O diagnóstico de uma doença é
como uma tarefa sherlockiana. Cada paciente fornece uma série de sinais e
sintomas exclusivos, que precisam ser interpretados para se chegar a um
diagnóstico. O paciente vai contando uma
história, mostrando algumas pistas, deixando alguns sinais, para que sejam
investigados. Cada caso é um caso.
O médico vai sendo desafiado todo instante a entrar no mundo do paciente e conhecê-lo. Pode perceber, por exemplo, que a dor referida não coincide com o local da lesão, que não existe ferida alguma que justifique aquele pranto ou dor, que a chaga se apossou do paciente, mas a causa está na família, que os sinais e sintomas direcionam para o lado oposto da história relatada, que não é a morte o maior medo do paciente, que não é a doença o motivo do sofrimento. Como decifrar estes enigmas?
Ao entrar realmente no mundo do
outro, identificando-se com seu modo singular de viver, não se volta o mesmo.
Volta-se com todas as experiências adquiridas. Alguns médicos não suportam esta
pressão, preferem não se envolver e seguem sua carreira diagnosticando e
tratando seus pacientes de acordo com os compêndios e classificações
generalistas.
Outros, imbuídos do paradoxo
socrático (só sei que nada sei) e do estilo investigativo sherlockiano, não se
prendem ao mundo das aparências e dos manuais: investigam, surpreendem-se,
colocam-se no lugar do outro, lutam e torcem por seus pacientes, que sentem e
sabem não estar mais sozinhos em suas jornadas. Desta forma, juntos, médico e
paciente, passam a procurar um final feliz. Nem sempre a cura, nem sempre um
final, mas quase sempre a busca do não sofrer.
*Dr. Ildo Meyer
Médico. Escritor. Mágico.
Palestrante. Filósofo Clínico.
Porto Alegre/RS
Comentários
Postar um comentário