Querido leitor, que você esteja bem.
Hoje vamos refletir sobre um texto oportuno de Rubem Alves: “Saber Ouvir”.
De todos os sentidos, o
mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a
audição. Disse o escritor sagrado: “No princípio era o Verbo”. Eu acrescento:
“Antes do Verbo era o silêncio.” É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso
ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a
verdade do outro se eu parar de tagarelar.
Diz Rubem Alves: Quem
fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles
falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio.
Não nos sentimos em casa
no silêncio. Quando a conversa para, por não haver o que dizer, tratamos logo
de falar qualquer coisa, para por um fim no silêncio. Vez por outra tenho
vontade de escrever um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. Ali estamos,
nós dois, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um
do outro? Ou olhamos para o chão? Nada temos a falar. Esse silêncio é como se
fosse uma ofensa. Aí falamos sobre o tempo. Mas nós dois bem sabemos que se
trata de uma farsa para preencher o tempo até que o elevador pare.
O aprendizado do ouvir
não se encontra em nossos currículos. Para Rubem Alves, a prática educativa
tradicional se inicia com a palavra do professor. A menininha, Andréa, voltava
do seu primeiro dia na creche. “Como é a professora?”, sua mãe lhe perguntou.
Ao que ela respondeu: “Ela grita...” Não bastava que a professora falasse. Ela
gritava. Não me lembro de que minha primeira professora, Da. Clotilde, tivesse
jamais gritado. Mas me lembro dos gritos esganiçados que vinham da sala ao
lado. Um único grito enche o espaço de medo. Na escola a violência.
Talvez seja essa a razão
porque há tantos cursos de oratória, procurados por políticos e executivos, mas
não haja cursos de escutatória. Muita gente quer falar. Poucos querem ouvir.
A maioria quer ser
escutada. Talvez, pondera Rubem Alves, antes de se iniciarem as atividades de
ensino e aprendizagem, os professores se dedicassem por semanas, de repente
meses, a simplesmente ouvir as crianças. No silêncio das crianças há um
programa de vida: sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência. A inteligência
é a ferramenta que o corpo usa para transformar os sonhos em realidade. É
preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche.
Para finalizar, Rubem Alves sugere que, ao lado da sua justa preocupação com o falar claro, os professores tenham também uma justa preocupação com o escutar claro. Amamos não a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar...
É assim como o mundo do
ouvir se manifesta a Rubem Alves. E você, como ouve o silêncio?
*Beto Colombo
Empresário, filósofo
clínico, escritor, coordenador da filosofia clínica na UNESC.
Criciúma/SC
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