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Qual é a especialidade do filósofo clínico?*

 

O filósofo clínico é especialista em singularidade. Toda pessoa que o procura é um caso inédito a ser acompanhado do zero.

Ainda que acompanhe pessoas em alguma instituição, grupo ou região, as aparentes características em comum não direcionam o trabalho do terapeuta.

Atendi, por exemplo, a pessoas de uma Igreja Católica em uma pequena cidade do interior do Rio de Janeiro.

Embora os dogmas, a tradição e o objeto da fé fossem supostamente os mesmos, o modo de vivenciar a religião era único em cada pessoa.

Algumas vivenciaram mais pela razão, outras, pelos valores, havia aquelas para as quais tocar as emoções era imprescindível etc.

Além disso, se houvesse duas queixas iniciais para ter procurado a clínica parecidas, o que era de fato trabalhado e como as intervenções ocorriam jamais se repetiam.

Nem mesmo os trabalhos em grupo podem fugir do pressuposto da singularidade, sob o risco de deixar de ser filosofia clínica.

Considerar a singularidade em todo momento é desafiador. As estatísticas, as respostas, universais e as listas de diagnósticos podem ser mais sedutoras.

Mas, jamais abriria mão de ser desafiado a começar do zero a cada novo partilhante que recebo.

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo

Filósofo. Filósofo Clínico. Escritor. Professor da Formação em Filosofia Clínica. Autor de: “Introdução à Filosofia Clínica”. Ed. Vozes/Petrópolis/RJ. 2021.  

Teresópolis/RJ

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