se descabelam de tanta expressão.    Algumas destas expressões são múltiplas e abrangem olhares, toques, sons, paladares e cheiros e também muitos outros sentidos que não podem sequer ser mencionados, tomando a atenção do outro por inteiro. Inúmeras outras expressões, entretanto, se recolhem e se manifestam somente para poucos escolhidos. Muitos mesclam momentos de recolhimento com outros de euforia, nos lembrando que podemos ser imprevisíveis até mesmo dentro de nossa linearidade. Não há um discurso igual ao outro, como não há necessariamente uma imposição de padrões nos discursos já conhecidos, simplesmente porque estes podem mudar.   Quantas vezes, quando supomos já conhecer nossos partilhantes e fazemos nossos próprios discursos em função desses conhecime

Resenha Crítica*

"Pérolas Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável" Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2012, 142 p.   Num estilo que dança por entre “a ilusão da realidade e a realidade da ilusão” o professor e filósofo clínico Hélio Strassburger compartilha com seus leitores suas experiências, vivências e desavenças em seu caminhar como filósofo clínico. Como um passeio pelos recônditos espaços da mente humana o autor nos presenteia com 28 pérolas que ainda imperfeitas na medida em que se constroem na busca pelo direito de serem únicas, singulares e livres das tipologias e semelhanças que mergulham o filósofo clínico num “sobrevoo que não aterrissa”. O livro nos conduz pelos labirintos da relação entre o filósofo clínico e seu partilhante onde a interseção clínica ganha a forma de sentido para o partilhante a medida que seus ainda não traduzidos e interditados conteúdos ganham vida para o filósofo clínico. O livro vai ao longo do caminho desvelando, através de seus apo

Da Natureza Inédita em Todas as Coisas*

  “No poetar do poeta, como no pensar do filósofo, de tal sorte se instaura um mundo, que qualquer coisa, seja uma árvore, uma montanha, uma casa, o chilrear de um pássaro, perde toda monotonia e vulgaridade.”                                    Martin Heidegger                                   Um cotidiano plural se abre frente ao espelho das singularidades. Nesse viés discursivo recém chegando, oferece seus inéditos numa língua estranha. Por seu caráter de novidade, recusa o gesso da classificação especialista. Numa interseção de acolhimento e partilha, concede alguma visibilidade ao que restaria desconhecido. Em uma experiência de transbordamento excepcional, num tempo subjetivo e de local indeterminado, a estrutura de pensamento se refaz. Nesse ímpeto de incertezas, um teor de expressividade transgressora se deixa entrevistar, seus deslizes narrativos, olhares desfocados e a escuta das lógicas sem sentido, apontam suas fontes de inspiração. Uma hermenêutica compreensiva a

Quarta-feira tem Filosofia Clínica e Literatura

 

No recolhimento*

Pego carona no fio de sol. Surfo nas ondas do vento. Equilibro-me entre as árvores. Tento voar com os pássaros.   Isto por estar recolhida.   Viajo entre as folhas dos livros, Navego nas telas do cinema. Separo as emoções. Encontro o Complexo Divino.   Desassossegada expiro.   As muitos de mim clama inverno. Verto gotas de Dioniso. Dialogo com Mercúrio. Escuto conselhos de Saturno. Júpiter nos braços de Quiron.   Nem sei se sou ou estou.   Basta-me viver conectada. Entre a luz e a sombra O amor floresce em poesia. Torno-me oceânica, No agora no Ser e Não Ser. *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poeta. Artista Plástica. Filósofa Clínica.  Juiz de Fora/MG

Inscrições - sempre - abertas!

O hóspede do poeta*

“Se todo tempo é eternamente presente Todo tempo é irredimível.” T. S. Elliot   O início, a flor da vida, a lua estendida no final da rua, A infância, o clarão do dia que revela a vida dos olhos, Depois vem o nascer, do que vem o choro, Amor puro, a única coisa que preenche a memória nua.   O estar dentro no mundo das coisas esquecidas, E tudo brilha, o turbilhão que nasce, a noite que assusta, O dia muda, a noite que esquece o lamento do acordar, A noite que abriga a solidão, estrelas para se beijar, O chão para rastejar durante o dia é o que sobra.   Assim se passa à outra fase: esquecimento é mútuo, O corpo avança, o corpo descola o tudo, a infância dá adeus, Depois dorme, renasce no movimento da Terra, A morte não existe, o vitalismo esconde o medo, Solidão, a terapia da compreensão dos adeuses.   Um dia acordar ao lado de dentro do corpo, Que aquece, o que se fala, do que se sente, Tudo é um tocar nas paredes do desconhecido, Na dança

Anotações e Poéticas de um Filósofo Clínico*

A arte expõe, esclarece, ilumina e é por isso que todo poeta pode enxergar nuances, cores e formas até mesmo na mais profunda escuridão, presente em qualquer intimidade de submundos subjetivos que, por alguma razão, tocam-lhe na flor da sua pele escura e tão amiga do sol. E aí é, quando mais comove, fazendo com que uma expressão singular transborde da própria incontinência que torrencia e derruba todas as barreiras por amor.     Ser poeta é, definitivamente, um repente de poder ver na escuridão de qualquer submundo, onde a esperança e a graça tenham se ausentado pelo excesso de apego ou de egoísmo, quase sempre disfarçados por retóricas utilitaristas, capazes de iludir tão somente aqueles que jamais puderam aprender a lógica básica da vida, a história do seu povo e do seu lugar, que também é a sua própria história. Afinal, há poesia em tudo que pulsa, como a vida, assim como há poetas que cantam, que tocam instrumentos harmônicos ou melódicos, que pintam e bordam, que desenham e da

Objetividade parcial*

  Não é raro ouvirmos dizer sobre ver algo de cima ou de fora. Como se o melhor procedimento para enxergar determinada situação, evento ou experiência seria a partir de um distanciamento. Uma pretensão de objetividade ou imparcialidade.  Mudar a perspectiva, seja ela qual for, pode viabilizar um outro olhar. Talvez isso soe consensualmente. Mas, não garante a neutralidade do olhar de quem observa. Quem nos deixa cientes disso são filósofos como: Dilthey, Heidegger, Gadamer e outros ao mostrar o quanto nossa existência é inserida em uma história. Nossos horizontes são viabilizados por elementos culturais, históricos, pelas experiências pessoais. Desse modo, é inevitável um olhar carregado por uma “bagagem existencial”. A pretensão de objetividade cessa na escolha do que é observado. Pois este foi selecionado com parcialidade, vontade, interesse etc. Talvez o caminho para uma investigação honesta seja a aceitação da ausência de qualquer ponto de vista absolutamente neutro. Reconhec

El instante aprendiz*

Traducción:   Prof. Dra. Arantxa Serantes   Todas las cosas son de tal naturaleza que, mientras más abundante es la dosis de locura que concluyen, tanto mayor es el bien que proporcionan a los mortales.         Erasmo de Rotterdam        Al esbozar apuntes sobre una lógica de la locura, un envés del absurdo se desvela en astillas de múltiples caras. Frontera donde la normalidad se reconoce en sus paradojas. Una de las características de la expresividad delirante es ensimismarse en desacuerdo con el mundo alrededor. Crea dialectos de difícil acceso para proteger sus versiones de mayor intimidad. El papel de la Filosofía Clínica en la intersección con la crisis inmediata también es presentación indeterminada en un proceso caracterizado por la exageración de la manifestación del que comparte. Un no saber vehicula provisionales verdades en el compartir deconstructivo de las sesiones. Representaciones existenciales difusas se alternan en narrativas del tiempo de la persona. El len

O que é ser saudável ?****

Se existisse isso de ser saudável e talvez a pessoa dissesse sempre aquilo mesmo que pensa, trabalharia em algo que tem a ver com ela, teria amizades por afinidade, faria amor com quem ama.     Existisse mesmo a pessoa saudável e Deus estaria com ela, os pássaros viriam ter com ela nas janelas e as janelas se abririam para o mundo. As crianças teriam escola e cresceriam com esperança - que não seria mais uma utopia. Os velhos seriam então apenas velhos e os adolescentes teriam a descarga adequada para seus dez mil hormônios.   Haveria ainda solidão, tristeza, medo, ansiedade, é claro, e por que não ? Mas apenas às vezes, e seriam desejáveis porque ensinariam. A pessoa ficaria triste porque ocasionalmente isso é parte da vida, mas não estaria costumeiramente triste.   Existisse a pessoa de fato saudável e eu não precisaria escrever este artigo, não teríamos livros de auto-ajuda nem de hetero-ajuda, as escolas de psicologia virariam respeitáveis museus e os médicos tratariam de con

Gratidão e compromisso*

  Bom dia! Neste dia em que ultrapassamos a marca histórica de meio milhão de visitas ao nosso espaço artesanal de partilha, viemos agradecer a contribuição  de todos e todas nessa caminhada de sustentação, aperfeiçoamento e compromisso com a qualidade dos estudos, publicações, eventos em Filosofia Clínica; esse novo paradigma essencialmente brasileiro. Um abraço fraterno: Coordenação Geral, Conselho, Assessorias.  

As linguagens da terapia*

  “O ponto de vista partilhante, ao se deixar acessar pelos termos agendados, reivindica um leitor de raridades. O fenômeno terapia aproxima papéis existenciais da clínica com a arqueologia. Sua estética cuidadora, a descobrir e proteger inéditos, mescla saberes para acolher as linguagens da singularidade.”                                                             Hélio Strassburger   O trecho citado está na obra “A palavra fora de si” do professor Hélio e especificamente no texto dedicado “As linguagens da terapia”. Aqui é essencial dar-se conta de que o veículo que nos faz percorrer caminhos dentro do espaço clínico é a linguagem, e nesse sentido, é papel do cuidador dar espaço de passagem e fornecer proteção às cenas que se revelam sessão após sessão, acolhendo o conteúdo. Durante esses 4 anos de clínica, atendi algumas mulheres (sim, hoje falarei delas). Sou grata pela confiança que depositam no processo clínico, sei dos meus limites de filósofa clínica aprendiz, isso não n

Anotações de um Filósofo Clínico*

TRÊS LIVROS    Há algum tempo, um velho amigo de música (olá, Vagner Vieira!) me perguntou quais seriam os três livros mais importantes da minha vida. * * * Três livros. Os três livros mais importantes da minha vida. Que pedido difícil! Imagine ter que escolher as três músicas mais importantes da sua vida. Os três discos. As três viagens, as três paisagens. Nós sabemos: é impossível fazer essa escolha. Há muitas músicas, muitas viagens, muitas paisagens que estão entre os mais importantes. Pelo menos para mim, há muitos livros também. Nos dias seguintes ao pedido, refiz a lista tantas vezes que perdi a conta. Decidi que precisava estabelecer um critério: em primeiro lugar, definir o que significava “mais importantes”. Seriam os livros que mais me transformaram? Os que mais me abriram horizontes? Os que me trouxeram mais conhecimento? Os mais memoráveis? Os que mais releio? Os que mais prazer me dão? Sim, porque para cada uma dessas perguntas eu teria respostas diferentes. E que

Visitas