Talvez esse imenso lugar nativo
ficasse inexplorado, não fora o movimento desconcertante a acessar as inéditas
regiões. Essa aptidão de estranhamento, tão desmerecida, aprecia desnudar o
espaço novo diante do olhar, interseção limiar com as demais teias discursivas.
Através do viés desconsiderado é
possível apreender e dialogar com a pluralidade transgressora das fronteiras
conhecidas. Ao fazer possível o impossível se pode vislumbrar a ótica selvagem,
um pouco antes de ser cooptada pelo saber instituído.
A cogitação sobre a origem dessa
matriz já contém, em si mesma, a multiplicidade de versões. As lógicas da
incerteza elaboram seus vocabulários brincando com os vestígios da irrealidade.
O devir instintivo ensaia relatividades ao querer mostrar paradoxos, alternâncias,
dialetos para se entender ou sentir que a perfeição de toda imperfeição nem
sempre vai ser explicável.
Sua opinião escolhe desmerecer
todo beco sem saída. Seu saber especulativo, recheado de incertezas, promove
reflexão, antecipa periferias. Ao tentar sufocar as crises do movimento
precursor, a pessoa se afasta de um si mesmo em vias de nascer. Como um logos
irracional, a essência de seu devir é a invisibilidade às lógicas do
entendimento. Reivindica a invenção discursiva capaz de não-pensar para criar.
A busca por emancipação pode ser
antecedida por ensaios desestruturantes. O espaço literário e a clínica
apreciam a relação flexível da convicção com sua contestação. Com ela pode
acolher, transitar, compreender aprendendo os roteiros da estranha geografia.
O exercício da transcendência
pode ter aptidão para deslocar o sujeito momentaneamente, desarticulando o chão
de onde a crise tenta resgatá-lo. Quem sabe seu esboço consiga aproximar real e
irreal ao seduzir o hábito com a surpresa. Um sujeito ressuscitando na própria
vida.
A trama subjuntiva se oferece
para desvendar perspectivas ao que se sabia único, acabado. O tempo da dúvida,
do receio, das tratativas com o absurdo das hipóteses, parece ser uma dessas
fontes da palavra mágica. Seu desvio dos rituais conhecidos sugere caminhos
para compreender o inacabamento, a contradição que alimenta a vida.
*Hélio Strassburger in "A
Palavra Fora de Si - Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem".
Ed. Multifoco/RJ. 2017.
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