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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Quem sabe respirar o ar das minhas obras, sabe que ele é um ar das alturas, um ar vigoroso. A gente tem de ter sido feito para ele, caso contrário não é nem um pouco insignificante o perigo de se resfriar no contato com ele" "A Filosofia, assim como a entendi e vivenciei até agora, é a vida espontânea no gelo e nas montanhas mais altas - a procura de tudo que é estranho e duvidoso na existência, de tudo aquilo que até agora foi excomungado pela moral" "A gente retribui mal a um professor, quando permanece sendo sempre apenas seu aluno" "(...) não acreditar em nenhum pensamento que não tenha nascido ao ar livre e em livre movimentação" "Não é a dúvida, é a certeza que enlouquece... Mas para isso a gente tem de ser profundo, tem de ser abismo, tem de ser filósofo para sentir assim" "No fim das contas ninguém pode captar nas coisas, incluídos os livros, mais do que ele mesmo já sabe. Para aquilo que a gente n

Uma carona nas nuvens*

Sonhava com um amor Nas chuvas de verão Então entrava no mar Voava com os ventos Surfava nas nuvens. E pegou uma carona Para a estrela mais distante Mas o brilho delas Tão lindo ao longe Queimava de perto... Não queria se entregar Aos amores mais intensos Todavia se via a pensar O tempo todo num deles Pensava e desconfiava Que as pessoas se iludem Que a boca mente O que a mente ignora E o coração se engana E o corpo é que chora.. Certo dia viu-se no campo A soltar pandorgas ao céu A atirar pedrinhas No fundo da lagoa Parecia que sabia O que mais queria Mas o que queria mesmo Nunca saberá...!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Filósofo Clínico Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos Delirantes*

"Qual é então o sentimento incalculável que priva o espírito do sono necessário para a vida ? Um mundo que se pode explicar, mesmo com raciocínios errôneos, é um mundo familiar. Mas num universo repentinamente privado de ilusões e de luzes, pelo contrário, o homem se sente um estrangeiro" "Como as grandes obras, os sentimentos profundos significam sempre mais do que têm consciência de dizer" "(...) Fica claro que assim defino um método. Mas também fica claro que esse método é de análise e não de conhecimento. Pois métodos implicam metafísicas, e elas traem, à sua revelia, as conclusões que às vezes pretendem não conhecer ainda. Assim, as últimas páginas de um livro já estão nas primeiras"  "(...) essa densidade e essa estranheza do mundo, isto é o absurdo" "Compreender o mundo, para um homem, é reduzi-lo ao humano, marcá-lo com seu selo" "Pensar é reaprender a ver, a ser atento, é dirigir a própria consciên

Quando todos julgam, ninguém é inocente***

Pedro (21) e Ana (18) conheceram-se no verão em Atlântida. Foi numa daquelas baladas que iniciam depois da meia noite e só terminam ao amanhecer. Ele se aproximou, ela não se afastou. Ele pegou sua mão, ela não retirou. Ele chegou mais perto, ela o beijou. Não se soltaram mais. Um só tinha olhos para o outro. Fizeram mil planos, realizaram quinhentos, refizeram duzentos, esqueceram os outros trezentos. Não importa, estavam felizes. Um destes planos era uma viagem no mês de julho para Porto de Galinhas, Pernambuco. Queriam escapar do frio no inverno gaúcho. Economizaram, utilizaram pontos para comprar a passagem aérea, reservaram uma pousada perto do mar e partiram para uma lua de mel de quinze dias. Foi a viagem dos sonhos, voltaram ainda mais apaixonados. Ficaram especialmente encantados com um passeio de jangada que percorria um mangue até chegar a um parque ecológico onde existe uma área de preservação de cavalos marinhos. Puderam observar e até mesmo tocar os pequenos a

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O homem é criador de maravilhas, é poeta, porque é um ser inocente. As crianças, as mulheres, os enamorados, os inspirados e mesmo os loucos são a encarnação do maravilhoso. Tudo que fazem é insólito e não  sabem. Não sabem o que fazem: são irresponsáveis, inocentes" "A contradição do diálogo consiste em que cada um fala consigo mesmo ao falar com os outros; a do monólogo em que nunca sou eu, mas outro, o que escuta o que digo a mim mesmo" "A imagem não explica: convida-nos a recriá-la e, literalmente, a revivê-la. O dizer do poeta se encarna na comunhão poética. A imagem transmuta o homem e converte-o por sua vez em imagem, isto é, em espaço onde os contrários se fundem" "O poema nos faz recordar o que esquecemos: o que somos realmente" "(...) o sentido não só é o fundamento da linguagem como também de toda apreensão da realidade. Nossa experiência da pluralidade e da ambiguidade do real parece que se redime no sentido

Paz e Trégua*

“Estávamos cansados de todas as coisas, cansados especialmente de ultrapassar inúteis fronteiras.” Primo Levi Meus livros. Leio e reescrevo o pensamento solto que existe na leitura que faço do ainda existente das páginas dos livros escolhidos assim por mim. A dor é o fim, minha alma é como amarelecido das folhas surradas, manchas do café, do rastro do vinho, da solidão de ler o fim de “A trégua” de Primo Levi. Um dos mais impressionantes e dolorosos fechar de páginas que tive. E se eu fosse o editor, certamente, choraria ao cabo de sua confecção. Isso não acontece mais, terminar uma edição na cumplicidade do fim e o início de outro momento, no tempo dele existir, a reprodução parece ser a solidão que não se esgota. O livro está dentro desta história. Na próxima guerra não haverá renascer, os escombros serão do tamanho da dor da Mãe-Terra arrasada. Morta por seus filhos, ela no secar dos olhos, sacrificará a existência em nome dos ideias que se perderam nas religiões,

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O fantástico leva pois uma vida cheia de perigos, e pode se desvanecer a qualquer instante (...)" "Cita Alan Watts: 'Pois neste mundo não há nada de errôneo, nem mesmo de estúpido. Sentir um erro é simplesmente não ver o esquema no qual se inscreve tal acontecimento, não saber a que nível hierárquico este acontecimento pertence'" "É curioso observar aqui que semelhante ruptura dos limites entre matéria e espírito era considerada, em especial no século XIX, como a primeira característica da loucura. Os psiquiatras afirmavam geralmente que o homem "normal" dispõe de muitos quadros de referência e liga cada fato a um deles exclusivamente" "Cita Angyal: 'É notório que a aptidão dos esquizofrênicos para separar os domínios da realidade e da imaginação fica enfraquecida. Contrariamente ao pensamento dito normal que teria que ficar dentro do mesmo domínio, ou quadro de referência, ou universo de discurso, o pensamento

Fenomenologia da loucura*

A inacreditável expressividade da loucura também se institui em lógicas do inusitado e da diferença. Intervalos de tempo por onde o fenômeno delirante exibe seus contornos. Nuança fugidia à pessoa descontinuar-se em códigos de miragem. Dialetos de intimidade desdobram-se num sentido distorcido aos raciocínios conhecidos. Ponto de encontro à subjetividade manifestar sua ficção da realidade. As caricaturas de raridade nem sempre encontram tradução ao dizer das unanimidades. No entanto, muitas vezes, o sujeito desestruturado, quando é do seu interesse, é capaz de encontrar meios para deixar de ser inexplicável. Rituais de invenção diária percorrem labirintos de ideias, sensações e intencionalidades. Tramas significativas de um jeito de ser incompreendido, a revelar-se na alquimia sem disfarce das imperfeições. Esparrama vestígios de múltiplos fenômenos no aparente sem nexo das buscas. Roland Barthes refere: "(...) ser o sentido obtuso um significante sem significado;

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) é preciso ler um grande livro duas vezes: uma 'pensando', como Taine, outra sonhando, num convívio de devaneio, com o sonhador que o escreveu" "(...) nos conduz para além de nós mesmos, para um outro nós mesmos" "Uma das funções do devaneio é libertar-nos dos fardos da vida. Um verdadeiro instinto de devaneio é ativo na nossa anima; é esse instinto de devaneio que dá à psique a continuidade do seu repouso" "Para as coisas, como para as almas, o mistério reside no interior" "De todas as escolas da psicanálise contemporânea, a d C.G. Jung é a que mais claramente demonstrou ser o psiquismo humano, na sua primitividade, andrógino" "Os poetas sempre imaginarão mais rápido que aqueles que os observam imaginar" "O devaneio nos põe em estado de alma nascente" "Ainda existem almas para as quais o amor é o contato de duas poesias, a fusão de dois devaneios. O romance por cartas exprime o am

Arvores e sementes*

Há algumas pessoas que enraízam tanto no terreno das suas próprias convicções que de repente se dão conta que tornaram-se árvores. E pouco a pouco fixadas no mesmo lugar, vão se entediando até que um dia todas as ilusões se tornam insuportáveis, fazendo com que as vaidades e os orgulhos caiam por terra para tornarem-se adubos compostos de nutrientes extraordinários. É justamente aí, nesse estado da arte que essas árvores já tão frondosas se frutificam inevitavelmente, atraindo para próximo de si mesmas as belezas dos pássaros que se alimentam dos seus frutos e gentilmente espalham distante as suas sementes. Porquanto, somente depois de um tempo que essas árvores aprendem que elas se tornaram florestas inteiras, é que finalmente se desprendem, se libertam e passam a caminhar num infinito sempre presente num agora fascinante de descobertas plenas de amor e de uma especial capacidade para dividir e somar toda vez que se fizer necessário num contexto irreversível onde prisões i

Aprendimentos*

O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim falou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente aprender o idioma que as rãs falam com as águas e ia conversar com as rãs. E gostasse mais de ensinar que a exuberância maior está nos insetos do que nas paisagens. Seu rosto tinha um lado de ave. Por isso ele podia conhecer todos os pássaros do mundo pelo coração de seus cantos. Estudara nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens. Se admirava de como um grilo sozinho, um s

O que faz da Filosofia Clínica, filosofia?*

Em diversos lugares é possível ler a seguinte afirmação: “A Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à clínica” ou “Filosofia Clínica é filosofia porque é baseada em 2500 anos de filosofia” ou “A Filosofia Clínica tem seu fundamento no pensamento dos filósofos, só que adaptados à clínica”, só para citar alguns. Entretanto, essas afirmações dão ao senso comum ou a alguns filósofos, que ficam de “plantão” em busca de algo para criticar sem fundamentos, uma compreensão mal concebida. A impressão inicial parece ser que se toma a filosofia ou o pensamento dos filósofos e se aplica a clínica, e a única modificação parece ser a finalidade. Pois, os filósofos pretendiam um fim para seu pensamento e a Filosofia Clínica busca trabalhar questões existenciais de seus partilhantes. A questão a ser tratada nesse texto não é fundamentalmente voltada para os filósofos clínicos, mas para os que têm uma compreensão errada que uma apresentação limitada pode oferecer em relação ao en

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer matéria vivível ou vivida" "Não há linha reta, nem nas coisas nem na linguagem. A sintaxe é o conjunto dos desvios necessários criados a cada vez para revelar a vida nas coisas" "(...) Nesse sentido as coisas são mais perigosas que os seres humanos: eu não as percebo sem que elas me percebam; toda percepção como tal é percepção de percepção" "A interioridade não pára de nos escavar a nós mesmos, de nos cindir a nós mesmos, de nos duplicar, ainda que nossa unidade permaneça" "A questão não é a dos dois indivíduos, os dois autores, mas de dois tipos de homem, ou de duas regiões da alma, de dois conjuntos inteiramente diferentes" "(...) explorar os meios, por trajetos dinâmicos, e traçar o mapa correspondente. Os mapas dos trajetos são essenciais à atividade psíquica" "O trajeto se confunde não só

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