Não é raro ouvirmos dizer sobre ver algo de cima ou de fora. Como se o melhor procedimento para enxergar determinada situação, evento ou experiência seria a partir de um distanciamento. Uma pretensão de objetividade ou imparcialidade.
Mudar a perspectiva, seja ela qual for, pode viabilizar um outro olhar. Talvez isso soe consensualmente. Mas, não garante a neutralidade do olhar de quem observa.
Quem nos deixa cientes
disso são filósofos como: Dilthey, Heidegger, Gadamer e outros ao mostrar o
quanto nossa existência é inserida em uma história. Nossos horizontes são
viabilizados por elementos culturais, históricos, pelas experiências pessoais.
Desse modo, é inevitável
um olhar carregado por uma “bagagem existencial”. A pretensão de objetividade
cessa na escolha do que é observado. Pois este foi selecionado com
parcialidade, vontade, interesse etc.
Talvez o caminho para uma
investigação honesta seja a aceitação da ausência de qualquer ponto de vista
absolutamente neutro. Reconhecer que há parte de nós envolvido no que
investigamos pode nos tornar abertos ou inclinados a aceitar a imperfeição de
nossos juízos a respeito do investigado.
A imperfeição nada mais é
do que características de nossas condições de existência. Pretender uma
perfeição é, no mínimo, um ato de ingenuidade. A aceitação da imperfeição pode
nos colocar em outro patamar: de reconhecer-nos em contínuo e interminável
aperfeiçoamento.
Em suma, continuaremos a
ver algo a partir de implicações oriundas de nossa existência, história,
horizontes etc. Sabendo de nossa parcialidade, nossos juízos (tão absolutos em
alguns momentos) poderão ficar em aberto para serem substituídos por um próximo
veredito e assim sucessivamente.
*Prof. Dr. Miguel Angelo
Caruzo
Filósofo. Filósofo
Clínico. Escritor. Professor. Autor da obra: “Introdução à Filosofia Clínica" pela Editora Vozes – Petrópolis/RJ, dentre outros.
Teresópolis/RJ
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