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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) uma suposta doença cerebral só se converte em doença cerebral autêntica quando comprovada por dados histopatológicos e patofisiológicos apropriados e sistematicamente repetíveis; e, terceiro, em que as pessoas com ou sem doenças cerebrais só são 'pacientes' na medida em que consentem em assumir esse papel, visto que, como indivíduos numa sociedade livre, elas têm um direito fundamental de rejeitar o diagnóstico médico, a hospitalização e o tratamento"  

"A esquizofrenia é definida de modo tão vago que, na realidade, trata-se de um termo frequentemente aplicado a quase toda e qualquer espécie de comportamento reprovado pelo locutor"

"Intelectualmente, a psiquiatria é um mal - porque interpreta a discordância como doença; e é moralmente um mal - porque justifica o confinamento como cura"

"Os freudianos descobriram a lambuzada de fezes na arte; os lainguianos descobriram arte na lambuzada de tintas. Ou, o que vem a dar no mesmo, os psiquiatras procuram sintomas de loucura, e os encontram nas pinturas de um gênio como Vincent Van Gogh (...)"

"Quando os guardiães de manicômios chamam de 'pacientes' seus prisioneiros e de 'doenças' o (mau) comportamento de seus prisioneiros, e quando se intitulam 'doutores' e chamam suas punições de 'tratamentos' eles estão, com efeito, usando conosco (e possivelmente com eles mesmos) o mesmo ardil a que Ulisses recorreu contra os Cíclopes"

"(...) de um modo geral, os chamados loucos - as pessoas a quem hoje se dá o nome de esquizofrênicos e psicóticos - são indivíduos muito menos perturbados do que perturbadores (...)"

"(...) patologizar o comportamento (...)"

"Como Bleuler tampouco descobriu qualquer doença nova nem desenvolveu qualquer novo tratamento, sua fama assenta, em minha opinião, no fato de ter inventado uma nova doença - e, através dela, uma nova justificativa para se considerar o psiquiatra um médico, o esquizofrênico um paciente e a prisão em que aquele confina este, um hospital"

"(...) Depois do iluminismo, o papel do convento foi parcialmente substituído pelo hospício ou hospital psiquiátrico. (...) Uma mulher podia agora escolher não só entre ser solteirona, esposa ou freira - mas também ser louca"

"A hospitalização psiquiátrica tem a vantagem de lograr o mesmo resultado que o homicídio, mas sem deixar cadáver (...)"

"A loucura, conforme sugeri há algum tempo, é fabricada, num certo sentido, por alienistas. Em outras palavras, a psiquiatria produz a esquizofrenia ou, mais precisamente, os psiquiatras criam esquizofrênicos (...)"

*Thomas S. Szasz in "Esquizofrenia - O símbolo sagrado da psiquiatria". Ed. Zahar. RJ. 1978.

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