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Somos Forrest Gump?*

  Quando vemos o filme 'Forrest Gump', tendemos a nos colocar no lugar de quem viu o que "realmente" aconteceu e a narrativa do personagem principal, que dá nome ao filme, como quem viu algo de modo limitado. É como se nós tivéssemos uma visão privilegiada e, o outro, uma percepção limitada. A noção de que acessamos a "realidade" com "objetividade" pode trazer uma noção do outro como quem tem uma visão limitada pela inteligência, sentimentos, pontos cegos etc. No entanto, de certo modo, somos como o Forrest Gump. Nossa percepção do mundo é uma perspectiva. Tendemos a acreditar piamente no que nossos olhos e lembranças nos dizem sobre um acontecimento ou experiência. E não estamos errados. Pois é essa percepção ou visão de mundo que norteia nossa vida. Por isso, no consultório, não buscamos necessariamente o que aconteceu, mas como a pessoa vivenciou, interpretou, significou etc. o ocorrido. Pois não é a objetividade que marca a experiência qu

Startups da alma*

  “Dedicatória: Me ame, ame meu guarda-chuva.” James Joyce   Nota significativa para quem se sente feliz no seu canto, para quem tem um refúgio para a alma, para suas incongruentes manias de viver, de poder se sentir bem num canto, mesmo que seja na parte mínima de um lugar pequeno chamado casa. Um lugar que se transforma em espaço infinito, onde se pode sentir a liberdade de estar só. A tarde que esfria, o sol recolhe o calor externo, sozinho se pode vislumbrar a solidão do seu lado mais poético, às vezes assusta o instante em que aparece na casa do seu Ser. Parecendo filme, livro, uma viagem que se torna tão real que já não distingue se um dia saiu de seu canto do pensar sobre algo, ou se realmente existe base para conectar a leitura de um livro, a audição de uma música com o filme que está na memória e foi assistido há um tempo, e se tudo isso faz parte da realidade ou é mera participação do voo do inconsciente que se lança para diante do corpo. E se tudo isso era só um lu

Humanidade encapsulada*

Vocês já se depararam com profissionais que, de tão padronizadamente mergulhados no papel que representam, se pasteurizam tanto a ponto de encapsularem sua humanidade?! Há muito os tenho encontrado, nas mais diversas áreas. Percebo-os muito próximos, invadindo territórios esquecidos, não cultivados, abandonados. O assombroso é que o mercado não só ainda anseia como replica esses perfis, não raro fruto de linha de montagens do tipo: transforme-se em oito passos e seja você o sucesso! Sucesso que se traduz comumente no endosso do mesmo, ainda que travestido de diferente. Por um certo momento eu de fato pensei que essa Pandemia fosse suavizar o arrogante rompante de tudo conhecer e dominar. De reduzir visões de mundo ao enquadramento de nossos gostos e preferências, hermeticamente vedados e selados como se verdade fossem. A mais pura e absoluta. O resto é resto e que se dane, melhor ignorar… Nesse abissal individualismo o outro é aceito como igual, desde que reitere caminhos e não

Diagnósticos: qual o problema com eles ?*

Diagnósticos são uma forma de conhecimento que pretende considerar a realidade ou um grupo de particulares da realidade como comuns, uniformes, comensuráveis. Tenta, com isso, desconsiderar ou minimizar a mutabilidade, a indeterminação de um grupo de particulares. Em termos de filosofia, seria o conceito universal. Neste sentido, é uma ideia ou noção que pode ser partilhada por vários particulares. Portanto, o universal está separado da coisa particular, é, portanto, seu padrão ou critério de avaliação de correção ou de valor ou de “normalidade”, e, ao mesmo, tempo “participa” de cada particular dando a este sua essência ou natureza. Está fora de cada particular, mas define ele. Na medicina um diagnóstico dá ao particular, um coração, por exemplo, uma noção do que é a doença e qual os procedimentos que devem ser realizados para curar este órgão. Em termos de qualquer atividade corporal ou práticas corporais “corretivas”, o diagnóstico serve como uma aproximação do caso particular,

Era uma vez...*

  "As vezes, eu acredito em seis coisas impossíveis antes do café da manhã" (Alice no País das Maravilhas, Tim Burton, 2010) As singularidades adentram os espaços terapêuticos das mais improváveis formas. Alguns chegam indecisos sobre o porquê de estarem ali, afinal nem sempre existe obviedade; outros talvez não saibam que seja uma porta para descobertas tão incômodas quanto difíceis. Existe a probabilidade de que um turbilhão os perpasse, podendo arremessá-los até a mais insana possibilidade de ser. Na verdade, percorrer caminhos de encontros pode ser tão inusitado quanto permanecer inerte no estado catatônico em que a normalidade desavisada costuma nos mergulhar. Cada um tem sua estrada, suas histórias na bagagem, que muitas vezes arrastam melancólicos ou sem vontade, desgostosos do que mais desejam. Na verdade, as histórias se misturam em potes, cujo fundo nem sempre é visível. Falas entrecortadas de peculiaridades trazem à tona que um dia fui assim... há muito tempo n

Anotações e reflexões de um Filósofo Clínico*

Somos inesquecíveis nas memórias de outras pessoas, até mesmo das ingratas! Somos inesquecíveis porque não dá para sairmos ilesos de nenhum relacionamento. E a nossa presença em memórias alheias sempre assume forma e caráter conforme o próprio espelho condicionado na envergadura existencial de cada um... É o próprio alcance singular que define, dita, direciona e conclui, pois cada pessoa com a qual convivemos carrega consigo em algum lugar das suas memórias, um retrato nosso modelado muito fielmente ao seu próprio tamanho moral. Por isso, todo e qualquer apego é uma perdição necessária somente enquanto durar as cegueiras das ilusões persistentes na cabeça e no coração de quem ainda não aprendeu a amar. Musa!                                                ************ Talvez uma das grandes delícias da maturidade consista na descoberta de que sempre ocupamos um espaço na vida das pessoas com as quais nos relacionamos. E que a duração, a qualidade e o tamanho desse espaço sempre de

Anotações e reflexões de um Filósofo Clínico*

Ontem pediram-me que indicasse livros para ajudar professores a ensinar melhor.  Não pude fazer essa indicação. Na verdade, sugeri o caminho contrário: em vez de um livro para que se ensine bem, propus que se vá a cada aluno. * * * O segredo do ensino não está num livro: está na própria relação entre o professor e o estudante. Cada estudante é diferente: tem uma história de vida única, dispõe de seus afetos de modo particular, aprende da sua própria maneira. Por isso, cada relação professor-estudante é singular. O bom professor é aquele que utiliza a sua sensibilidade, a sua experiência e o seu conhecimento para estabelecer uma aliança de confiança com cada aluno - para que cada um deles mostre-lhe o que melhor funciona consigo. Isto é: antes de ensinar a matéria, o bom professor investe seu tempo e sua atenção para aprender como funciona o processo cognitivo de cada criança sob seus cuidados. * * * Cada pessoa aprende de sua própria maneira; a técnica didática que func

El instante aprendiz***

*Traducción:   Prof. Dra. Arantxa Serantes Al esbozar apuntes sobre una lógica de la locura, un envés del absurdo se desvela en astillas de múltiples caras. Frontera donde la normalidad se reconoce en sus paradojas. Una de las características de la expresividad delirante es ensimismarse en desacuerdo con el mundo alrededor. Crea dialectos de difícil acceso para proteger sus versiones de mayor intimidad. El papel de la Filosofía Clínica en la intersección con la crisis inmediata también es presentación indeterminada en un proceso caracterizado por la exageración de la manifestación del que comparte. Un no saber vehicula provisionales verdades en el compartir deconstructivo de las sesiones. Representaciones existenciales difusas se alternan en narrativas del tiempo de la persona. El lenguaje de la locura se constituye en un conjunto de convivencias estúpidas. El punto de partida es la extraordinaria lengua de la persona estructurada en alguna forma caótica.   Ernst Cassirer refie

Filosofia Clínica e Discurso Existencial*

  É com alegria e gratidão que compartilhamos o exemplar de n. 12 da prestigiada revista SÍLEX. Uma publicação da UARM - Universidad Antonio Ruiz de Montoya em Lima/Peru.   Nessa edição temos um texto intitulado: "Filosofia Clínica e discurso existencial", de autoria do Filósofo Clínico Hélio Strassburger. Para leitura do artigo na íntegra, clique no link abaixo:    Vista de Filosofia clínica e discurso existencial (uarm.edu.pe)   *Márcia Ribeiro Baroni Diretora da Casa da Filosofia Clínica

Percepções e reflexões em Filosofia Clínica*

A Filosofia Clínica tem um jeito próprio de pensar, diferente. Traz para a terapia o olhar, os modos de compreensão e de entendimento das tradições filosóficas ocidentais. A sua originalidade é colocar como central a ideia de singularidade, que cada pessoa é diferente de cada uma das outras. Não há uma noção de ser humano a priori, pré-estabelecida. Cada um virá do seu modo e será recebido com o que lhe é próprio, em suas tonalidades afetivas, com aquilo que tem feito em sua história, nas circunstâncias de sua vida. Com sua loucura, suas maneiras de lidar com o mundo, com a existência, com os outros, consigo. Não trabalha com a noção de doença, nem com tipologias psicopatológicas. O que não quer dizer que não reconheça e trate dos fenômenos da depressão ou de comportamentos tidos como bipolares. Ansiedade, angústias, tédio e tantas outras formas de viver, de sofrer, fazem parte daquilo que se cuida em Filosofia Clínica. Cada vida pode ser vista como um fluxo de emoções, afetos e

O que é a Filosofia Clínica ?*

A resposta geralmente adotada pelos filósofos clínicos é: “a Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à terapia”.  Esta resposta é boa. E não é. É uma boa resposta porque é exatamente isso que a Filosofia Clínica faz: aplica a filosofia da tradição ocidental, a filosofia acadêmica, à terapia. Por outro lado, é uma resposta abrangente demais. Afinal, o conjunto da “filosofia acadêmica” tem uma quantidade muito grande de elementos, que podem ser tão diferentes entre si quanto podem ser diferentes variadas espécies de, digamos, frutas. Por essa razão, a afirmação de que “a Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à terapia” é inútil. Aos olhos do leigo – e mesmo de muitos estudiosos – a filosofia é um emaranhado de teorias contraditórias, quando não bizarras; parece que qualquer coisa pode ser filosofia, e que filosofia pode ser qualquer coisa. Mas isso não é verdade. A filosofia tem um fio condutor muito claro. Para explicar isso, vou fazer uma analogia com

Anotações do 1º Encontro online Epoché de Filosofia Clínica*

  Na noite do dia 19/01/2023 em uma parceria entre Epoché Filosofia Clínica e Casa da Filosofia Clínica, aconteceu o "1º Encontro Online Epoché: A Prática da Filosofia Clínica" com a coordenação e condução do Filósofo Clínico Fernando Fontoura.  Nesse evento de construções compartilhadas tivemos a honra de ouvir e conversar com o professor Hélio Strassburger, referência em prática clínica.  Ele que publicou recentemente o artigo intitulado: " Filosofia Clínica e Discurso Existencial" , na edição de n. 12 da revista Silex pela UARM - Universidade Antonio Ruíz de Montoya, de Lima no Peru. Uma das marcas do professor Hélio em sua trajetória tem sido ouvir e cuidar das singularidades postas à margem, internadas, se não em hospitais psiquiátricos, em diagnósticos, tipologias, medicações psiquiátricas que anulam ao invés de revelar as singularidades de cada um. Em seguida, ouvimos o relato de três alunos do professor Hélio, formados pela Casa da Filosofia Clínica. F

A escuta compreensiva na clínica filosófica*

  Ao iniciar essa análise faço um convite a você, caro leitor. Partirmos da noção de singularidade como pressuposto para que possamos, juntos, seguir no progresso deste estudo. De maneira breve a singularidade, na Filosofia Clínica, é um conjunto de fenômenos que compõem o partilhante e sua medida de relação e interseção com o mundo interno, externo e, também, com outras pessoas. O esperado é que o Filósofo Clínico mantenha- se despido de seu juízo e valor pessoal. Por sua vez, essa atitude propicia um ambiente onde aquele que compartilha sua história pode ser conhecido através de seus próprios critérios. A escuta realizada na prática terapêutica prevê a literalidade, ou seja, aquilo que é dito deve ser compreendido e não interpretado. O ser humano singular é o mar por onde o filósofo clínico navega. É dentro das condições apresentadas por este mar que se manifesta a Filosofia Clínica. Articulando os elementos citados acima cria-se uma atmosfera que protege o partilhante. Constit

Primeiro Encontro Online Epoché*

  Bom dia! Hoje 19/01/2023 (quinta-feira) a partir das 19hs, teremos um evento inédito, promovido pelo Instituto Epoché , com apoio da Casa da Filosofia Clínica , sob a coordenação do Prof. Dr. Fernando Fontoura.  Trata-se do Primeiro Encontro Online Epoché . O evento será aberto e gratuito . Quem quiser e puder, tem a possibilidade de uma doação espontânea para o projeto "Altruísmo Eficaz". Os dados para participar do encontro pela plataforma Zoom estão no flyer acima. Basta acessar o site e colocar o ID. Caso peça a senha, também está compartilhada no flyer. Essa é mais uma oportunidade de se ouvir uma fonte de matéria-prima - confiável - aos estudos e pesquisas, pois teremos a participação de alguns filósofos e filósofas clínicas com efetiva atuação em consultório há vários anos com a abordagem precursora da Filosofia Clínica. Bem-vindos! Bem-vindas! Dra Márcia Ribeiro Baroni Diretora da Casa da Filosofia Clínica www.casadafilosofiaclinica.blogspot.com

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