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"A voz e o verbo" (duelo)*

Caso não mais... Recolha os destroços no vão do tempo num longo brado Caso já há muito a tarde evapore das poças e hiatos de pedra a gramínea de zinco acolhe uma rosa e o tempo despenca do azul de um dia lindo. Caso brote ao ser fitada a flor de cerejeira minhas mãos, ora asas, retocam seu róseo suave lembrando do conto uma outra vez... Caso viver exija poema, concha e grude era em seu colo que a paz me despertava como uma artista entende que a infância são sons, um brinquedo vermelho translúcido insiste nos vãos E sua poesia invoca velhos recomeços Todavia Caso tenha de ser soletude que a pétala cole e se expanda prendendo o coração aqui bem perto e que algo precipite ou voe: desejos, chãos, vazios... E a realidade se farte do instante, tornando a ser superfície sob velhas teias de água e ferro Caso seja perene o porvir que tudo se refaça ao último crepúsculo. E algo se retifique além das luzes do ainda recente castelo que

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Suponho que haja tantos credos, tantas religiões, quantos são os poetas" "Volto àquela tarde sul-americana já antiga e vejo meu pai. E o vejo nesse momento; e ouço sua voz dizendo palavras que eu não compreendia, e no entanto sentia" "Quando penso em amigos meus tão caros como Dom Quixote, o Sr. Pickwick, o Sr. Sherlock Holmes, o Dr. Watson, Huckleberry Finn, Peer Gynt, etc. (não estou certo se tenho muito mais amigos)" "Há versos, é claro, que são belos e sem sentido. Porém ainda assim têm um sentido - não para a razão, mas para a imaginação" "Suspeitei muitas vezes que o sentido é, na verdade, algo acrescentado ao verso. Tenho plena convicção de que sentimos a beleza de um poema antes mesmo de começarmos a pensar num sentido"  "(...) imagino que uma nação desenvolve as palavras de que necessita" "(...) uma língua não é, como somos levados a supor pelo dicionário, a invenção de acadêmicos ou

Descrituras*

“(...) Deram-me esta bela gravata... como um presente de desaniversário! (...) o que é um presente de desaniversário ? – Um presente oferecido quando não é seu aniversário, naturalmente.”                                                                                               Lewis Carroll Uma redação se faz página cotidiana na vida de qualquer pessoa, quer ela entenda ou não. Algo que restaria esquecido, não fora a ousadia semiótica a tentar decifrar essa trama de códigos imperfeitos. Por esse esboço a lógica descritura se incompleta para prosseguir inconclusa, aberta, viva. Nem sempre se escolhe escrever, muitas vezes são as palavras a escolher você para dizer suas coisas. Conteúdos de rascunho, ilação, percepção extemporânea de ideias, reflexão. Aproximações com a zona interdita das margens de cada um. O tempo aprecia conceder eficácia de tradução aos traços persistentes. O sujeito prisioneiro dessa armadilha conceitual experimenta liberdades nem sempre possí

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O mundo sensível é mais antigo que o universo do pensamento. A criança percebe antes de pensar. Aprendemos a manejar a linguagem muito antes de conhecer as leis que a regem" "O presente se alimenta do ausente, bojo em que dormem as possibilidades" "Os olhos desaprenderam a ver além do vazio o que nunca perceberam" "Crises sucessivas, que irrompem de tempos em tempos desde o gótico medieval abalam profundamente o alicerce das certezas" "A linguagem poética não é perfeita. Origina-se da imperfeição, da fratura, d corte (...)" "O significado é produto da arquitetura do poema. Grafé liberta as palavras das acepções às quais o sistema as agrilhoou, tornando-as originalmente significativas em novo espaço" "Todos os achados tendem a transformar-se em convenções. Enrijecem, petrificam-se. A liberdade deve ser continuamente proclamada. É um processo, não é um estado" "A relação grafia-

Cadernos da Primavera II*

“Aquele que escolhe vê-se livre em sua escolha. Ele pode até mesmo arrepender-se dela e ele demonstra de todas as maneiras que ele assume sobre os ombros os seus próprios atos.”                                                                          Hans-Georg Gadamer A razão ocidental de tradição aristotélica e kantiana teve um grande revés ao longo da modernidade no século XX e no que se inicia, no século XXI; e, hoje, demonstra sua força contra aquilo que ela mesmo criou e cuidou com zelo quase moral, a saber, endureceu sua lógica em nome da unidade, destruiu os argumentos que se voltavam contra o silogismo. O que vemos já um bom tempo desde o tiro certeiro no método e na razão é o raciocínio anapodítico como hábito no cotidiano beirando a legitimar a razão de “cachorro louco”, já dizia um amigo meu analítico, um ex-amigo por conta da razão absoluta dele. Como a razão nunca teve um dono, como ela nunca foi uma casa que se entra, se mobília, se dá nome às coisas co

Esconderijos do tempo*

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro eles alçam voo como de um alçapão. Eles não tem pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhoso espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... *Mário Quintana in Rua dos cataventos e outros poemas. Ed. L&PM Pocket. Porto Alegre/RS.

Flores e Borboletas*

Apesar das sombras Para além das dores Com chuvas e tempestades Acendem a alma Transformam magicamente Oque sinto e vejo Pura representação Minha, sua, nossa.... Flores e borboletas Nascem e morrem Nem por isto deixam De ser belas Cumprem sua missão Encantam a vida Dançam no silêncio Em movimento celebram No tempo de florecer Florescem No tempo voar Borboleteiam Fadas com bastão A tocar estrelas No chão da terra A desenhar sonhos Essência sublime Filhas de Afrodite Perfume imprimem Na vastidão de mim Promovem inspiração Na arte poética do coração Razão solta no espaço Basta parar e sentir *Dra Rosângela Rossi rosangelarossi.com/blog Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Livre Pensadora. Juiz de Fora/MG

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