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Fenomenologia na Filosofia Clínica ***

Algumas perspectivas psicológicas se denominam ou têm no nome a palavra fenomenologia ou fenomenológica.

No vídeo sobre psicologia fenomenológica com prof. Tommy Goto (https://www.youtube.com/watch?v=_RR9dHtF3e4&t=196s ) assumindo que a psicologia fenomenológica tem Edmund Husserl como fundamento da fenomenologia, pergunta-se onde está a fenomenologia nas abordagens psicológicas, pois “[..] se parte de pressupostos não pode ser o método fenomenológico, porque o método fenomenológico, de cara, já tem que eliminar os pressupostos. Então, se já tem uma prática psicológica que já considera esse pressuposto, então não pode ser método fenomenológico. Afinal de contas, então, o que é a psicologia fenomenológica”?

O problema levantado por este professor de psicologia aparece porque a psicologia quis colocar a fenomenologia enquanto método terapêutico ou inserida dentro da metodologia terapêutica já estabelecida pela psicologia. A psicologia tenta usar da fenomenologia como método ou apoio metodológico ao já preexistente pressuposto psicológico.

E assim, ambos se excluem, pois o método de investigação fenomenológico husserliano elimina, de antemão, qualquer pressuposto ou julgamento de valor, normativo ou moral para sua investigação. E a psicologia já traz em sua metodologia pressupostos de valor, normativos ou morais. Por mais “aberta” que seja a linha psicológica, ela está apoiada, nem que seja minimamente, em algum pressuposto de valor ou normativo ou moral. E é justamente isso que a fenomenologia husserliana quer evitar.

A filosofia clínica resolveu esse problema colocando a fenomenologia não na metodologia, mas na postura do terapeuta. Portanto, a fenomenologia na filosofia clínica, é anterior à investigação metodológica e por isso não influencia na investigação. A fenomenologia apoia a postura terapêutica do terapeuta para que ele faça sua redução fenomenológica dos seus juízos de valor, morais ou normativos, e, assim, não interfira na aparição do fenômeno. É ele, o terapeuta, que faz a epoché, em função de não interferir ou contaminar aquilo que aparece do outro. Deixando, assim, espaço para a criação e revelação da singularidade.

É um erro chamar a metodologia terapêutica da filosofia clínica de fenomenológica, pois a fenomenologia não faz parte do método. O método é composto de três eixos, sendo exames categoriais, estrutura de pensamento e submodos. No método não está inserido a fenomenologia. Ela está anterior ao método, na maneira ou postura do terapeuta de “encarar” o método, é onde está a fenomenologia, a hermenêutica da compreensão (Gadamer) e a analítica da linguagem (Wittgeinstein).

A filosofia clínica, metodologicamente, pode ser dita estruturalista, não fenomenológica.

*Prof Dr. Fernando Fontoura

Filósofo. Escritor. Palestrante. Filósofo Clínico.

Porto Alegre/RS

**Texto originalmente publicado na edição de inverno/2022 da Revista da Casa da Filosofia Clínica.

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