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Instrução em Filosofia Clínica*

A Filosofia Clínica é um tema amplo a ponto de seu próprio sistematizador, Lúcio Packter, falar que mesmo uma enciclopédia seria um meio limitado para abarcá-lo. Tal tarefa, dizia ele, ficaria a cargo das gerações vindouras de estudiosos desta nova abordagem terapêutica. Em razão desta amplitude, tudo o que se disser sobre a Filosofia Clínica tocará apenas em breves partes do todo que a constitui. 

Dito isto, pretendo apontar orientações de estudos para os iniciantes a fim de que, ao exercer o trabalho de consultório ou usar seus princípios para as mais diversas áreas profissionais, tenham meios de obter resultados consistentes. Essas orientações não são imposições. Como trabalhamos com a questão da singularidade, cada aspecto apresentado deve ser acolhido, adaptado ou até recusado à medida que encontrar ou não consonâncias em sua Estrutura de Pensamento.

A primeira orientação diz respeito ao domínio teórico da abordagem. Embora a prática seja mais complexa do que a exposição didática dos conteúdos, sem o conhecimento prévio aprofundado, a prática poderá apresentar maiores dificuldades ou até ser impossibilitada. Portanto, dominem os fundamentos da clínica filosófica: os Exames Categoriais, a Estrutura de Pensamento e os Submodos.

É interessante compreender ao máximo essas etapas.

Sem levar em conta o complexo pensamento dos filósofos que inspiraram cada um dos elementos da Filosofia Clínica, o conteúdo sistematizado por Lúcio Packter é razoavelmente fácil de assimilar. Portanto, sejam capazes de explicar cada uma das Categorias, dos Tópicos e dos Submodos que constituem nosso método terapêutico.

Em seguida, façam da Filosofia Clínica os “óculos” com os quais vocês verão o mundo. No início, dediquem dez minutos para identificar os elementos do método no trecho de uma série, de uma obra literária, de um filme ou até de histórias em quadrinhos. Identificar a qualidade da interseção, as categorias que aparecem, os tópicos em questão e os submodos utilizados é um grande exercício. É uma atividade que pode ser gradualmente incorporada ao cotidiano.

No início, assim como muitas coisas novas que aprendemos, pode parecer difícil. Mas, o tempo e a constância tendem a favorecer o aprendizado. Não espere aprender tudo o que constitui os fundamentos da Filosofia Clínica para começar exercitá-la no dia a dia. A cada novo aprendizado, busque meios de incorporá-los a seu modo de ver o mundo.

A terceira orientação diz respeito à amplitude de visão (Estrutura de Pensamento) e ação (Submodos). A Estrutura de Pensamento e os Submodos do estudante de Filosofia Clínica tendem a ser mais plásticas somente pelo fato de estudá-la. Porém, é interessante ampliar o próprio olhar filosófico clínico com outros elementos.

O acesso à literatura, à filosofia, ao cinema, à pintura, aos debates, à escultura, às palestras, etc. tendem a abranger experiências que uma vida não é capaz de abarcar. Além dessas experiências, há a amplitude por meio de outras experiências como idas a parques e jardins de sua cidade, a viagens – mesmo ao município vizinho –, experiências gastronômicas, visitas a asilos e orfanatos, conversas com pessoas diferentes de seu círculo de convivência, entre outras inúmeras experiências que a vida proporciona. Quanto maior a amplitude de experiências do Filósofo Clínico, melhores as chances de adaptação às singulares interseções estabelecidas com os partilhantes ou colegas de trabalho, amigos, familiares etc.

Por fim, pratiquem a Filosofia Clínica em suas vidas. Inicialmente, compreendendo que cada pessoa possui sua própria representação de mundo. Desse modo, na melhor das hipóteses, nossa compreensão se dará quando fizermos uma representação da representação dessa pessoa para compreendê-la.

Em outras palavras, temos sempre uma visão limitada da representação do outro independentemente de nosso esforço. Em seguida, sendo cuidadosos na aplicação de submodos. Por exemplo, um atalho – o que você acha disso? – é menos invasivo do que uma argumentação derivada – por que você faz assim? – em situações cujo assunto é delicado.

Entre os 32 submodos que combinados podem derivar uma gama infindável de procedimentos, haverá os mais adequados para cada momento. Por mais informal que seja a conversa, o método clínico filosófico tende a ajudar a qualificar nossas interseções, promovendo um bem-estar à convivência.

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo 

Filósofo. Filósofo Clínico. Escritor. Professor Titular de Filosofia Clínica em Porto Alegre/RS e Chapecó/SC.

Teresópolis/RJ

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