Se você teve a sorte de
vir a este mundo, continua vivo e tem condições de pensar, em algum momento vai
procurar respostas sobre as grandes perguntas da vida. Como tudo começou, como
vai terminar, qual a razão de tanto sofrimento, o que acontece após a morte...
E basicamente vai ter dois caminhos para escolher.
Segundo a Ciência, houve
uma grande explosão no espaço em que um átomo primordial se expandiu. Teoria do
Big Bang. Como resultado da explosão, uma esfera incandescente se resfriou,
originando o universo. Reações químicas foram se desencadeando ao acaso
formando micro organismos que evoluíram até chegar ao que conhecemos hoje como
“Homem”.
Segundo a Bíblia, Deus
criou o céu e a terra. Durante seis dias foi criando o ar, a água, as árvores,
animais e, por último, criou o “Homem”. No sétimo dia descansou. O que Deus fez
em seis dias, segundo o Gênesis, a natureza parece ter levado quinze bilhões de
anos.
A Bíblia conta 5781 anos
desde a criação do mundo, a Ciência estima a idade do mundo em cerca de 15
bilhões de anos. É muita divergência. Alguns tentaram unificar o sagrado e o
profano, explicando que talvez Deus tenha criado o mundo e depois o abandonou a
própria sorte, outros concluíram que a discrepância era enorme e optaram entre
Deus e a Ciência, mas a maioria da população pensante convive entre a dúvida e
a indecisão.
A questão aqui nem é
sobre escolher e acreditar que tudo decorreu do acaso de uma explosão
cosmológica ou de uma criação Divina. A proposta é refletir sobre as
repercussões filosóficas da escolha. Na primeira hipótese, seria como atirarmos
um quebra cabeças de cinco mil peças do décimo andar de um prédio e quando este
caísse ao solo, estivesse completa e perfeitamente ajustado. Mais que isso,
permaneceria assim ordenado apesar de todas forças contrárias da natureza ou
movimentos aleatórios os mais diversos.
Convenhamos, você pode
tentar um milhão de vezes e não conseguirá montar o quebra cabeças atirando-o
ao acaso. Até hoje cientistas tentam reproduzir a explosão do átomo original sem
sucesso. Não sou especialista no assunto, sequer tenho a intenção de direcionar
o leitor em alguma das escolhas, porém a teoria do acaso carrega na mochila a
proposta de que Deus não existe, não houve e nem haverá um planejamento na
evolução do mundo, estamos sujeitos ao caos, cada um por si nesta jornada
chamada vida.
No entanto, existe outra
opção de raciocínio, ou de fé, onde podemos acreditar na liturgia bíblica de
que exista um propósito para a criação, Deus é o criador e legislador, está no
comando de tudo e não estamos sós, podemos contar com ele nos piores momentos,
mesmo que nossa compreensão quanto a seus desígnios seja limitada.
Muitos alegam que a
teoria cósmica não ajuda em nada na preservação da ordem social e que é
fundamental acreditar em um Deus que forneça ao “Homem” leis muito concretas
para evitar o caos e o desaparecimento da moralidade. Outros rebatem dizendo
que não é preciso frequentar nenhum templo para viver uma vida digna com ética,
compaixão e respeito.
Seja qual for sua opinião,
o fato é que o “Homem” é o único ser criado sobre a terra que se preocupa com o
futuro e tenta descobrir aquilo que está por vir. Cabe aqui uma questão de
lógica: se existe uma ordem e planejamento para o futuro, é razoável que alguém
queira tentar antever o que foi programado, mas se não existem projetos e a
norma for o caos, o acaso, a aleatoriedade, o futuro não pode ser previsível.
Assim, se você crê em
Deus e em seus planos, poderia até almejar adivinhar o futuro, só que o Criador
colocou uma cláusula pétrea no regulamento: o futuro não está disponível e será
omitido para que o “Homem” possa exercer seu livre arbítrio. Já pensou se você
pudesse ter um spoiler de seu futuro daqui a dez anos? Talvez desistisse de
viver hoje, nesta temporada. Melhor não saber. E qual o sentido de Deus dar
poderes para alguém ler e revelar o futuro se sua regra é omiti-lo? Seria uma
contradição.
Agora, se você é do outro
time, o do caos cosmológico, também não conseguirá saber o futuro, só que não
por ordem Divina, mas por uma regra de lógica, portanto viva o presente e
esqueça o amanhã.
Aproveitando-se da
ingenuidade, ignorância e curiosidade do “Homem”, adivinhos, ocultistas,
feiticeiros, astrólogos e outros bruxos, cumprem papel importante de
clarividência na sociedade. São pessoas sensitivas que conseguem através de
técnicas esotéricas misteriosas e da leitura da ansiedade de seus clientes,
conjecturar um possível futuro e revelar informações secretas aos que lhes
consultam. Nem sempre acertam, mas até mesmo vacinas não tem eficácia de cem
por cento.
E os profetas da Bíblia
sagrada? Bem, estes sim acertavam a totalidade de suas profecias e possuíam
permissão para contar algumas coisas, mas já não os encontramos mais. A
espiritualidade do “Homem” atingiu um nível muito baixo, incapaz de alcançar a
profecia. Para alguém se tornar um
profeta, precisava negar a si mesmo e render-se inteiramente a Deus. Profecia é
a voz de Deus na boca do profeta, que atua como um receptor, não como locutor.
Profeta é o ator, nunca o autor. O instrumento, não a musica. A profecia vem ao
“Homem”, a adivinhação o “Homem” a busca.
Os profetas não expunham
coisas superficiais ou levianas, sequer abriam o jogo contando detalhes das
predições. Quando Deus julgava
importante direcionar o povo para que as pessoas tivessem a chance de modificar
seu futuro, enviava um profeta com um propsito
claro e específico. Desta forma, por vezes um acontecimento ruim
previsto não acontecia, e não podia ser considerado uma falha, visto que era
justamente esta a missão do profeta, dar o recado para prevenir um futuro
revés. Quando a previsão era sobre algo de bom, as profecias nunca mentiam.
Final do ano passado
fraturei um dente e tive que realizar um implante. Como profilaxia de infecção,
fui obrigado a tomar antibióticos por dez dias. Neste período, uma aranha
venenosa me picou e provocou uma enorme necrose de pele no local da mordida.
Por sorte estava protegido com os antibióticos. Certamente a picada ativou meu
sistema imunológico e criou anticorpos que talvez possam auxiliar a me defender
de um possível contato com o coronavirus. Se isso tivesse acontecido na época
dos profetas, talvez eles só me alertassem para tomar antibióticos, sem uma
palavra a mais sobre os motivos do aviso.
Quando um profeta dizia
para alguém varrer a calçada, talvez fosse para descobrir um tesouro, encontrar
uma pessoa, fazer exercícios, servir de exemplo para um vizinho ou espantar uma
aranha que iria picar seu filho. O profeta sabia como, quando e onde dar o
recado sem revelar o futuro ou quebrar a regra. Por ora estes homens estão
sumidos, não podemos contar com eles.
Acreditando no Cosmos, em
Deus, nos dois ou em nenhum, o fato é que o conhecimento do futuro não está em
nossas mãos, mas nem tudo está perdido. Nossa tarefa não é prever o futuro, mas
podemos fazer por merecê-lo, podemos permiti-lo acontecer, podemos nos preparar
para suas surpresas e finalmente, podemos também criá-lo, seja com a ajuda de
Deus, seja resistindo e superando o caos.
Afinal, você sobrevive a tudo ou sobretudo, vive?
Um brinde ao inesperado e
as diversas formas de seguir em frente.
*Dr. Ildo Meyer
Médico. Escritor. Mágico.
Filósofo Clínico. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Casa da Filosofia Clínica em 2019.
Porto Alegre/RS
Comentários
Postar um comentário