Ao iniciar essa análise faço um convite a você, caro leitor. Partirmos da noção de singularidade como pressuposto para que possamos, juntos, seguir no progresso deste estudo.
De maneira breve a singularidade,
na Filosofia Clínica, é um conjunto de fenômenos que compõem o partilhante e
sua medida de relação e interseção com o mundo interno, externo e, também, com
outras pessoas.
O esperado é que o Filósofo
Clínico mantenha- se despido de seu juízo e valor pessoal. Por sua vez, essa
atitude propicia um ambiente onde aquele que compartilha sua história pode ser
conhecido através de seus próprios critérios. A escuta realizada na prática terapêutica
prevê a literalidade, ou seja, aquilo que é dito deve ser compreendido e não
interpretado. O ser humano singular é o mar por onde o filósofo clínico navega.
É dentro das condições apresentadas por este mar que se manifesta a Filosofia
Clínica.
Articulando os elementos citados
acima cria-se uma atmosfera que protege o partilhante. Constitui-se o impeditivo
do acolhimento através de determinados grupos ou conceitos provenientes de
outras áreas do saber, como no caso da medicina, que, por sua vez, adentram a linguagem
social.
Mais do que isso, é importante saber
de dentro da visão daquele a quem escutamos qual horizonte de significados são
atribuídos a tais conceitos. Institui-se a preservação ao partilhante em
relação ao próprio terapeuta, pois ele deve estar afastado de si mesmo. Sua
postura se assemelha a um livro em branco, onde a história que o preencherá
está no escutado.
A terapia na Filosofia Clínica é
no tempo e dentro dos limites demarcados pelo partilhante. Fazendo com que, por
vezes, o ambiente terapêutico torne-se um lugar confortável para se falar de conteúdos
que podem não ser, necessariamente, agradáveis. A importância do conteúdo
trazido aos encontros se dá no contexto em que é ele o fio condutor, quem
transporta o método e para entender aquele que se entrega na fala são
necessárias duas fases de tradução: na primeira o terapeuta ouve o conteúdo e o
traduz aplicando a metodologia e na segunda o que foi escutado é traduzido de volta
a linguagem do partilhante e devolvido para que ele diga se está correto ou
não.
O respeito a essa forma de
cuidado no amparo aos fenômenos humanos é fundamental para estabelecer a
interseção entre terapeuta e partilhante, para que ele se sinta à vontade e
para que a terapia aconteça dentro de seus moldes.
*Paulo Alves Filho
Filósofo. Filósofo Clínico.
Rio de Janeiro/RJ
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