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Anotações e Reflexões de um Filósofo Clínico*

Qual o motivo de alguém procurar um filósofo clínico?

O que leva uma pessoa a procurar os préstimos de um filósofo clínico? Não há uma questão específica. São casos que variam de acordo com cada pessoa. Afinal, falamos em singularidade. Mesmo que surjam queixas similares, com sintomas com diversos aspectos em comum, isso não torna o trabalho do terapeuta mais fácil.

Diferente das investigações das ciências empíricas que encontram resultados padronizados por excluir variáveis e controlar ambientes, o trabalho do filósofo clínico leva em conta as variáveis e as circunstâncias particulares de cada partilhante.

Por isso, a identificação dos aspectos a serem trabalhados e os procedimentos clínicos são únicos. A experiência do filósofo não serve para orientar padrões; ela permite a ampliação da capacidade de lidar com cada caso apresentado no consultório. O partilhante é um todo estrutural, um universo de complexidades incomparável a ser compreendido e auxiliado.

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Quais são as vizinhanças existenciais que têm a ver com você?

Alguns de nós precisam viver em embates constantes. Outros necessitam de parceiros para conquistas. Há os que buscam acolhimento e amor para que possam se sentir apoiados em sua jornada. Quem não vive bem com brigas, pode sofrer com embates e não ir a lugar algum. Quem não é de trabalhar em grupo, pode ver nas parcerias um atraso para seus projetos. Quem não se identifica com vínculos emocionais, pode não ver nesses aspectos algo que faça bem.

Enfim, encontrar o tipo de vizinhança existencial de acordo com quem somos e o que buscamos pode ser determinante para continuarmos nossa vida. Os que apresentei são apenas exemplos elucidativos. As possibilidades variam tanto quantas são as pessoas.

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Como assim, o filósofo clínico não sabe?

Se você chegasse na primeira sessão de um filósofo clínico e, após dizer as coisas que afligem sua vida, perguntasse o que fazer, ele utilizaria alguma expressão ou frase que, no fundo, significa: Não sei!

Pois ele não vai comparar seu caso com os semelhantes atendidos anteriormente a fim de pensar uma solução parecida. Ele não vai olhar em um manual, caminhos para determinados casos e, muito menos, para formular diagnósticos.

Ele vai pedir que você conte sua história de vida. Nela, ele vai fazer todo o procedimento metrológico de compreensão do outro a partir de seu contexto, estrutura interna e modo de agir. Só assim o filósofo poderá ter condições de fazer um bom trabalho.

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo 

Filósofo. Escritor. Professor Titular de Filosofia Clínica em Porto Alegre/RS e Chapecó/SC

Teresópolis/RJ

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