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Críticas*

“Há apenas uma maneira de não receber críticas: não faça nada, não diga nada, não seja nada”.  

Esta é uma frase que ouvi há muito tempo e que está na internet com diferentes nomes de autores, então prefiro não colocar nenhum.

Mas o que interessa aqui para mim é que isso se torna mais verdadeiro hoje nos dias das mídias sociais e do enxame de pessoas com “coisas a dizer” na internet. A gama de informações aumentou vertiginosamente, mas a capacidade de se colocar aberto a críticas ou ao diálogo não acompanhou esse crescimento.

Na era da subjetivação da personalidade, do acesso e exposição pessoal de cada vírgula pensada, a gama de opiniões e “verdades” assola nosso entorno em qualquer lugar que nos conectamos. Hoje não é somente as grandes mídias de televisão, jornal ou rádio que dão opinião e contam “verdades” ou fatos, mas qualquer um da rua, que cruzamos no dia a dia.

As comunidades “tribais” cresceram vertiginosamente o que favoreceu aparecerem do ostracismo ou da margem a que se encontravam muitos desses grupos sociais. A capacidade de exigir legitimação social, política ou comunitária cresceu e a multiplicidade de modos de ser, pensar e sentir o mundo a si mesmo ampliou de forma pletórica.

Mas e o diálogo? Aumentou as formas de comunicação dialógica ou dialética? Bem, não. A capacidade de expressividade não está diretamente associada a um modo de ser dialógico ou dialético. Hoje, muitas e muitas pessoas opinam, falam “verdades”, mas não estão abertas a críticas ou ao diálogo. Estabelecem seu grupo de “seguidores” e o diálogo se estabelece ali, naquele horizonte, com um viés de confirmação e expectativas como guias do que entra ou não entra ali, e do que se mantém ou não.

Reclama-se cada vez mais hoje o direito à expressividade, à liberdade de expressão e menos se coloca essa expressividade enquanto uma dialética social ampla ou uma forma de exercer um diálogo com os diferentes, com os opostos ou contrários. Muitos querem falar, opinar, dizer, ser, mas não querem críticas, oposições ou ter que se explicar melhor. A frase que comecei este texto, atualmente, está desatualizada. Pois é possível hoje fazer, dizer e ser e ao mesmo tempo não dar espaço para críticas, opiniões diferentes e diálogo aberto.

Parece uma contradição social que justo nos dias atuais onde a multiplicidade e a diversidade são a tônica social que o diálogo menos se estabeleça e menos importância se dê a ele. O livro de Michel Maffesoli, O Tempo das Tribos merece uma leitura um pouco mais atenta hoje. Maior quantidade de tribos não quer dizer mais abertura ao diálogo e maior aceitação de críticas. O que me aprece uma pena, pois no meio de tanta opinião massificada de tudo hoje em dia, quem estabeleceria um diálogo aberto poderia se destacar no meio da massa de “verdades” nas mídias.

*Prof. Dr. Fernando Fontoura

Filósofo. Mestre e Doutor em Filosofia. Escritor. Filósofo Clínico. Em 2019, por indicação do conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”, pelos relevantes serviços prestados ao novo paradigma, seja por seus atendimentos, aulas, pesquisas, publicações...

 Málaga/Espanha

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